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terça-feira, 6 de abril de 2010

Nossa montagem de Esperando Godot é um estudo sobre o LIMITE.

LIMITE: demarcar; moderar; fixar; determinar; contentar-se; restringir-se; não passar além de.

A gente procura uma linha segura, um sentido pra se seguir, um ponto de fuga que a gente consiga correr ao encontro quando há muita incerteza, né? E a gente até nomeia, porque o nome separa, define, categoriza, deixa as coisas certinhas, na medida em que nosso pensamento, ou razão, ou sentimento consiga acompanhar de forma a estar tranquilo e estável em tudo aquilo.

E quando o limite se esgarça, não traz conforto e nem as próprias fronteiras características dele? E quando tudo é incerto, a ponto da gente querer se apegar numa idéia porque alguém te fez acreditar nela, e no segundo seguinte esse mesmo alguém faz desacreditar, volta tudo, refaz, religa, recoloca as coisas nos lugares, que antes nem existiam...?

O limite, na minha percepção de ENSAIO.HAMLET está além da cena. Não sei ao certo até onde o personagem vive ali, até que medida o ator pode/tem que se propor a ir. Ser ator: agora, até onde eu preciso me arriscar? Porque é preciso avançar o campo do imaginário, da ficção, da pura criação; há necessidade de se vasculhar mais e mais e mais e expor e ser e viver nua e cruamente. A verdade se faz mais profunda em si mesma, o risco de se colocar é definitivamente perigoso... É personagem e ator. Sem limites de exploração e desbravamento do território interno/externo; jogo sem fim consigo mesmo, com o outro, com a cena; embates profundos, confusões, abismos, tropeços, dúvidas, idas e vindas...

O que delimita a encenação de ENSAIO.HAMLET? O que te põe num lugar seguro? O que te faz crer na calma prevista do que vem a seguir?

"Não é monstruoso que essa ator aí, por uma fábula, por uma paixão fingida, possa forçar sua alma a sentir o que ele quer? De tal forma que seu rosto empalidece, tem lágrimas nos olhos, angústia no semblante, a voz trêmula, que toda a sua aparência se ajuste ao que ele pretende, e tudo isso por nada?"

Então. O que buscamos? O que, agora, estamos fadados a ser?

E Godot? Há limites?