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domingo, 16 de dezembro de 2012

Do acontecimento

É como se hoje eu tivesse saído de casa e, no entanto, ficasse com a cabeça em processo. Pensando. Tramando. Voltando. Perguntando-se e em plena auscultação do filho.
Falo de MIRANDA e sobre o saldo deste ano. Somos uma companhia que preza pela vitalidade do encontro. Quer dizer: se ele for de mentira então não terá eco em nós; se virar mentira então a gente se DESFIBRILA.

DESFIBRILATOR é um tipo específico de ator que é capaz de chocar os limites ressequidos do hábito com o calor de seu próprio corpo.

MIRANDA este ano nos fez descobrir a performance enquanto ficção. É como se terminasse o ano e tivessemos a certeza de que qualquer ficção mentira ou invenção pode ser sincera, desde que expressada por um corpo que se disponha à sinceridade avassaladora do encontro.
De novo e mais uma vez falamos da diferença.
Como ser aquilo diferente do que eu sou?
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

SINFONIA SONHO DO TEATRO INOMINÁVEL ENCERRA O ANO CUMPRINDO APRESENTAÇÕES NO INSTITUTO DO ATOR, NA LAPA


A companhia carioca Teatro Inominável encerra o ano trazendo novamente à cena o seu quarto espetáculo, dando continuidade ao caminho iniciado no Festival de Curitiba, em abril deste ano. Com SINFONIA SONHO, o Inominável apresenta a história de Kevin, uma criança de nove anos que de súbito se torna alvo de um desejo: o de se tornar música, por conta da peça teatral que começa a ensaiar em sua escola. Inspirado no massacre de crianças ocorrido em abril de 2011 numa escola municipal do Rio de Janeiro, o espetáculo visa trazer à tona um olhar mais atento e responsável sobre a infância e, por extensão, também sobre o futuro.


Nas palavras do diretor e dramaturgo, Diogo Liberano, o objetivo primordial de SINFONIA SONHO foi o de tentar destituir a poesia da ordem do impossível. O olhar sobre a realidade social do Rio de Janeiro nos provou que era do nosso próprio dia-a-dia que o absurdo nascia, nos fazendo alvo de situações consideradas impossíveis, como o massacre de crianças em Realengo. Ora, sendo assim, por que também não fazer a poesia nascer desse mesmo cotidiano?

Após estreia no Festival de Curitiba, em abril deste ano, o espetáculo cumpriu 6 apresentações no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, a convite dos diretores artísticos Daniela Amorim e Joelson Gusson. Em seguida, percorreu mais de 10 festivais por todo o Brasil, sendo indicado ao 2º Prêmio Questão de Crítica na categoria Direção. Em outubro e novembro, a convite dos diretores artísticos do Teatro Glaucio Gill, Daniele Avila e Felipe Vidal, SINFONIA SONHO cumpriu temporada de 14 apresentações. E agora, encerrando o ano, realiza mais 6 apresentações, durante duas semanas, no Instituto do Ator, na Lapa.

Ao tratar de temas como infância e família, o espetáculo atinge um vasto público, colocando em cena o encontro de duas famílias vizinhas incapazes de lidar com suas respectivas crianças. SINFONIA SONHO é um olhar sobre a nossa realidade e também uma denúncia de sua perversão. Vivemos numa época em que valores como família e educação se encontram completamente abalados, abrindo espaço para uma série de perversões, como aquela que assegura a constante infantilização de adultos e a precoce “adultização” de crianças, ausentando a responsabilidade de adultos, educadores e pais sobre as nossas crianças, conclui Liberano.


O espetáculo, apresentado como encenação de conclusão da graduação do diretor Diogo Liberano na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vêm obtendo ótima repercussão de crítica e público. Nas palavras do crítico Lionel Fischer: acredito ser impossível o espectador não se envolver totalmente com uma montagem que, tendo a motivá-la um texto belíssimo, exibe deslumbrante teatralidade.

Sinopse
SINFONIA SONHO de Diogo Liberano. Criada a partir do massacre de crianças na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, a peça é uma tragédia que lança luz sobre a infância e sobre o futuro. Em cena, uma criança de nove anos, Kevin (Márcio Machado), é tomada pelo desejo de se tornar música, por conta da peça teatral que começa a ensaiar em sua escola. Com Adassa Martins, Andrêas Gatto, Dominique Arantes/Flávia Naves, Gunnar Borges, Laura Nielsen, Márcio Machado, Natássia Vello, Rodrigo Vrech e Virgínia Maria. Dir. Diogo Liberano. Realização Teatro Inominável. (95min). De 10 a 19 de dezembro – Instituto do Ator. Segundas às quartas, 20h. R$20. 16 anos.

Serviço
De 10 a 19 de dezembro de 2012
Segundas, terças e quartas às 20h
Local: Instituto do Ator
Esquina com a Rua Joaquim da Silva – Próximo ao Metrô da Glória
Tel.: 2221-8040
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada para estudantes, idosos, deficientes físicos, professores da rede pública de ensino e menores de 21 anos, devidamente identificados)
Classificação Indicativa: 16 anos
Capacidade de público: 40 lugares
Duração: 95 minutos (sem intervalo)

Equipe de Criação
Direção e dramaturgia: Diogo Liberano
Orientação de direção: Eleonora Fabião
Elenco:
CÉLIA Adassa Martins
CORLEY Andrêas Gatto
CAROLINA WELLERSON Dominique Arantes/Flávia Naves
TOMAS Gunnar Borges
MOIRA Laura Nielsen
KEVIN Márcio Machado
JOANA BRAVO Natássia Vello
FRANKLIN Rodrigo Vrech
EVA Virgínia Maria
Assistência de direção: Thaís Barros
Direção de movimento: Caroline Helena
Direção Musical: Philippe Baptiste
Cenário: Leandro Ribeiro
Orientação de cenário: Ronald Teixeira
Figurino e visagismo: Isadhora Müller + Marina Dalgalarrondo
Orientação de indumentária: Desirée Bastos
Iluminação: Davi Palmeira + Thaís Barros
Orientação de iluminação: José Henrique Moreira
Registro fotográfico: Thaís Grechi
Registro audiovisual: Thaís Grechi + Pedro Bento
Preparação vocal: Verônica Machado
Design: Diogo Liberano + Gunnar Borges
Ilustrações: Lucas Canavarro
Assessoria de imprensa: Bruno Pacheco
Marketing cultural: Davi Palmeira
Produção executiva: Adassa Martins + Gunnar Borges
Direção de produção: Diogo Liberano
Realização: Teatro Inominável + Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Apoie SINFONIA SONHO no Catarse!

Para a viabilização da temporada de estreia de Sinfonia Sonho no Rio de Janeiro, o Teatro Inominável está recorrendo ao Catarse - plataforma de financiamento coletivo, Para maiores informações, acesse o link abaixo, veja o vídeo e as contrapartidas e nos dê o seu apoio. Somente com ele conseguiremos arcar com as demandas de produção desta temporada.

Não temos muito tempo, portanto, clique abaixo.


O Teatro Inominável agradece imensamente o seu apoio.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Curtíssima Temporada no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto ---

Nesta sexta-feira, 07 de setembro de 2012, o Teatro Inominável retorna aos palcos do Rio de Janeiro com uma curtíssima temporada, de apenas dois finais de semana, do seu espetáculo VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA. Em cena, as quatro atrizes da companhia [Adassa Martins, Caroline Helena, Flávia Naves e Natássia Vello] e o diretor [Diogo Liberano] tentam, sem sucesso, encenar a obra Esperando Godot do dramaturgo irlandês Samuel Beckett.


A temporada acontece de 07 a 16 de setembro, na Galeria Marcantonio Vilaça, segundo andar do Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto. Sextas e sábados às 19h e domingos às 18h. A classificação indicativa é de 16 anos e o espetáculo integra a programação da [ mostra hífen de pesquisa-cena ].

Para saber mais informações sobre a mostra, acesse:

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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Após terceira temporada na Cia. dos Atores, em junho deste ano, o Teatro Inominável retorna com VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA na [ mostra hífen de pesquisa-cena ]


O Teatro Inominável retorna aos palcos cariocas com VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA (2010), segundo espetáculo da companhia carioca criada em 2008. Em cena, as atrizes da companhia (Adassa Martins, Caroline Helena, Flávia Naves e Natássia Vello) se juntam ao diretor (Diogo Liberano) para tentar, sem sucesso, encenar a obra “Esperando Godot” de Samuel Beckett. Após terceira temporada em junho deste ano na Cia. dos Atores, a companhia agora se apresenta na [mostra hífen de pesquisa-cena], que ocupa a Galeria Marcantonio Vilaça de agosto a setembro deste ano, no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto.

Fotografia de Thaís Grechi

Iniciado em outubro de 2009, o processo travou um longo embate com a peça do dramaturgo irlandês para redescobrir, se possível, o seu valor que faz décadas é tão divulgado. Em “Esperando Godot”, o dramaturgo falecido em 1989 apresenta dois mendigos à espera de Godot, que parece ter em mãos a salvação mais imediata dos pobres homens. Nesta obra marcante do pós-guerra, Beckett faz um retrato da condição humana marcado pela angústia de estar vivo, apresentando um vazio existencial que ainda hoje encontra eco no homem contemporâneo.

Em MIRANDA, porém, tal angústia existencial encontrou seu contraponto mais sincero na angústia criacional das atrizes e do dramaturgo/diretor. O teatro foi o instrumento escolhido para que os artistas pudessem se relacionar com o mundo de hoje e com as suas questões mais imediatas. MIRANDA, dessa forma, é uma tentativa de tirar proveito do vazio, buscando sinalizar sua existência enquanto parte constituinte de todo e qualquer ser. Assim, por meio de uma sucessão de jogos com a linguagem e com a sua falência, as atrizes tentam cenas que não se montam de fato, visto que faz parte da peça ser incompletude.

Destaque no site da Cia. dos Atores

O espetáculo nasceu como projeto curricular na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – em 2010 e cumpriu três temporadas de sucesso: a primeira em setembro de 2010, na Ocupação Câmbio do Teatro Estadual Glaucio Gill; e a segunda em dezembro do mesmo ano, na Rampa, Lugar de Criação; e, em junho deste ano, terceira temporada a convite da Cia. dos Atores. Nas palavras do dramaturgo/diretor, MIRANDA acabou virando um estudo sobre o erro e sobre a tentativa, sobre o nosso desespero por saciedade e a nossa dificuldade em lidar com todo e qualquer tipo de falta.

Sobre o dramaturgo e diretor
Diogo Liberano é graduado em Artes Cênicas: Direção Teatral pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 2010 é curador universitário na ocupação Câmbio do Teatro Estadual Glaucio Gill (indicada na categoria especial do Prêmio APTR/RJ em 2010). É fundador, dramaturgo e diretor artístico do Teatro Inominável desde 2008. Em 2011, co-dirigiu Cesar Augusto e Susana Ribeiro em AUTOPEÇAS 2: PEÇAS DE ENCAIXAR, projeto da Cia dos Atores. Em 2012, realiza a assistência de direção de João Fonseca no espetáculo NÃO SOBRE ROUXINÓIS, texto de Tennessee Williams inédito no Brasil. E, a convite dos diretores artísticos do Projeto ENTRE do Espaço Sérgio Porto, faz a curadoria da [ mostra hífen de pesquisa-cena ], de agosto a setembro de 2012.

Sobre o Teatro Inominável
Criado em 2008 no Rio de Janeiro pelo encontro de Adassa Martins + Caroline Helena + Diogo Liberano + Flávia Naves + Natássia Vello. No currículo, os espetáculos NÃO DOIS (2009), da obra PASO DE DOS do dramaturgo Eduardo Pavlovsky; VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA (2010), da obra ESPERANDO GODOT de Samuel Beckett; COMO CALVAGAR UM DRAGÃO (2011), dramaturgia original de Diogo Liberano como estreia no TEMPO_FESTIVAL das Artes; e SINFONIA SONHO (2012), dramaturgia de Diogo Liberano, em circuito por festivais de teatro em todo o Brasil. A cada novo trabalho, a companhia segue investindo naquilo que parece ser a sua assinatura: a busca pelo encontro com a cidade do Rio de Janeiro por meio de uma obra artística.

Sinopse
VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA de Diogo Liberano. Comitragédia. Quatro atrizes e um diretor tentam encenar a obra “Esperando Godot” de Samuel Beckett, sem sucesso. Com Adassa Martins, Caroline Helena, Flávia Naves e Natássia Vello. Dir. Diogo Liberano. (60min). Classificação Indicativa 16 anos.

Serviço
VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA
Curtíssima temporada na [ mostra hífen de pesquisa-cena ]
Quando: de 07 a 16 de setembro de 2012 (sextas e sábados 19h – domingos 18h)
Onde: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto (Rua do Humaitá, 163 – Rio de Janeiro/RJ – Fone: 2266-0896)
Ingresso: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada) | Classificação indicativa: 16 anos
Gênero: Comitragédia | Duração: 60 minutos | Lotação: 50 lugares


Equipe de Criação
Direção e dramaturgia: Diogo Liberano
Elenco: Adassa Martins, Caroline Helena, Flávia Naves e Natássia Vello
Assistência de direção: Thaís Barros
Cenário: Rafael Medeiros
Figurinos e visagismo: Adassa Martins e Natássia Vello
Iluminação: Diogo Liberano e Flávia Naves
Direção musical: Philippe Baptiste
Preparação vocal: Verônica Machado
Registro audiovisual e fotográfico: Pedro Bento e Thaís Grechi
Design: Diogo Liberano
Marketing cultural: Davi Palmeira
Direção de produção: Caroline Helena e Diogo Liberano
Realização: Teatro Inominável e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Para saber mais sobre o espetáculo, acesse o blog:
[ http://desesperandogodot.blogspot.com.br/ ]

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quarta-feira, 27 de junho de 2012

[des]esperando godot - estudo de um processo de criação via negativa

Nesta quarta-feira, 27 de junho de 2012, o dramaturgo e diretor Diogo Liberano apresenta uma curta fala, intitulada [des]esperando godot - estudo de um processo de criação via negativa, a partir da pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sob orientação da professora Livia Flores, integrando o Seminário de Pesquisas da Direção Teatral que abre a Mostra Mais 2012.



Fotografia de Thaís Grechi

A apresentação acontecerá no Salão Pedro Calmon do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, que fica na Av. Pasteur, 250, Urca, Campus Praia Vermelha. Será uma curtíssima reflexão sobre os procedimentos criativos do espetáculo VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA do Teatro Inominável. A entrada é franca e para além da fala de Liberano, inúmeros outros alunos apresentarão suas respectivas pesquisas. Vale à pena conferir.

Segue abaixo, um trecho da fala:
Como conceber uma criação artística que em seu próprio desdobramento criativo ambiciona a sua própria destruição? Como aluno-diretor do curso de Direção Teatral da UFRJ, optei por desdobrar a pesquisa “Poéticas negativas como campo de relações entre teatro, artes plásticas e performance”, sob orientação da professora Livia Flores, trabalhando sobre a encenação da peça ESPERANDO GODOT, de Samuel Beckett, originalmente nascida como trabalho curricular que realizei em 2010 na disciplina Direção VI, tendo estreado em julho do mesmo ano. Essa encenação, inicialmente homônima ao texto de Beckett, acabou se transformando em VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA, quando estreamos em setembro de 2010 a primeira temporada na cidade do Rio de Janeiro. Em cena, como diretor, me junto às quatro atrizes para apresentar uma peça construída sobre a impossibilidade de sua construção. Através de uma sucessão de tentativas para encenar GODOT, agimos certa “poética da negação” porque, após um processo que durou mais de um ano, desacreditamos no esperar de Godot e, ao invés de encenarmos outra dramaturgia, encenamos a nossa própria dificuldade em ter que dar sentido àquilo que não mais nos servia.

[…]

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terça-feira, 12 de junho de 2012

“Um experimento de linguagem nada vazio”

Por Rodrigo Monteiro
http://teatrorj.blogspot.com.br/2012/06/vazio-e-o-que-nao-falta-miranda-rj.html

Vazio é o que não falta, Miranda” é uma experiência de linguagem teatral produzida pelo Grupo Teatro Inominável que estreou em 2010. Dirigido por Diogo Liberano, o espetáculo se apresenta como uma “tentativa”, o que reforça positivamente o seu caráter de experimento. Em cena, Adassa Martins, Carolina Helena, Flávia Naves e Natássia Vello apresentam o resultado de um trabalho visível e propositalmente em processo e que só pode ser julgado como tal.

A ideia do processo surgiu como uma representação de um outro processo: o de construção do espetáculo “Esperando Godot”, de Samuel Beckett. O resultado parece querer ser uma obra paralela não apenas no aspecto formal, mas também na ordem do seu conteúdo (Miranda sendo uma versão de Godot), o que não acontece. Beckett atualiza a tragédia, uma vez grega e outra vez clássica, para o drama contemporâneo do pós-segunda guerra. Há quem diga que ele escreve uma versão própria do teatro do absurdo, há quem escreva que ele cria o teatro adramático. O fato é que o contexto do dramaturgo irlandês mais celebrado do século XX é a tragédia, ou seja, a prisão. Na Grécia, presos ao destino divino; no classicismo, presos aos padrões burgueses, os personagens de Beckett, no século passado, sobretudo em “Esperando Godot”, estão presos ao tempo que insiste em passar. É dessa incapacidade de lutar contra isso que vêm os diálogos quase dissociáveis, o superficial esvaziamento do sentido, a fluidez plena da narrativa que, para alguns, é a marca de uma não-narrativa. Para quem não leu o programa de “Vazio é o que não falta, Miranda”, as cenas iniciais do espetáculo aqui em questão se aproximam desse universo nonsense. A intenção, no entanto, não tem continuidade na evolução das cenas (e a palavra “evolução”, em relação a Beckett, já prenuncia um distanciamento). Quando, para o espectador, começa a ficar claro que tratam-se de atrizes em processo de ensaio e que há um diretor a fazer anotações (quase um espetáculo a parte, como em Tadeusz Kantor), controlar o desenho de luz e as entradas das trilhas sonoras, além de fazer alterações no roteiro, ou seja, que tudo tem uma lógica que consiste justamente na busca/fuga de sentido, então, cai por terra o interesse sobre o experimento de produzir algo naturalmente sem sentido. Em cena, estamos assistindo a um ensaio marcado, ou melhor, a uma apresentação que tem como resultado de opções estéticas marcas que o fazem parecer um ensaio.

A cena em que os conflitos que surgem entre as atrizes levanta a curva dramática e aponta para um clímax. Depois, uma sequência em que os atores participam de uma entrevista sobre “Esperando Godot”, novamente, mexe na narrativa e prepara para um fim. No entanto, de forma negativa, o encerramento demora mais tempo do que deveria para chegar sem perde o ritmo. 90 minutos de inconstância é faltamente tempo demais para um exercício de linguagem, apesar das ótimas participações das quatro atrizes e também do diretor, um ator em cena.

Toda “peça contemporânea” tem: a) um microfone no pedestal que será usado para os atores se dirigirem diretamente ao público; b) um ou mais momentos em que os atores se dirigem diretamente ao público; c) personagens cujos nomes são idênticos aos nomes dos atores que os interpretam; d) um violão, uma flauta, um piano ou um instrumento musical qualquer e um ou mais momentos em que um ou mais atores tocam uma canção em outra língua que não a vernácula; e e) projeções em vídeo. O mérito estético claramente observável de “Vazio é o que não falta, Miranda” é o fato de não ter nenhuma dessas marcas negativamente fortes no teatro que se diz contemporâneo, apesar das atrizes se chamarem pelos seus segundos nomes ou sobrenomes, o que poderia ser qualificado como uma variação do vício. Fica, por fim, o louvável interesse em apresentar uma pesquisa, em mostrar o trabalho que vem à cena, com os devidos aplausos, de forma digna e, principalmente, mais séria do que parece.

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domingo, 10 de junho de 2012

MESA TOMBADA com Enrique Diaz

Segue abaixo um pequeno vídeo com trechos da primeira MESA TOMBADA desta temporada de VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA. Para quem não sabe, junto à temporada que segue em cartaz na Cia dos Atores, o Teatro Inominável também está realizando três encontros com artistas fabulosos. O primeiro encontro - ou MESA TOMBADA - aconteceu na última segunda-feira, no qual recebemos a presença ilustre do diretor Enrique Diaz.

Mediado por Diogo Liberano, neste primeiro encontro o tema TEATRO E METALINGUAGEM serviu de start para uma conversa que durou cerca de noventa minutos, durante os quais tanto convidado quanto público presente desbravaram um pouco mais dessa temática que é um dos pilares do segundo espetáculo do Inominável.

A segunda mesa tombada, a partir do tema TEATRO E PERFORMANCE, recebe a presença - também ilustre - da performer e teórica da performance Eleonora Fabião, num encontro que será mediado pela atriz e inominável Natássia Vello. Esta segunda mesa tombada acontece neste domingo 10 de junho e começa pontualmente às 18h com entrada franca, basta chegar 30 minutos antes para retirada de senha.

VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA segue em cartaz sempre de sábado à segunda, sempre às 20h, na Cia dos Atores, até o dia 18 de junho. A entrada é sempre franca. Não deixem de prestigiar, venham todos e todas!

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segunda-feira, 4 de junho de 2012

MESAS TOMBADAS \\ encontros com convidados

Numa alusão direta ao cenário de Rafael Medeiros para Vazio é o que não falta, Miranda, nesta segunda, em paralelo à temporada na Cia dos Atores, começaremos também as MESAS TOMBADAS, que são três encontros que faremos com três convidados super especiais.

Para começar, receberemos hoje a presença do diretor Enrique Diaz para um papo a partir do mote TEATRO E METALINGUAGEM. A conversa será mediada pelo diretor artístico do Inominável, Diogo Liberano, sendo a entrada franca (basta chegar com 30 minutos de antecedência).

A proposta das MESAS TOMBADAS é a de realizar encontros/discussões a partir dos temas centrais que moveram a criação de Miranda. Assim, elegemos três temas: metalinguagem + performance + artes plásticas. Juntos, estes três domínios formam uma forte tríade sobre a qual o espetáculo e as investigações criativas se moveram.

Convidamos para tais encontros figuras expoentes em cada um desses domínios. Para a discussão sobre TEATRO E METALINGUAGEM, o diretor Enrique Diaz se fará presente. Em seguida, para TEATRO E PERFORMANCE, a performer/teórica da performance Eleonora Fabião foi convidada. E por último, para discutirmos a partir do mote TEATRO E ARTES PLÁSTICAS, a artista plástica Livia Flores também confirmou presença.

MESAS TOMBADAS

MESAS TOMBADAS
conversas com convidados antes das apresentações

Segunda-feira, 04 de junho, às 18h
TEATRO E METALINGUAGEM, com o diretor teatral ENRIQUE DIAZ
Mediação de Diogo Liberano

Domingo, 10 de junho, às 18h
TEATRO E PERFORMANCE, com a performer/teórica da performance ELEONORA FABIÃO
Mediação de Natássia Vello

Segunda-feira, 18 de junho, às 18h
TEATRO E ARTES PLÁSTICAS, com a artista plástica LIVIA FLORES
Mediação de Caroline Helena

Todas as atividades acontecem na sede da Cia. dos Atores (rua Manuel Carneiro, 10-12, Lapa – Rio de Janeiro/RJ) com entrada franca (senhas distribuídas meia hora antes).

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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Corpo Miranda

Meu corpo é um arco que ora se dobra ao sul do meu umbigo, ora se curva ao norte da minha cabeça. Em ambas posições meu corpo excede em torções, desequilíbrios, desajustes e inflamações. Na curva ao nascente ele se agita evocando a prece, na dobra ao poente ele se contrai evocando a morte. Assim é meu mundo no encontro com Miranda, mundo interior vazado e ardente. E até que com esse dentro eu ando me entendendo, mas é que a fissura está no mundo que se agita fora de mim. Não sei, estou aprendendo alguma coisa, não mesmo, estou é apreendendo alguma coisa, darei nome a essa força combustiva que me transforma a cada experiência, darei nome ao que não se pode dizer somente porque a tudo o que nomeio o seu contrário me faz sentido. Aí está: Estamos fazendo Miranda, é cíclica a nossa trajetória assim como a nossa lida com o tempo, as repetições exageram essa curva que se dobra nela mesma. Estamos caminhando em círculos tal qual os personagens de Godot. Infelizes de nós que não conseguimos fazer dessa batida outra música, felizes de nós que juntamos vozes e somamos a essa história uma outra melodia. Então eu falo da angústia que é cravar as unhas nessa parcela imutável que nos constitui e percebo nesse instante que mesmo não conseguindo controlar os engasgos de sempre e as torções constantes, mesmo que meu corpo volte ao mesmo ponto de onde partiu e eu não consiga quebrar o aro desse círculo, percebo que é possível cavar buracos. O movimento topológico dessa pele se dá no seu interior e não na sua superfície. Não caminhamos deslizando os pés no asfalto, caminhamos afundando nossos pés na lama. Não cabe em Miranda movimentos horizontais pois esses já existiam antes dela, o que em Miranda se abre de novo são furos no chão que não se esparramam, concentram; não se estilhaçam, perfuram.

terça-feira, 29 de maio de 2012

“A peça não é boa”

Bom, a verdade é a seguinte: neste sábado, 02 de junho, às 20h, na sede da Cia. dos Atores, o Teatro Inominável traz novamente aos palcos cariocas o seu segundo espetáculo, estreado em 2010.

Em Vazio é o que não falta, Miranda, quatro atrizes e um diretor tentam, a todo o custo, encenar a obra Esperando Godot de Samuel Beckett, sem obter sucesso. O espetáculo nasceu de um longo processo no qual elenco e diretor de fato tentaram trazer à cena a obra de Beckett, porém, acabaram por reescrever os caminhos ditados por esta obra mundialmente conhecida.

Miranda cumpre temporada de sábado à segunda-feira, sempre às 20h, com entrada franca (basta chegar com trinta minutos de antecedência e retirar sua senha). Durante as três semanas, o Inominável também apresenta as MESAS TOMBADAS, uma série de conversas com convidados super especiais. Segue abaixo a programação completa:

Segunda-feira, 04 de junho, às 18h
TEATRO E METALINGUAGEM, com o diretor teatral ENRIQUE DIAZ
Mediação de Diogo Liberano

Domingo, 10 de junho, às 18h
TEATRO E PERFORMANCE, com a performer/teórica da performance ELEONORA FABIÃO
Mediação de Natássia Vello

Segunda-feira, 18 de junho, às 18h
TEATRO E ARTES PLÁSTICAS, com a artista plástica LIVIA FLORES
Mediação de Caroline Helena

Não deixem de prestigiar o espetáculo e, sobretudo, também não percam as conversas. A entrada é sempre gratuita, bastando chegar com antecedência de trinta minutos para retirada de senha.

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domingo, 27 de maio de 2012

“A peça está pronta! A peça está pronta! A peça está pronta”

Bom, de acordo com a inominável Adassa Martins, nosso espetáculo Vazio é o que não falta, Miranda realmente está de pé. Bom, há quem duvide. De qualquer forma, o início de nossa temporada está chegando. Já no sábado que vem, dia 02 de junho, às 20h na Cia. dos Atores (Rua Manoel Carneiro, 10-12, Lapa), o Inominável retorna aos palcos com o seu espetáculo xodó.

Em cena, as quatro atrizes da companhia (Adassa Martins, Caroline Helena, Flávia Naves e Natássia Vello) e o diretor e dramaturgo Diogo Liberano tentam a todo custo encenar a obra máxima de Samuel Beckett, Esperando Godot. A montagem estreou em 2010 e agora, a convite da Cia. dos Atores, retorna para a sua terceira temporada.

Muitas pessoas que já assistiram ao espetáculo, quando convidadas novamente, dizem o clássico “eu já assisti”. Bom, com toda sinceridade, MIRANDA não consegue ser a mesma por muito tempo. A pesquisa e o trabalho, desde 2010, modificou tudo o que tínhamos e aprofundou nossas buscas enquanto companhia. A dramaturgia é inédita e, naturalmente, o jogo cênico é também renovado. Vejam de novo!

Permaneceremos em cartaz de 02 a 18 de junho, aos sábados, domingos e segundas, sempre 20h. A entrada é franca, portanto, não deixem de vir. A lotação do espaço é de 60 lugares e - em breve - divulgaremos os três convidados que virão bater um papo antes de três apresentações.

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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Para amar o vazio

Falta escrever o texto da setima tentativa. EL SILENCIO DE MIRANDA. Neste eh necessario um depoimento, para que se toque no vazio, ali onde nos encontramos. Precisamente ali quando amigos nos tornamos. Seria este depoimento a moral do espetaculo?

Sim. Sem medo de fazer sentido. A nossa moral nao eh jogo do certo e errado. Ela tange primeiro a pele. Por ser aqui e agora ela eh micro, mas tao sincera e fragil que eh capaz de morrer. E tambem consumir.

Para falar do vazio eu preciso sentir meu estomago. Eu preciso saber o que eh metafora. Para ser amigo do vazio eu preciso encontrar minha ignorancia e ultrapassa-la via positiva. Eu preciso olhar o centro do meu ridiculo e me ver por conta disto mexido. Movido. Tirado do eixo. Quase bobo e fora de moda.

A morte. O suicídio. A arte. O VAZIO atende por vários nomes.

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quinta-feira, 17 de maio de 2012

“Tem uma hora que o sujeito tem que entender que algo simplesmente não deu certo e que é melhor enterrar...”

Reflexões a partir dos últimos dias e ensaios

MIRANDA está com tudo em sala de ensaio. E fora do ensaio também está. Como pode uma obra te requisitar o tempo inteiro? Você entra num ônibus e vê pela janela uma sacola voando solta em meio ao vento. Daí eu penso: isso tem a ver com aquela sensação de descontentamento pleno, que finaliza uma das cenas de MIRANDA, não tem?

Quer dizer, pode tudo, né? Qualquer coisa serve. É isso mesmo. Não há culpa. Problema algum. MIRANDA mais uma vez está abolindo o sim e o não. Abolindo o bom e o ruim. Não sobra direita e/ou esquerda. O vazio não tem qualidade, é espaço em branco para todo e qualquer desastre. É difícil. Sim! Está sendo mais ainda agora, quando dizemos a todos e a todas deter consciência sobre o nosso material de trabalho. É mentira.

Quando achamos deter consciência, descobrimos nova ignorância. E isso se chama estar vivo.

É assim mesmo. Ontem, antes de dormir, abri o CREPÚSCULO DOS ÍDOLOS de Nietzsche e - Divina Miranda! - estava você ali revistada em palavras. Todo o seu mistério, toda a sua embriaguez, estavam explícitos. Era tu explicitada.

Estas palavras hoje são menos uma coisa do que outra. Quero dizer: eu estou escrevendo para tentar desanuviar a vista. É muita reflexão. MIRANDA consome a energia do corpo só por pensarmos. É muita sinapse. É IMPOSSÍVEL NÃO PENSAR.

Mas, preciso compartilhar algo no mínimo engraçado. Um dos professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na qual me graduei e na qual nasceu este espetáculo, em resposta a um e-mail enviado pela atriz Natássia Vello (solicitando o empréstimo de uma mesa de luz para nossa temporada), acabou escrevendo o seguinte sobre o nosso trabalho:

Não acredito que o Diogo quer retomar aquela porcaria de "Não-sei-o-que da Miranda"!!! Tem uma hora que o sujeito tem que entender que algo simplesmente não deu certo e que é melhor enterrar...*

Caramba. Que revelação ler as palavras dele (a mim, obviamente, não destinadas). Ele sintetiza em poucas linhas justamente a definição deste trabalho. A questão que se impõe é justamente esta: por que é que é preciso enterrar aquilo que não deu certo? De onde nasce essa exigência? Aliás, que exigência é essa? Quem dita isso? O que é dar certo ou errado, caro velho professor universitário?

Eu, sinceramente, acho melhor que se enterrem outras coisas e pessoas deste mundo. Não há nada aqui a ser entendido. A busca em MIRANDA não é para entender, mas justamente para sentir ser possível ser erro pleno e ser sem sentido. A busca de MIRANDA é justamente o avesso do que é a Academia para você, caro professor. A saber: um micro-celeiro sob organização hierárquica para construção de seres infelizes, para a construção de futuros mendigos (de força e espírito).

Ora, convenhamos. Beckett, talvez dissesse: esse cara é um comi-trágico.

De qualquer forma, dia 02 de junho - quer isso seja bom ou ruim - VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA entrará em cartaz na Cia. dos Atores. Venham todos e todas!

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terça-feira, 15 de maio de 2012

“O que pode um corpo que sofre?”

Segue abaixo o vídeo teaser com a atriz Caroline Helena. A nossa (re)estreia está confirmadíssima para o sábado, 02 de junho de 2012, às 20h na Cia. dos Atores. A entrada é franca, basta chegar com uma ligeira antecedência para retirar seu ingresso.

Fiquem ligados em nosso blog e redes sociais. A qualquer momento, informaremos sobre as mesas de debate que acontecerão durante a temporada.

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quarta-feira, 9 de maio de 2012

“Eu não me sinto feliz”

De fato estamos ensaiando Vazio é o que não falta, Miranda. Mas, convenhamos, não é para tanto. Neste vídeo, a atriz Flávia Naves expõe um pouco do seu descontentamento com o nosso processo. Paciência, Miranda chega aos palcos no dia 02 de junho, permanecendo na Cia. dos Atores até 18 de junho, de sábado à segunda-feira, sempre às 20h.

Em breve, informações completas. Estamos planejando um ciclo com debates com convidados, sempre antes das apresentações que acontecem às segundas. Fiquem ligados aqui no blog ou em qualquer outra rede social do Inominável.

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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Por que o vazio é aquilo que não falta?

Reflexões de Hoje Sobre o Ensaio de Ontem (06 de Maio)

Desta vez a coisa se revelou para nunca mais ser esquecida. Ontem nos perguntamos a pergunta mais crucial de todas - neste momento - que é: por que é que o vazio é aquilo que não falta? Por que dizemos à Miranda - quem quer que ela seja - que vazio é o que não falta?

Um amigo - Evângelo Gasos - ao escrever um depoimento sobre a terceira montagem do Teatro Inominável - COMO CAVALGAR UM DRAGÃO [atravessar.blogspot.com], manifestou que DRAGÃO havia sido o primeiro trabalho da companhia em que ficava visível - para ele - aquilo que de fato parecíamos querer dizer. Ele escreve que nos trabalhos anteriores (NÃO DOIS e VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA), ainda é difícil alcançar aquilo que nos move, aquilo que queremos dizer/expressar.

Desde então eu fico me perguntando: como tornar visível aquilo que nos consome criativamente mas que não se expressa ao público? Como comunicar? Seria isso? Comunicar?! Enfim… A verdade é que este re-processo de MIRANDA está se movendo a partir desse apontamento feito pelo amigo Evângelo. Eu tenho buscado - quase desesperadamente - injetar na cena (e para fora dela) a nossa motivação, o porquê desta peça, deste discurso nosso fruto deste agora. Como expressar? A dramaturgia como ponte: de nós até você que nos assiste.

Então, no ensaio de ontem (no qual apenas lemos o texto das duas primeiras tentativas), a coisa veio imediata e sem possibilidade de escape. Fomos juntos entendendo que matamos GODOT e o trocamos por MIRANDA, porque MIRANDA talvez seja mais nossa do que de outra época. Isso não se explica. É quase uma intuição. Cansamos deste nome GODOT e daquilo tudo que nele foi impregnado com o passar dos anos.

O GODOT morreu para todos nós, mas a espera não! A espera sobrevive e não é nosso objetivo exterminá-la. Quem somos nós? Somos seres que ainda esperam, mas a nossa espera é diferente. É mais MIRANDA que GODOT. A nossa espera é fruto de um novo século que já nasceu ignorante do que possa ser esperar. Somos filhos do espetáculo e também do seu esfacelamento. A nossa guerra não é mais mundial, é metafísica egocêntrica e se volta contra o tempo que passa. Temos pressa e nisso, falecemos.

A espera deste tempo é ativa e pouco auto-comiserada; é espera móvel e sim, talvez, um pouco desesperada. A nossa espera a gente grita alto e com ela faz rebuliço. A nossa dor a gente aprende a converter em outra coisa que não somente dor. Não é fuga da dor, não é esquecimento da tortuosidade dos caminhos. É apenas maneira outra de lidar com aquilo já instituído. Já arraigado em nosso - famoso - inconsciente coletivo. Não é hora de nomearmos o inconsciente de inconsistente coletivo?

Eu me emociono com a façanha que é fazer MIRANDA. Eu me emociono porque MIRANDA me ensina a ver luz quando o que me é dado - dizem ser - apenas escuridão. Cansei. Cansamos. Não queremos acreditar só nisso. É pouco demais. É segregador e tendencioso. Tem que haver algo mais. E se não houver, aqui estamos nós, esperando que possa existir alguma outra coisa que não somente o já dito. Afinal, qual seria o nosso papel nisso tudo que não este, o de recriar a vida e lhe oferecer vias distintas para seu brilho e esfacelamento?

Vazio é o que não falta, Miranda, portanto vamos amá-lo como princípio constitutivo. Vamos amar o vazio e descobrir seu fundo. Vamos juntos além da vaguidão do tempo para encontrar numa fagulha do momento agora algo que nos sacie e faça ainda mais desejar.

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Referência trazida durante o processo pelo cenógrafo Rafael Medeiros

No final - ou início - das coisas, há apenas o desejo feito areia movediça: é impossível ficar indiferente ao movimento.

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domingo, 6 de maio de 2012

Psicologia Invertida

Reflexões Sobre o Ensaio de Ontem (05 de Maio) Indo de Ônibus em Direção ao Ensaio de Hoje

O trocador acabou de me alertar que um cara foi assaltado dentro do ôonibus por ter tirado o seu laptop para fora da mochila. Bom, é só mesmo o que falta acontecer. Paciência. Vou seguir escrevendo.

No ensaio de ontem aconteceu uma coisa muito engraçada. Quer dizer, não teve graça, na verdade aconteceu algo bastante sintomático neste processo. A atriz Natássia Vello (que agora integra o elenco original de MIRANDA e substitui Fabíola Sens) teve, como dizer?, um pânico processual. Uma fobia expressa. Um entupimento explodido em choro descontrolado.

Quero dizer: tive que interromper o ensaio pois de fato não fazia sentido continuar. Mas percebi - conversando com as meninas - algo muito interessante: a construção das personagens em MIRANDA (ou a construção dos seus respectivos lugares enquanto atrizes nesta encenação) coloca as meninas num lugar invertido.

Lugar este espaço para a gênese de uma poética da negação.

Quero dizer - parte II - não há construção de uma psicologia do meu papel, da minha personagem. O que há é um jogo a ser jogado - dramatúrgico e cênico - que se constitui e se firma mais e mais a cada segundo que problematiza e transtorna a psicologia pessoal de cada atriz. Ou seja: quanto mais movem seus corpos e estados e crenças e facilidades/dificuldades na realização da cena, mais se está MIRANDA e menos se está a si própria. Jogar MIRANDA é jogar o instável. O tempo inteiro. E, convenhamos, quem realmente está curtindo ficar na corda bamba?

Sugiro aqui um movimento curioso para se pensar a tal da poética da negação (FLORES, L.). Eu quero dizer que não há construção da personagem (com seus psicologismos e afins). Há um movimento do ser atriz que funciona na medida em que cada uma das meninas se permite ser estando. É menos ser alguma coisa e mais estar ali, de corpo aberto e com corpo aberto presentemente.

Mais do que sobreposições de camadas, de habilidades, de subtextos e desejos/vontades, o que deve ser somado em seus corpos são apenas os segundos (que morrem e nascem numa rapidez assustadora) e a capacidade de transitar entre eles. De sair de um ponto tal e já se ver firme noutro ponto (por vezes muito distante e oposto ao original).

Estas coisas que venho escrevendo, estas reflexões pós-ensaio, são tentativas muito imediatas de lançar por sobre a criação do espetáculo um olhar mais atento de seu percurso criativo. Ontem nos aconteceu isso. E me pareceu mesmo um achado ter conseguido ver como a construção psicológica em MIRANDA é justamente a desconstrução e o assassinato de qualquer psicologia que se almeje como inteireza, como centro e eixo regulador.

Não há unidade. A unidade seria a completude (?). Em MIRANDA, abrimos vagas para nunca esquecer que há falta e desejo, a mover o espírito e o corpo.

MIRANDA é um liquidificador desgovernado e as meninas, farinha água leite e ovo.

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sábado, 5 de maio de 2012

Com quais ferramentas criar?

Reflexões na Manhã Seguinte ao Ensaio de 04 de Maio de 2012
Aqui estou eu dentro de outro táxi indo rumo ao ensaio desta manhã de sábado. Faz um sol delicado sobre o Rio de Janeiro e meus olhos seguem filtrados por um óculos escuro, mirando esta tela, Miranda.
Eu pensando sobre o ensaio de ontem, aquele no qual começamos de fato a erguer nosso novo espetáculo. Há uma clareza irrevogável: aquilo criado pelas atrizes é desde já inscrição da cena. Quero dizer: as proposições serão levadas a cabo até o fim. Eu vou tentar, como dramaturgo-diretor, não abandonar nada, mas justamente escavar o fundo lógico inconsciente.
Miranda me deixa abusado a ponto de me fazer esperançoso e delicado.
Quero dizer: com quais ferramentas elas - as atrizes - criarão nossas cenas? Há algumas que listo agora: a) a descrição das personagens, a dramaturgia posta num papel; b) o jogo relacional entre as atrizes, acentuado e assegurado pela prática livre com viewpoints; c) os jogos criados por nós e que sustentam a encenação (3:1 \ fala perdida \ dicotônico \ corifei \ PdD)... Quero dizer: são quatro atrizes com pontos de vista muito distintos e é dessa diferença que nasce uma vida/espetáculo.
O movimento agora é acompanhar a montagem dos blocos e realizar composições - criadas pelas atrizes - para cada um dos blocos. Eu, diretor, sigo recebendo e me colocando em contato com tais materiais. Agora ainda é preciso não saber, dar férias às vontades e deixar seus corpos ganharem ou não as apostas apostadas. A cada dia se chega mais perto. Ou não. Não importa.
A gênese do contraditório - que é como nomeio o trabalho feito a partir do uso de composições - volta à Miranda, porém certamente de maneira diferenciada. Revisitada. Atualizada. O contraditório é hoje mais ficção do que problema maior em mãos. A contradição resta expressa no gesto, na saturação das convicções. Quero dizer: mais que ser contraditório, devemos agora buscar a certeza de nossas apostas, de nossos discursos, para a partir desse primeiro chão, fazer brotar a discordância, o paradoxo, o drama e a comédia.
Complexo? Nem é. Super fácil. Acredito que daqui a pouco seja possível deixar esse falatório ainda mais claro e útil. Ou não. Mas convenhamos, claro para quê? Claro para quem? São apenas palavras aqui reunidas. Reflexões que precisam ser expressadas para não correrem o risco de matar e/ou morrer. Apenas um sopro nesta manhã de sábado.
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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Espaço e tempo da ação \ Personagens

Espaço e Tempo da Ação
AQUI E AGORA

Personagens
QUATRO ATRIZES E UM DIRETOR TEATRAL

HELENA Quer ser sincera mas não consegue. Sofre a beleza das amigas e tem por elas inveja de cor marrom. No íntimo deseja ser homem. No comportamento já o é. Curte artes marciais e teme brigas. Não tem graça alguma pois nunca conheceu a felicidade. Sente fome mas não sabe o nome que nomeia a sua vontade. Desentende o significado das palavras “inércia” e “silêncio”.

LIBERANO Concentra em si as piores qualidades de um homem: arrogância e violência. As piores de uma mulher: cinismo e sedução. E as piores de um cachorro: morde e mija em cima. Sente-se onipotente, onipresente e omnisciente. Consegue transformar tudo em verdade, especialmente mentiras. Sofre de uma doença que o consome, mas é ignorante de tal fato, como de outros.

MARTINS Quer aparecer mais do que qualquer outra pessoa no mundo. Emociona-se com facilidade e se usa de tal fragilidade para conseguir aquilo que deseja. Submete-se com facilidade ao que lhe é imposto na esperança de parecer bondosa e dedicada. Dissimula sua real opinião das coisas até o limite máximo da insuportabilidade. Costuma quebrar aquilo que não lhe pertence.

NAVES Quer mandar naquilo que não lhe compete. É altamente invejosa, apesar de esconder suas reais intenções em prestatividade e doçura. Não consegue tolerar a opinião alheia sem que antes imponha a sua própria. Adepta da pirraça e de escândalos, quer ganhar falando mais alto. Gosta de humilhar aqueles que, porventura, estão em posição submissa a sua.

VELLO Quer fazer parte do grupo mas não consegue. Seu corpo depõe contra a delicadeza que arduamente tenta transparecer frente as amigas. Curte linguagens híbridas e, portanto, facilmente se distancia para acariciar o próprio umbigo. Sente prazer e se masturba em lugares públicos. Gosta de se fazer vítima de grandes brigas, bem como de puxar cabelos que não os seus.

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Dramaturgia do acontecimento

Reflexões Imediatamente Posteriores ao Ensaio de 02 de Maio de 2012

Tentarei colocar em palavras um pouco deste movimento atual de escrever VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA. Como se sabe, em junho teremos uma nova temporada de MIRANDA no Rio de Janeiro. Será a nossa terceira temporada, sendo que as duas anteriores aconteceram, respectivamente, em setembro e dezembro de 2010.

Desde dezembro de 2010 não apresentamos o espetáculo. E ao decidirmos voltar com MIRANDA neste ano, percebemos que precisaríamos rever MIRANDA, entender novamente se a fagulha inaugural que nos arrepiava ainda era capaz de nos seduzir. E é. Mas não vou falar disso. Vou tentar discorrer sobre a consistência, sobre a constituição das ações em MIRANDA. Sobre a dramaturgia, por assim dizer.

A dramaturgia deste espetáculo é cênica. Majoritariamente cênica. Ela depende do corpo das atrizes. De suas vozes (várias em cada uma) e dos estados, dos calores, ou seja, não é dramaturgia que possa ser lida. Qualquer tentativa nesse sentido - a saber, o de palavras postas num papel - é pouco. É insuficiente. Nada novo, talvez. É assim com as encenações teatrais, eles sempre se materializam para além de palavras. Acontece que a dramaturgia textual de MIRANDA deveria conseguir domar o acontecimento, o arrepio, a instabilidade.

Sendo assim, como escrever o tremor? Como escrever terror, dificuldade e desorientação (para citar Bogart)? Como ser escrita-liquidificador?

Não se escreve. Não tem como. Assim, no ensaio de hoje, entreguei ao elenco e a mim mesmo a primeira cena, a nossa primeira tentativa, intitulada ESTAMOS ENTERRANDO GODOT. Nesta cena - ou tentativa - tentei escrever uma espécie de dramaturgia-roteiro, pela qual as atrizes possam passar seus corpos e atravessar o sentido ali em palavras concentrado.

Quero dizer: nossa dramaturgia acontece em movimento (não no papel). Quero dizer: nossa dramaturgia é escaleta de acontecimentos que precisam ser performados, que precisam de tentativa, lapidação e suor. Quero dizer: sendo assim, nada em nosso dramaturgia é tão certo, nada é tão fechado.

Nesta dramaturgia que aqui chamo do acontecimento, interessa-me sobretudo plantar problemas que possam vir a ser desdobrados via ação e afeto. A escritura acontece pelos corpos das atrizes e também pelo meu. No papel, apenas um fio a seguir.

O uso de rubricas pontua as mudanças de blocos, digamos assim. Quer dizer que em uma tentativa, há pequenos pedaços que formam o todo. Nestes pedaços, ouso sugerir escalonamentos, ou seja, cada bloco pode ser feito por uma atriz, ou dupla de atrizes. Em outros blocos todos estão em diálogo.

O mais interessante que conversamos no ensaio de hoje foi que toda a cena - toda a tentativa (mesmo quando “eu” não estou “em ação”) - pode me alimentar a explodir minhas ações físicas e textuais. Contracenação. Alimentamo-nos uns dos outros. Como dar corpo ao meu personagem?

Na postagem seguinte, disponibilizarei a descrição das personagens que alimentam o roteiro da peça e nosso imaginário. Por hoje é isso.

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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Como agir uma poética da negação

Este texto é antes um anti-texto. O que ele quer dizer não se sabe de antemão. Começo escrevendo para que nesse movimento da escritura eu possa, quem sabe?, encontrar algo que busco com obstinado desespero. Quero dizer: no ano passado, comecei junto à professora Livia Flores uma pesquisa acadêmica intitulada Poéticas negativas como campo de relações entre teatro, artes plásticas e performance. Nesta, viemos desde então desbravando referências e objetos artísticos que se pautam num movimento inverso ao da “poética” tal como se referiam os gregos, a saber, poética como certo processo que traz à existência algo que antes não havia.

A síntese do problema, apresentada por Flores, questiona sobre o que acontece quando o sentido se inverte e algo passa a trabalhar justamente para deixar de ser.

Escolhi um objeto de estudo: VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA. Este aqui. Escolhi MIRANDA porque me parece ser esta peça justamente um esboço de certa poética, porém, não qualquer uma, mas justamente a tal poética “negativa”, essa criação que almeja justamente ser se des_sendo. Faz sentido? Não faz. Nem tem que fazer. Talvez faça. Com MIRANDA, apresentamos quatro atrizes e um diretor tentando encenar a obra ESPERANDO GODOT, de Samuel Beckett. Quando digo que apresentamos a tentativa, é já porque sabemos que não conseguiremos encenar esta peça.

ESPERANDO GODOT não me interessa no lugar onde se encontra. GODOT me interessa a partir do momento em que consigo perceber como ele não mais me interessa, como ela não me parece mais fazer sentido nos dias de hoje. Talvez para mim não faça sentido. Não faz mesmo. Talvez eu esteja querendo - não te obrigar a concordar comigo - mas, apenas, chamar a sua atenção para esta possibilidade: a de que certas coisas não nos são mais úteis como talvez tenham sido um dia (para outrem). Um esforço de atualização, por favor. Uma respiração do ar que nos circunda, agora.

Muita coisa. Enrolo-me em reflexões que me desnorteiam e anulam. Queria ser produtivo mas me lanço em impossibilidades. PARADOXO. Desse embate nascerá alguma coisa. Eu sinto, eu sei. Porque agendamos uma temporada do espetáculo para junho no Rio de Janeiro. Escrevo esta postagem pois quero agora - de fato - testar a criação desta poética negativa para, logo no adiante, apresentarmos a ti - cara Miranda - nossos ossos e nisso nosso ofício.

Por que deixar de ser? Ora, porque não quero mais ser isso que não quero mais ser.

Parece tão pessoal. E é. Você que nos vê/lê não precisa concordar. A gente concorda entre a gente. Eu, dramaturgo e diretor, e as quatro atrizes, nós concordamos que esperar Godot já deu no saco. Não queremos mais. Não quer dizer que não queremos esperar. O que não queremos é esperar o fulano lá, o dito-cujo. A celebridade ausente envolta em fascínio pós-guerra.

Desculpem-me. Atropelo-me. Muito. Liquidificador. Como agir uma poética negativa? Quer dizer que entraremos em sala de ensaio e pretendo refletir sobre os passos criativos aqui neste blog (como sempre foi). Porém, dessa vez, a operação empreendida foi trazida à consciência. E isso muda todo o percurso. Qual metodologia?

Eu sei estar agindo uma poética da negação. Eu sei que ESPERANDO GODOT não me interessa e mesmo assim estamos por sobre ele. Quer dizer: o que vai sair deste encontro? Qual será o saldo desse encontro se desde o início o encontro já se revela improfícuo e falido?

Em sua pesquisa, Flores sugere que uma poética da negação pode ser percebida como parte de um trabalho de reconfiguração do que se entende por arte, ao menos como afirmação de um desejo produtivo, que recusa a própria extinção. Aqui me reconheço e naqui me faço abrigo. Recuso esperar Godot e nisso recuso um mar de acostumamentos: recuso o vazio existencial, recuso o pós-guerra, recuso a auto-comiseração. Mas recusar tudo isso não me torna um rebelde quiçá vanguardista ou revolucionário. Recusar não resolve a vida. Recusar é movimento que abre sobre ti outra coisa, zona obscura, poço sem fim nem fundamento. Não é bem isso. Mas talvez seja. Quero dizer: agir uma poética negativa me torna alguém em densa busca sobre o essencial que se encontra perdido/escondido e misteriorisado dentro do meu trabalho (e do meu corpo).

Nem ligo. Grotowski vai nos ajudar. Eu sei que meu discurso é nublado e ofensivo. Paciência. Ou não. Recusar ESPERANDO GODOT para que a cada noite seja possível nascer VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA. Como Barthes define, MIRANDA é a nossa leitura de GODOT. Não quer ser universal, não se pretende como manual. MIRANDA é o saldo do nosso corpo-circuito com esta obra - ESPERANDO GODOT - hoje já tão massacrada e elevada pelo inconsciente coletivo de uma (ou mais) época(s).

Em que momento estamos?

Estamos sem uma dramaturgia escrita. Estamos nus. Mais uma vez, somos uma companhia de teatro imersa no caos criativo. Isso não nos assusta (apesar das atrizes já terem chorado, trocado injúrias e se ofendido). É esse o nosso ofício. Estamos ainda nos perguntando QUAL É O NOSSO PAPEL NISSO TUDO? Assim como os mendigos de Beckett.

Estamos sem uma dramaturgia escrita. Estamos sem fazer ideia de como será nossa encenação. Mas nós tínhamos uma peça não tínhamos? Sim, nós tínhamos. Não a temos mais. Ela estreou em 2010 e lá ficou. Hoje, mais que nunca, tememos essa peça que um dia tivemos. Por quê? Porque assim como ESPERANDO GODOT diz respeito a um dado momento, querer reencenar hoje a tal MIRANDA de 2010, tal como ela foi, daria no mesmo.

Confesso: o mote é recusar GODOT para descobrir sempre e de novo a cada dia o porquê de estarmos esperando MIRANDA.

Outra versão. A sensação que eu tenho é que a cada apresentação de MIRANDA uma nova versão do espetáculo será inaugurada. Talvez aí sim estejamos recusando a possibilidade de estar preso ao tempo. O nosso tempo é o agora. Só isso. É com você que nos vê/lê. Eu já escrevi algo sobre PERFORMANCE? Caso não tenha escrito, basta dizer que se trata apenas disso. É só sobre isso tudo isso. Mas tudo isso fica pra daqui a pouco, quando começarmos a nos mover.

Afinal, agora percebo: como agir uma poética da negação? Bom, talvez não seja essa a pergunta. Talvez exista apenas uma escolha, esta sim irrevogável. E ela já foi escolhida: uma poética da negação como agir. Uma poética da negação enquanto desfibrilador da arte (e nisso se encontra também a vida).

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segunda-feira, 26 de março de 2012

Novo espetáculo do Inominável estreia em abril

Espetáculo com inspiração no livro Precisamos falar sobre o Kevin, Sinfonia Sonho estreia no Rio de Janeiro após participação no Festival de Curitiba

A companhia carioca Teatro Inominável traz aos palcos o seu quarto espetáculo, dando continuidade a pesquisa do coletivo iniciada em 2008. Com SINFONIA SONHO, apresenta a história de Kevin, uma criança de nove anos que de súbito se torna alvo de um desejo: o de se tornar música, por conta de uma peça teatral que começa a ensaiar em sua escola. Inspirado nos recentes acontecimentos envolvendo o massacre de crianças em espaço escolar na cidade do Rio de Janeiro, o espetáculo visa trazer a tona um olhar mais atento e responsável sobre a infância e, por extensão, também sobre o futuro. A peça estreia dia 13 de Abril, às 21 horas, no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, no Rio de Janeiro.

Sinopse

Criada a partir do massacre de crianças numa escola municipal em Realengo, SINFONIA SONHO é uma tragédia que lança luz sobre a infância e, por extensão, sobre o futuro. Em cena, uma criança de nove anos, Kevin (Márcio Machado), é tomada pelo desejo de se tornar música, por conta da peça teatral que começa a ensaiar em sua escola.

Para saber mais sobre o espetáculo, acesse o blog: [http://oantiedipo.blogspot.com].

Serviço

SINFONIA SONHO – no Festival de Teatro de Curitiba
Quando: 06, 07 e o8 de abril (Sexta 15h, Sábado 18h e Domingo 21h)
Onde: Teatro José Maria Santos (Rua Treze de Maio, 655, Centro – Curitiba/PR)
Quanto: R$ 20,00 (Inteira) e R$ 10,00 (Meia-entrada para estudantes, idosos, deficientes físicos, professores da rede pública de ensino e menores de 21 anos, devidamente identificados)
Classificação Indicativa: 16 anos
Duração: 90 minutos (sem intervalo)

SINFONIA SONHO – no Rio de Janeiro
Quando: De 13 a 22 de abril (Sextas e Sábados 21h, Domingos 20h)
Onde: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto (Rua do Humaitá, 163, Humaitá – Rio de Janeiro/RJ)
Quanto: R$ 20,00 (Inteira) e R$ 10,00 (Meia-entrada para estudantes, idosos, deficientes físicos, professores da rede pública de ensino e menores de 21 anos, devidamente identificados)
Classificação Indicativa: 16 anos
Duração: 90 minutos (sem intervalo)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Somos esgotáveis

O esgotado é um dos últimos escritos de Deleuze, que interpreta o pensamento de Beckett a partir do conceito de esgotamento – a necessidade de esgotar o possível.
Como esgotar, então, as possibilidades?
Para definir, o esgotamento, Deleuze começa distinguindo-o do cansaço. "O esgotado é muito mais que o cansado. O cansado não dispõe mais de qualquer possibilidade (subjetiva) - não pode, portanto, realizar a mínima possibilidade (objetiva). Mas esta permanece, porque nunca se realiza todo o possível; ele é até mesmo criado à medida que é realizado. O cansado apenas esgotou a realização, enquanto o esgotado esgota todo o possível. O cansado não pode mais realizar, mas o esgotado não pode mais possibilitar. Não há mais possível: um espinosismo obstinado. Ele esgotaria o possível porque está esgotado ou estaria esgotado porque esgotou o possível? Ele se esgota ao esgotar o possível, e inversamente. Esgota o que não se realiza no possível. Ele acaba com o possível, para além de todo cansaço, para novamente acabar.(DELEUZE, 2010: p.67).
Mas apenas o esgotado pode esgotar o possível, pois renunciou a toda necessidade, preferência, finalidade ou significação. Apenas o esgotado é bastante desinteressado, bastante escrupuloso.” (DELEUZE, 2010: p.71).

Para Deleuze, há quatro modos de esgotar o possível: formar séries exaustivas de coisas, estancar os fluxos de voz; extenuar as potencialidades do espaço e dissipar a potência da imagem.

Bibliografia: DELEUZE, Gilles. Sobre o teatro. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 2010.

sábado, 17 de março de 2012

Segunda Carta a Miranda

Divina Miranda,

Coube a mim sentar para lhe escrever. As meninas acabaram de sair, depois de uma longa reunião que terminou em íntimos marejados e olhos ultrajados. Mais uma vez, quando não tenho o que dizer, opto sempre por ser sincero. Então que fique claro: eu ainda não sei como fazer para você chegar. Ao mesmo tempo, é nessa espera que a sua ausência dinamita uma busca que não nos deixa morrer. E que nos faz ficar. Mas que também nos faz sofrer.

Paciência. Elas foram embora esgotadas. Você precisava ver. Quatro atrizes e um diretor. E o que nos une é essa tentativa de encenar “Esperando Godot”. Mas essa peça não faz mais sentido. Eu tento dizer que isso faz parte do processo, mas às vezes – como hoje – elas me olham e me provam via olhar que de fato não há nada nessa busca. Então a gente respira. E como estamos em eterna tentação, ousamos no segundo seguinte fazer do nada algo possível.

Ora, por que não? Se Godot não veio é porque talvez ele tenha morrido. E você, fará o mesmo conosco? Não precisa responder. É que a sua dúvida alimenta a impressão de que existimos. É isso. Queremos correr o risco de te alcançar ao mesmo tempo que correr do risco de alcançar alguma coisa, qualquer coisa. Nós queremos alcançar o correr do risco para reconhecer nele, ainda em movimento, que vazio é o que não falta, Miranda. Ao contrário de você.

Do seu,

Diogo Liberano

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Por que QUEM ALCANÇA SEMPRE ESPERA?

Porque é óbvio, não? Você come um doritos e após acabar com todos, restará perdido dentro de você o desejo de mais um, de só mais um. A galera sabe disso. A galera se aproveita e desce a mão. Tem um chocolate no Brasil chamado Bis. Quer dizer, ele nos sugere que talvez possamos querer sempre mais um, sempre mais, sempre.

Acho que quem alcança - aquilo que deseja - sempre espera porque o desejo é força renovável. O desejo não acaba. Não enquanto formos vivos. É essa a ordem natural. E se não soubermos disso, nos cobraremos um mar de insatisfações que só nos fazem mais desenfreadamente consumir, na tentativa de dar conta do segundo. Espere um instante. Nós podemos restar sem sentido. O sentido é só um pedaço de chocolate. Que quando deglutido, acaba e nos deixa enfim ansiosos de novo pela redenção que o consumo parece causar.

Em VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA a coisa da espera não faz sentido. Por isso invertemos o ditado popular. Por isso agredimos o ditato popular, o inconsciente coletivo. Não vem com esse papo de que quem espera sempre alcança. Nem sempre alcança. Quem espera fica sedentário, isso sim. Quem só espera engorda e falece seus sonhos. Ou nem isso. Podemos apenas nos olhar no espelho e perceber que aquele que alcança, sempre vai ficar a espera do que ainda não veio. Ou do que veio e poderá enfim vir novamente.

Somos máquinas desejantes, já diria Deleuze e Guattari. É verdade. Pura verdade. Nossa condição natural é a de ser esquizofrênicos, em profunda relação kinestética com o mundo e seus valores, suas relações e composições. Se sabemos disso, o desafio reduz seu tamanho - que é grando posto seja reificado - e a vida ganha uma simplicidade que beira a um jogo simples de ligar e desligar, de ir e vir, de ser e estar. Quero dizer: vamos ser conscientes de toda a nossa merda, de todo o nosso não-sentido, vamos ser donos da nossa falência para, no mínimo, podermos rir disso.

É isso. Quem espera escolhe esperar. Quem alcança, por extensão, também pode escolher chegar lá. Onde quer que seja o lá. Onde quer que seja o aqui. Quem espera sempre alcança para que você perceba que está faz minutos sentada na frente do computador quando o mundo te convida a ser você e você faz o quê? Espera. Como um burro na multidão de burros. Como um potencial desistido no mar de desistidos.

Levante.

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sábado, 25 de fevereiro de 2012

E por que somos inesgotáveis?

Porque o espelho foi quebrado e precisávamos colar.
Partiram-se caquinhos de nós na colagem.
Ao colar fez-se caquinhos de imagem. Como um quebra-cabeças de 1 milhão de peças só que sem peças e sem encaixe possível.
Talvez o problema seja a rotação da terra, ou a circulação do sangue.
Impossível de estancar, prosseguimos tentando.
Não vejo a hora do menino chegar.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Segunda tentativa: Por que as 4 evangelistas?

Por que as quatro evangelistas?

4 atrizes – 4 evangelistas
2 ladrões – 1 diretor + 1 menino
1 salvador – Miranda
“Dois ladrões crucificados lado a lado com o nosso salvador.”
Apenas um é salvo, mas sua existência não se configura de fato. Está à margem da história, pois o único que importa realmente é o salvador, que morreu, ou que nem existiu, mas que todos esperam chegar.
“Como é possível que, dos quatro evangelistas, só um fale em ladrão salvo? Todos os quatro estavam lá – ou por perto – e apenas um fala em ladrão salvo.”
3:1. É a nossa mesa torta, enquanto 3 pesam de um lado 1 se eleva no tampo da mesa. Se houvesse consenso não haveria uma boa dramaturgia.
“Todos os quatro estavam lá. E só um fala em ladrão salvo. Por que acreditar nele e não nos outros?”
Porque acreditar no salvador? Em Miranda? Nas atrizes? No diretor? Nos ladrões? Acredito em quem cria as verdades mais verossímeis, ou as mentiras mais sinceras.

Quarta tentativa: Quem alcança sempre espera, aonde?

Quem alcança sempre espera, aonde?

Por partes.
“Quem” se refere a nós, 4 atrizes e um diretor.
“Alcança” o que? Godot? Miranda? A construção de uma peça? Mas qualquer peça? Tem importância aonde queremos chegar? Claro que tem, senão não estaríamos novamente pensando “Miranda”. E agora me deu uma certa aflição, porque não sei aonde queremos chegar com tudo isso. Se não sabemos, nunca chegaremos, portanto, nunca esperaremos.
“Sempre espera” é um termo dual. Esperamos Miranda, mas como nunca alcançamos a peça, estamos sempre tentando, e não esperando acontecer. A espera então não é ação, mas temática e ficção, é um mote, no máximo uma crença de que em algum momento conseguiremos terminar essa peça. Não se trata mais de Miranda ou Godot, e sim de nós mesmos, da nossa criação.
“Aonde”? Fácil, na sala de ensaio, nas mesas de café, nas mesas de bar, na nossa sede, no palco, em frente ao computador, ou em qualquer lugar que nos propormos refletir sobre o vazio que nunca falta.
Resumindo: Nós nunca alcançamos, portanto nunca esperamos, mas esperamos alcançar.

E DONDE somos inesgotáveis?

Donde a dor engole o choro e nos convida a prosseguir.
As quatro evangelistas descobriram-se enormes, lindas, potentes, fortes, elas se amam, elas se querem e tudo isso pra poder seguir sem tanto sofrimento. É possível ser feliz, mais uma descoberta.
Miranda,veja quanta coisa estamos descobrindo e queremos compartilhar isso com você, se você chegasse agora Miranda você seria enfeitiçada por nós, você sumiria na luz ofuscante das nossas presenças. Nossa capacidade para o amor é inesgotável. E para o sorriso. E para o trabalho. Prosseguimos...sem Miranda, ainda é possível...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Onde as quatro Evangelistas?

Religião pode ser trapaça. Tem sido assim com a grande massa.
Mas a religião interior não. Nunca suportei quem fale mal da fé.
Racionalmente entendo todas as questões científicas levantadas em torno de Deus.
Mas creio tanto e o acaso é tão forte. Sinto muito. Sou extremamente sideral.
E Jesus? Jesus pode ser tanto e infinito. Todas as religiões me dizem coisas e me dão tanto.
O teatro é sagrado, e é mesmo- (talvez por poder devolver o tanto que recebo?).
Não importa quem disse o quê e o porquê de todos acreditarem em uma e não nas outras.
As quatro evangelistas não existem, estão tão longe... e por isso ainda na sala de ensaio.

TERCEIRA TENTATIVA: Por Que E Somos Inesgotáveis?

O princípio, a gasolina, o que nos move em Miranda é a certeza de sermos inesgotáveis.

Aquilo que se esgota nos permite pensar que tudo o que foi feito teve um fim, por isso se esgotou, não dá mais, está acabado, está redondo, um esgotamento é uma ideia fechada e pronta, é um dado, um fato, "isso se esgotou", ficamos satisfeitos com esta constatação porque parece que mesmo sem sucesso podemos partir para outra sem o peso do abandono na consciência.

A inesgotabilidade nos possibilita gastar o que já foi feito, tornar a abrir o que parece fechado, deixar que acreditemos que não foi acabado o que já se bastou por tantas vezes. Ser inesgotável é qualidade do que pisa em cima de novo, do que torna a acreditar que ainda há suco, ainda dá caldo, e essa quantidade de tentativas pelo mesmo fim ou mesmo objeto transforma o ser humano num buraco sem fundo, num fora da lei.

Por que e somos inesgotáveis? Sim. Para conseguir dar cabo de Miranda até o fim.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

POR QUE as quatro evangelistas

Porque precisamos nos distrair...mentira, por que precisamos falar, sim, falar, dizer, deixar gastar, vociferar, regurgitar, escandalizar, latir. O enterro de Godot nos imobilizou por um instante, por um instante nos deixamos fragilizar diante do silêncio cor de luto que se fez naquele momento, silêncio ensurdecedor que pipocava em nossos corpos. Eis que então juntas, a decisão: vamos praticar conversação. Você se lembra? O que você me diz? O que você quer dizer? Fale eu escuto, falemos todas, falemos junto. Começa então a pregação...
Mas atenção ao seguinte fato, as palavras evocadas ao contrário do que se poderia pensar, estão mais próximas da prece que da doutrina, não é instrução é súplica.

o drama que nos urge

meninas, vou falar sobre a nossa dramaturgia. sobre como demos muitas voltas para ganhar a consciência da importância de nossa invenção ainda não toda assumida. falo de miranda. dessa vadia desconhecida. falo de como é preciso encadear dramaturgicamente os passos e as tentativas. aos poucos essa clareza me cega e exige sua expressão. dentro de mim os pedaços se aglutinam e pedem reconhecimento. é quase um desespero. sendo assim, a seguir, esboço algo a partir do que escrevi no ônibus indo para o ensaio. aquilo que li a vocês, mas que sei não estar profundamente claro. naturalmente que ao passar para o blog, já vou tomar o cuidado de clarear ainda mais a parada. mas peço que vocês cliquem aqui, meninas. para não esquecermos de fato quando a clareza deve aportar. é lá na frente. é daqui a pouco. mas não é agora. agora é só confusão.

segue abaixo o descritivo de cada tentativa tomando miranda como eixo central, como eixo ao redor do qual o drama há de acontecer:

PRIMEIRA TENTATIVA_ESTAMOS ENTERRANDO GODOT

As quatro atrizes hesitam para aceitar a morte de Godot. A peça começa e já é quase um pré-luto. Em silêncio, elas talvez remoam o fato de terem sido elas as responsáveis pela sua morte, afinal, por tanto tentar encená-lo, acabaram por consumir sua última força, sua poesia e drama. Assim, elas demoram a aceitar o fato que acaba sendo imposto por uma delas: estamos enterrando Godot. É isso. Ele morreu. Não dá para fingir que é outra coisa. A partir dai é só assumir o fato porque - inclusive - é preciso que ele morra para que se possa ultrapassar tudo isso, para que se possa esperar por outra coisa que não mais o mesmo. Eis então que surge Miranda, tão aleatória e avassaladora como a própria vida.

SEGUNDA TENTATIVA_AS QUATRO EVANGELISTAS

Quem é Miranda não parece importar de antemão. Importa ter algo em mãos, isso sim. Importa não dormir no enterro de Godot. Ou seja: mal morre Godot e surge Miranda, as atrizes já começam a louvar sua nova deusa. Quem é ela? Repito: não importa dizer. Miranda talvez seja só o nosso jogo, o jogo entre eles, o encontro e os íntimos movidos e costurados, ouvidos e respeitados. Miranda é a diferença agindo sem contraindicação. Quero dizer: é como se Miranda fosse mesmo uma nova religião, uma nova ideologia, um porto-seguro capaz de comportar o vazio de nossas existências. Mas isso resolveria?

TERCEIRA TENTATIVA_E SOMOS INESGOTÁVEIS

Não. Porque elas são inesgotáveis. Porque somos inesgotáveis, é vero. E quem nos fez descobrir essa potência foi Miranda. Sua busca dinamitou nosso corpo e sentidos. Buscar Miranda (que não sabemos que não virá) é nos descobrir como estrelas de pontas luminosas e cortantes. Nós somos inesgotáveis. É Miranda quem nos permite reconhecer nossa potência latente e desesperada. Miranda me faz ser quem eu sou sem saber que sou.

QUARTA TENTATIVA_QUEM ALCANÇA SEMPRE ESPERA

Pretensa consciência. Que não resolve nada. Afinal, o que falta para ser resolvido? Quanto mais vai pior fica. Disse alguém certa vez. É o tempo que está passando. E o que fazer? Vamos improvisar. E nisso, elas descobrem que, de fato, quem alcança sempre espera. E não o contrário. Miranda fez nascer em cada uma certa ousadia, certa propensão ao impossível. Sim, como elas podem inverter os costumes sem arcar com o risco? Como podem destruir o comum e se manterem vivas? Nesta brincadeira de televisão, já tão cheias de si e autônomas de Miranda, as atrizes trazem o corpo morto de Godot para enciumar sua deusa divina. Elas descobrem no Godot morrido a falência da qual não possuíam consciência. É brincando que a vida se reorienta. É no jogo que a vida se desorienta. Em outras palavras: é fingindo que Miranda não importa que sua necessidade se faz mais legível e tangível. Paradoxo armado: é não esperando Miranda que mais a esperamos de fato.

QUINTA TENTATIVA_O NOSSO PAPEL NISSO TUDO

Crise existencial. As atrizes se percebem amarradas a tal Miranda. Fodeu geral. Seria possível não mais buscá-la? Mas Godot está morto e Miranda - elas começam a suspeitar - talvez seja apenas outro Godot, um Godot mais delas do que de seu passado. Miranda seria filha de Godot? Pelo amor de deus, quem é ela? Importa saber? Miranda é só um Godot com data de nascimento mais colada a nossa. É um Godot Guerra Fria e não pós-guerra. É abertura, neoliberalismo e globalização. Miranda é puro espetáculo, é pura sedução. Miranda tornou a vida algo insuportável. Qual seria então o papel dessas quatro atrizes? Qual é o papel delas nisso tudo? É melhor fugir da vida, elas constatam. E nisso se munem do outro que não elas para aguentar o tranco. As atrizes se trancam enfim dentro da ficção.

SEXTA TENTATIVA_NÃO QUEREM REPRESENTAR?

Mas dentro mesmo da ficção, elas acabam descobrindo que Miranda as persegue. Miranda é pura existência. Não dá pra escapar nem mesmo quando em ficção. Ou seja, não adianta fugir. Miranda é vida. E criação também é. A ficção que serviria para desembaraçar a vida acaba embaraçando ainda mais tudo isso. A ficção, maliciosa, acaba adensando tudo aquilo que por vezes tentamos não lidar com inteireza e profundidade. Quem somos nós, afinal? Somos vida? Ou ficção? Isso é vida real?

SÉTIMA TENTATIVA_EL SILENCIO DE MIRANDA

O telefone toca. Ainda bem. Mas é Miranda. O diretor disse ser Miranda. Enquanto ele sai para atender o telefone, as atrizes trocam entre si declarações passionais sobre o absurdo de sua situação. Elas não aguentam mais. Mas o diretor retorna e tudo volta a ser o que era. Ele diz que Miranda não virá. Ele diz que ela ligou e que informou não ser possível chegar a tempo. Comoção geral. Nem sei explicar. É quase um clímax. Miranda não vem mesmo. Desespero e agonia. Comem potes inteiros de leite condensado. Nesse auge descompensatório, uma das atrizes se faz imune ao drama e bate na cara de Miranda: lhe diz as verdades, diminui nossa deusa, para ficar por cima. Puxa seus cabelos e a reduz a quase nada. Sem ser explícito, percebemos que para aguentar a falta de quem amamos é mais fácil agredir nosso amor, diminuí-lo.

OITAVA TENTATIVA_O MENINO

Espera. Nem tudo está perdido. A cova que Miranda abriu e não veio nela se deitar, é antes playground do que convite ao suicídio coletivo . Não vamos partir. Vamos ficar. Porque estivemos esse tempo entre nós reunidos. E isso bastou. Miranda é pretexto para o encontro. E aqui estamos: encontrados. Nos achamos nesse mundo cheio de tanta gente talhada a quina e não a afeto. Miranda me fez encontrar vocês, meninas. E me fez olhar de volta ao mundo, a procura de suas feições, de seus gestos e sentidos. Miranda me fez amar o meu medo, o meu pior, me fez cruzar limites como fossem meus limites apenas riscos de giz no chão da infância. Que não venha, Miranda. Que fique na sua imensidão inatingível. Que seja como são os deuses, meros pretextos para sermos sozinhos e quase invisíveis. Só que aqui estamos reunidos e a sua espera. E amamos essa nossa vocação. É te esperando que nos encontramos. É a cada espera a ti destinada, cara Miranda, que mais nos olhamos olhos nos olhos. Que mais nos despimos e andamos pelados dentro e fora de nossas caixas. Podemos fazê-la chegar. Mas vamos fingir que não sabemos disso. Vamos continuar fingindo. Por hoje vamos fazer chegar só o menino. Por hoje, só o menino. Só a criança capaz de seguir brincando com o destino. E isso nos fará dormir com o coração quentinho e satisfeito.

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

E por que SOMOS INESGOTÁVEIS?

Porque talvez tenhamos perdido o sentido do mundo e ainda esteja sendo necessário reinventá-lo. Somos inesgotáveis para descobrirmos nosso fundo e nosso fim. De quem falo? De nós criadores ou de nós personagens? Falo de nós nós, de nós encontro e enlace entre mundo e criação. Somos inesgotáveis porque o sentido não basta. Não quando se conhece o movimento. Poder ir para lá e para cá torna a vida único momento, performance que nasce e morre, com duração precisa e imprevistada. Quero dizer: somos inesgotáveis porque podemos ser. Somos porque não podemos. Quem nos pode dizer a real da parada? Talvez não possam. Então a gente força a forca e tende ao suicídio. Somos inesgotáveis porque nem todos são. Nem todos têm como nós temos certa propensão ao delírio. Para rolar sobre o chão rindo do nada. Que vazio o caralho! A vida é cheia de tudo e mais um pouco. O vazio é para os fracos. E nós brincamos de vazio para ficar forte. Para se ver nisso investido e nisso ir aos poucos - quem sabe - acreditando que é possível ser diferente. Que é possível ser diferença?

trabalho com princípio de desplugamento

É isso. Somos inesgotáveis porque amamos a diferença. Mesmo que doa que destrua e desoriente. Amamos a diferença porque sabemos que ela reina ali em cada poente. Que é sempre o mesmo e sempre outro. Até no mais imutável multiplicamos as possibilidades e o mundo enfim se prova grande e em movimento pleno. O mundo feita tentativa. Somos atores. Somos cínicos. Somos promessas constantes de mundos possíveis ou não. Somos porque podemos não ser. Elas são inesgotáveis porque esse é seu papel nisso tudo. Dar exemplo a multidão domesticada. Eu me corto para que você duvide do seu corte, para que você duvide dessa imposição sobre ti automatizada.

Desculpem-me. Por vezes me perco e começo a nada dizer. Viram como o nada se diz o tempo inteiro? Nós que fomos treinados - domesticados - a sofrê-lo ao invés de o viver. Por favor. O nada está ai pra todo mundo e é preciso ser inesgotável para recebê-lo. Não é papo. É muito isso, gente. Nem todos se deixam ser porto para a qualquer coisa. Quando foi que aprendemos que o bom é bom e o ruim é ruim? O mundo virou enciclopédia muito rápido. Por isso somos inesgotáveis, porque nosso iluminismo é perfurado por breus absurdos. Graças! Graças a escuridão hoje somos isso: inesgotáveis.

Sabem dúvida que não se duvida? Sabem paradoxo pedra? Que não se resolve, que só se impera sobre o mundo e tudo mais? Pois bem: somos inesgotáveis porque duvidamos do que já foi dado como concreto. Duvidamos das pedras, dos peitos blindados e das peles intransponíveis. Quem disse que o concreto é fechado que a pedra é dura que o blindado é eterno e que a pele é esconderijo? Duvidamos de tudo isso e é ameaçando a certeza do mundo que dinamitamos nosso corpo em direção ao impossível.

E isso é lindo. Eu quero ser inesgotável. Porque mesmo depois de morto sei que ressoará minha inesgotabilidade em muitos mil flashes em muitos mil sorrisos. Sei que a impaciência morrida vai reluzir na memória no livro na história na esquina. Somos inesgotáveis porque nos multiplicamos em quem nos assiste. Somos inesgotáveis porque não cessamos a busca pelo o que nos deram já como resolvido.

Somos inesgotáveis porque duvidamos. Porque o mundo precisa ser posto em cheque, all the time.

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