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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ensaio #10

Sala Vianinha – ECO/UFRJ - 26/04/2010 – 13h às 16h30.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa e Fabíola.

Trabalho com Viewpoints. Fechamento dos jogos. Estímulos: texto, performance, Richard Wagner. Antes de começarmos, conversamos bastante sobre os textos postados no blog, falamos sobre Nietzsche e aforismos, sobre Sonho, a partir dos escritos de Freud. Sugeri às atrizes que quando lessem a palavra “sonho” em algum texto, a substituíssem pela palavra “encenação”. Estou pensando a encenação como um sonho. Como um “entre”, palavra da Flávia. Como um “talvez”, palavra do Beckett. Pensei nisso hoje, pela primeira vez, ao conversar com as atrizes no ensaio. E na mesma hora, como um trinco, surgiu na minha cabeça a imagem-sonho como representação/concretude de toda e qualquer possibilidade:

e la nave va... fellini...

Viewpoints. Fizemos um longo VP aberto hoje. Não falei que seria isso, mas as conduziu nisso, para isso, com tal intuito. Fui orientando os caminhos pelos quais gostaria que elas tocassem, com intuito de experimentarem aquele encontro. Arquitetura (chão, poeira, madeira, parede, ventilador, cadeiras, mesa, tinta, tomada, interruptor, ruídos, portas, entradas, saídas, fugas, escapes, piso, azulejo, preto, branco, teto,…). Relação Espacial (aproximação, afastamento, distância, espaço do entre, em relação a si, às outras, ao espaço, deslocamentos,…). Repetição (daquilo que foi feito hoje, ontem, nos outros ensaios, de um gesto, movimento, intenção, respiração, sua, do outro, da outra, incessante, sem parar, repetição como segredo da atriz que não quer ser lida de primeira que não quer se gastar por inteiro, repetição como mistério, sem indicação, como repetir sem dizer que se está repetindo?, …). Antes que eu pudesse sugerir o trabalho com o viewpoint de duração, elas começaram a brincá-lo. Falavam em tempos dilatados a palavra POOOOOOOORRRRRRCOOOOOOO. PPPPPPPPPPPPPPPPPPPORCOOOOOOOOOO. POOOOOOOOOOOOOOORRRCCCCCCCCCO… Um início. Mais um.

Dos jogos. São seis a partir dos quais ergueremos nossa encenação. São eles:

3:1 . PdD – Princípio do Desplugamento .
RODÍZIO . CORIFEI . DICOTÔNICO . FALA PERDIDA .

Dei os nomes dos últimos quatro jogos, cada um originário das composições que as atrizes haviam apresentado no ensaio anterior. Vamos gastar o próximo ensaio estreitando as regras de cada jogo. Eles servem demasiadamente a nossa encenação. Dizem respeito à fala e ao corpo. À quebra das personagens em vozes tomadas pelas atrizes. Dizem respeito à angústia de não conseguir dizer e conseguir dizer (para se perder novamente em incompreensão). Tais jogos são potências de uma estética que estamos desvelando. São porto-seguro para o se lançar em alto mar. São multiplicação. Relação e rede. Tiro e escudo.

Comentários sobre o VIEWPOINTS ABERTO que começou 14h28 e terminou às 16h03:

  • luta entre VLADIMIR e ESTRAGON, com uma outra atriz se passando por JUÍZA e outra por PONTO (com o livro de GODOT na mão);
  • em alguns momentos, surgiram implicâncias entre elas (uma fazia, outra desfazia algo);
  • a configuração cenográfica que elas arranjaram atrapalhav a visão da cena;
  • flávia derruba cadeiras, uma a uma, adassa as levanta, uma a uma, fabíola então vem e derruba ao mesmo tempo uma pilha com no mínimo 10 cadeiras, causando uma pausa nas outras, que a olharam perplexas;
  • ada repete uma série longa de tentativas para subir na pilha de cadeiras (a repetição vira dança, coreografia);
  • o texto em muitos momento vira muleta, salvação, fuga, escape ao vazio de estar no palco em relação com as outras. assim, fiquei pensando, não seria possível 1º) não ter o texto; depois 2º) tê-lo; depois 3º) gastá-lo, secá-lo, destruí-lo; para em seguida 4º) cair num silêncio que representa justamente a falência da fala, do verbo, da tentativa de compreensão/definição?;
  • dicotônico (3 atrizes dando o texto enquanto Flávia realizava o gestual);
  • repetições de uma mesma fala com intenções diferentes;
  • ada traz de volta o papel da comentadora, feito numa improvisação nos primeiros ensaios;
  • a flávia me disse depois que a música do Wagner sugeria um quê de representação, enfim – já são palavras minhas – mas concordo com ela ao perceber que AS VALQUÍRIAS fez surgir um movimento de representação assumida, de teatro, eu diria, um movimento pelo qual as atrizes se revelaram mais barrocas e interpretativas, um tanto “overs”;
  • caroll investiu num dado momento numa espécie de atriz que é passional, over, demoníaca, ao mesmo tempo que mimada e péssima atriz. chorando e interpretando com força e desespero. me fez pensar em qual papel cada atriz faz quando já não lhes restam mais personagens. que papel interpretam que não o personagem? que papel interpretam que não elas? que atriz a atriz será?
  • ada me sugeriu uma atriz meio deslocada, perdida, tentando encontrar um espaço do qual fazer parte. isso é bom, denota busca, movimento, tentativa;
  • fabíola sugeriu uma espécie de atriz presa ao texto. como se estivesse recorrendo a ele para ver se o que está sendo feito diz respeito ou não à peça. por vezes, me parecia paranóica com tudo aquilo;
  • elas brincaram bastante com a luz do sol que entrava pela janela e marcava o chão. isso me fez pensar no foco de luz que recái sobre uma área quase impossível de ser habitada, fazendo com que as atrizes se esforçem (e se dobrem) fisicamente para ficarem no foco ou mesmo, me sugere apenas a resignação das mesmas com a penumbra;
  • ANAGRAMA. ao término, ficaram uns bons minutos falando um LEITMOTIV de GODOT: (VAMOS EMBORA. NÃO PODEMOS. POR QUÊ? ESTAMOS ESPERANDO GODOT). depois de muitas repetições, de variadas intenções, de RODÍZIO entre elas, a Caroll acabou dizendo VAMOS EMBORA PORQUE NÃO PODEMOS ESPERAR GODOT. anagramando – do verbo ANAGRAMAR – o original de Beckett, sem acrescentar-lhe palavras.

car.fla.ada.fab.fab.ada.fla.car.

As atrizes selecionaram um trecho do texto para o próximo ensaio. No qual trabalharemos os registros META e TEATRO e investiremos em alguns dos seis jogos, além da prática dos viewpoints. Seguir.