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domingo, 24 de março de 2013

"Esperar Godot não faria mais tanto sentido..."

Confiram um trecho da matéria escrita por Luciana Romagnolli, especial para o jornal GAZETA DO POVO, de Curitiba, sobre o retorno do Teatro Inominável ao Festival de Curitiba. E não deixe de acessar o link [http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/festivaldecuritiba/conteudo.phtml?tl=1&id=1356229&tit=Conectado-ao-melhor-da-cena-teatral] para conferir a matéria completa.


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quarta-feira, 20 de março de 2013

VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA no Rio de Janeiro

O Teatro Inominável embarca para Curitiba no início de abril, para apresentar sua comitragédia VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA na Mostra Fringe do Festival de Curitiba. Mas, antes, ainda no Rio de Janeiro, a companhia se apresenta dentro da Pesquisa Dramaturgia Cênica, desenvolvida pela professora Rosyane Trotta na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).



As apresentações serão na Sala Roberto de Cleto, no 6º andar da Escola de Teatro. Serão apenas duas apresentações, ambas às 16h, uma na terça-feira (26) e outra na quarta-feira (27 de março). Após as apresentações, alunos do curso de Direção Teatral da UNIRIO farão um debate com diretor e atrizes de MIRANDA.

Confiram o teaser e o flyer de divulgação. E compareçam! A entrada é franca.


terça-feira, 12 de março de 2013

Sobre descobrir a performance enquanto ficção ---


Começamos o processo em sala de ensaio no inicio de 2010. Estreamos em julho deste ano e cumprimos duas temporadas, uma em setembro e outra em dezembro de 2010. Em 2011, segui estudando a peça como objeto de análise dentro de uma pesquisa desenvolvida dentro da UFRJ com orientação da professora e artista plástica Livia Flores. Em 2012, fomos chamados a ocupar a sede da Cia. dos Atores, realizando a terceira temporada. E no segundo semestre, participamos da Mostra Hífen de Pesquisa-Cena, realizando a quarta temporada exatamente dois anos depois da estreia. Escrevo sobre a nossa trajetória porque a cada temporada aprendemos mais sobre a peça e entendemos mais do que ela é feita e de como se manifesta. Ou seja: sua expressão ainda é um mistério e faz parte de Miranda a dificuldade em prender, segurar, fechar, firmar, entender... Por isso, nas duas últimas temporadas, em 2012, entendemos entre nós que Miranda é menos peça de teatro e mais performance. Não que essas classificações importem, mas, conceitualmente, nos limitam e libertam ainda mais. Quero dizer: o nosso referencial de performance é menos da sala preta e mais da vida (são artistas inúmeros que fazem de seu próprio corpo a obra, o protesto, o sentido...). A performance começa em você, no corpo do performer, e tal como ela, nosso espetáculo foi cada vez mais solicitando às atrizes a doação completa do seu corpo e da sua presença. No entanto, queríamos ainda contar aquela história, apresentar aquela situação primeira (das atrizes e do diretor tentando encenar a obra de Beckett). Nesse sentido, nos vimos num paradoxo: queríamos o nosso corpo e a nossa voz, mas tínhamos que inseri-los numa ficção, numa peça, com outras falas e opiniões que não somente as nossas. Nesse sentido, fomos assimilando que a presença que a linguagem da performance pode trazer ao ator poderia também ser usada num palco, dentro da estrutura dramática de uma ficção, de uma dramaturgia. Para além do corpo, da fala, a performance é uma força que presentifica aquele que se dispõe a estar. Por isso dizemos que a peça nos fez descobrir a performance enquanto ficção. Porque mesmo tendo um espetáculo com texto fechado, encontramos diferenças a cada apresentação, por conta da presença honesta e radical que o trabalho com a performance foi capaz de nos dar. Qualquer ficção, qualquer mentira ou invenção pode ser sincera, desde que expressada por um corpo que se disponha à sinceridade do encontro.
   

domingo, 10 de março de 2013

Que porra é essa de Miranda, Vello?

Vello ---

é domingo, 10 de março. Daqui a alguns minutos você e as meninas do elenco desta peça chegarão em nossa sede, para mais um ensaio de VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA. Eu escrevo isso aqui porque quero te propor uma coisa: enquanto estou na sala, ensaiando com Helena e Nielsen, peço que você e Martins fiquem no escritório, pesquisando algumas coisas.

A você, Vello, peço o impossível: na primeira cena do espetáculo você propõe esperar Miranda. Eu nem sei de onde você tira isso. No entanto, você propõe isso e leva todos nós junto. Perceba que após propor esperar Miranda, a sua parceira de cena, Helena, na mesma hora vai consultar (de forma aleatória) no dicionário o que possa ser isso de Miranda: e vocês se afetam pelo sentido que ela traz.

Mas eu quero mais. MIRANDA é uma peça que mexe na cognição, na nossa forma de entender e assimilar o mundo, de criar e estabelecer sentido às coisas (mesmo ao vazio, mesmo ao nada, mesmo ao não). Portanto, não podemos ficar tão soltos. Pelo menos para nós, os jogadores dentro da arena, é preciso clareza irrevogável (ou como já dito, honestidade radical).

Assim, preciso que você me diga de onde sai a proposta Miranda. Mais que isso, preciso ver ela nascendo em cena (tudo mentira, mas tudo verdade, tudo pra lá e pra cá, ou seja, vida pura, complexidade nata). Preciso ver tudo isso em diálogo com as ações das outras atrizes no correr da peça. E, mais importante, preciso ver o momento exato em que você resolve desistir do jogo proposto por você mesma: quando você faz Miranda chegar. (Não temos potência neste momento, mas ele é tipo uma chave que aciona o cômico do trágico e vice-e-versa).


O que significa Miranda chegar?

Quem é ela para que possa chegar embutida numa cadeira??

Miranda chega porque estávamos esperando por ela???

A espera é algo intolerável, por isso você resolve fazê-la chegar????

Mas o que uma cadeira é capaz de satisfazer (pensando que a espera anunciava alguma falta)?????


Você não poderá passar por essa peça sem resolver isso. Seja complicado ou não, é necessário. Vamos agudizar o seu jogo.

Dica: pense em três momentos de Vello na peça (como um percurso mesmo):
1. A proposição de esperar por Miranda;
2. O cancelamento da proposição e a realização da chegada de Miranda;
3. A entrevista com elenco fictício da peça "Esperando Godot".

Esses três momentos dizem tudo sobre você, sobre o seu temperamento, sobre o seu caso com o tal ESPERANDO GODOT. Cito a seguir um trecho do artigo que escrevi sobre nossa peça:


Através de uma sucessão de tentativas para encenar GODOT, agimos certa “poética da negação” porque, após um processo que durou mais de um ano, desacreditamos no esperar de Godot e, ao invés de encenarmos outra dramaturgia, encenamos a nossa própria dificuldade em ter que dar sentido àquilo que não mais nos servia.

Incomodou-me enormemente ler uma peça na qual as personagens sofriam a espera de outro personagem que jamais viria. Ora, por que não livrar tais personagens desta agonia que se repetia desde a primeira montagem em 1953? Ou como aceitar esta espera numa época como a nossa, tão indisposta a não satisfazer imediatamente seus desejos? Ao invés de esperar Godot, optei por inserir antes do verbo “esperar” o prefixo “des”, modificando o sentido da espera e anunciando uma ação via negativa. Desesperar Godot nos fez assim perceber que a nossa encenação seria puro jogo e, portanto, espaço aberto ao imprevisível. Éramos nós contra o tão aclamado texto de Beckett. E como num jogo, ou guerra, a imprevisibilidade nos assaltava a cada passo. Descobrimos nesse percurso maneiras distintas de sobrevivência, relação e cognição. Desfibrilamos o GODOT que considerávamos morto para descobrir ainda vivo – em nós – algo dele que ainda nos fosse sensível. 

Bom trabalho,
Liberano ---