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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

último final de semana de nossa segunda temporada

Neste final de semana, contamos com a participação mais do que especial da atriz Dominique Arantes. Venham nos assistir!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Como ser ficção.

Meninas,

começo a escrever aqui o desenho mais preciso que consigo de cada tentativa (cena) de nosso espetáculo. Estamos contagiados com o instável, com o terror que pode - de fato - chacoalhar as estruturas da cena e trazer  o novo. Esquecemos, talvez, que quem ali nos assiste - Miranda - não compartilha conosco nada além do presente. Miranda não tem passado nem sequer futuro. Ela não sabe do processo nem de tudo o que fizemos para estar ali. Miranda apenas é e está, disposta ao desconhecido que nós aos poucos desbravamos ante a ela - sem pretensão ou desejo de explicar, esclarecer, elucidar, dar sentido... Enfim.

O que resta, no além de Miranda, somos nós. Meros descontentes que a cada fala e cena quer rever o tom e refazer para melhorar. Para ser melhor e melhor e, um dia quem sabe, conseguiremos ser infelizes por completo. Tenho percebido isso, o fato de a angústia nossa ser mesmo criacional. Fizemos espelho nos personagens de Beckett e enquanto eles sofrem a existência, nós sofremos a nossa condição: aquela do ser artista, que estreia a todo e cada dia querendo se possível ser eterno, querendo se possível não morrer e domar os segundos. Mas não... Não vamos conseguir frear o que não se freia. Não vamos parar nada, nem sequer um segundo.

O que fazer então? Se a vida avança e nos leva junto? Se a sensibilidade que notamos ter nos machuca mais que encanta? Talvez tenhamos chegado ao limite primeiro e real de tudo isso. Lembram-se do limite? Pois então... Estamos no exato ponto em que para dar cabo à vida, as nossas questões mais internas e inteiras, talvez se mostre preciso torná-las ficção. Chegamos ao limite no qual a nossa sinceridade já não serve mais, porque a consumimos com a fome característica dos que amam. Então, como ser sempre e de novo a cada dia o mesmo sem perder a crença nisso? Como dotar de vida o ser empalhado e fazê-lo voar como se fosse - no momento da peça - um pássaro genuíno?

Limites. Expansões. Precisamos aceitar de vez sermos espaços vagos e não construção. Volto a dizer que Miranda morre a cada vez que projetamos em nós, nossos corpos, alguma possível solução que apazigue seus ânimos. Ontem, no debate-surpresa após o espetáculo, se uma cena dividiu tantas opiniões, como podemos dizer o que é esta cena e o que ela não é? Como podemos firmar em nós um sentido se ela, vazia enquanto possível, sozinha enquanto disponível, soube aglutinar em si uma leitura e outras mais?

Somos sujeitos à interpretação. E não gostaria que fosse o inverso, não gostaria de ser interpretação aos sujeitos. Não. Eles já fazem isso. Nós também o fazemos. Como podemos anular em nós a velocidade que em cada espectador o domina? Como podemos apaziguar nossos corpos para serem apenas um vazio, uma página em branco para os nossos, os deles e também para os disparates de Miranda?

É continuar tentando. Mas, creio eu, com mais crueldade do que até agora nos permitimos tentar.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Foi assim...

Foi assim, fui assistir ao último filme do Godard que está em cartaz nos cinemas e encontrei Miranda ali. Foi assim mesmo. Enquanto assistia ao filme, Miranda percorria viva os caminhos mais sensíveis do meu corpo. O filme permitiu que eu entrasse em contato com o movimento de feitura e acontecimento desse nosso espetáculo que tanto me intriga e me provoca, e foi nesse movimento que compreendi os apelos e as súplicas de você Diogo, diretor desse espetáculo. A verdade meu diretor, por mais absurda que possa parecer é que Godard me ajudou a entender você. Entendo quando você diz que existe a dificuldade de estar ali e que não pode ser amenizada por certezas já conhecidas ou por facilidades reconfortantes. Miranda pinica, Miranda arde. Nesse nosso espetáculo não existe a vontade de querer fazer sentido, as coisas não se constroem pela sua lógica e sim pela força daquilo que não poderia ser outra coisa senão aquilo que ali mesmo se encontra. É uma permissão, é um permitir-se alterar a ordem de tudo, embaralhar os sentidos e não porque isso é bacaninha ou divertido, mas sim porque é vital e necessário, é o realizar-se de um chamado que não tem nome nem forma, mas que é real e urgente. Repito, é um permitir-se. Godard arrisca, arrisca muito, embaralha, desestabiliza, dificulta, grita. E vejo você nesse mesmo movimento. Esse comparar você à Godard pode parecer pretensioso mas entenda é muito mais ingênuo do que exibicionista. A minha tentativa aqui é dispor em palavras uma sensação que só encontra descanso no momento em que a materializo, mesmo sabendo que não existem palavras pra dar conta do que vivo.
Portanto, estou aqui porque não poderia deixar de dizer, estou contigo Diogo, confiando nas suas intuições e compreendendo as suas reivindicações por mais que isso me fira e doa. Acredito em você. Agora mais do que nunca
Beijos e obrigada

domingo, 5 de dezembro de 2010

Falo..............

Fazia tempo que eu não falava. Na verdade, a última postagem Falo............. foi ainda em julho, antes das apresentações na UFRJ. Eu hoje acordei com uma vontade imensa de falar. Ainda pensando sobre a apresentação de ontem, sobre a nossa reestreia. Pensando sobre o lugar do acaso, sobre o erro, sobre a representação e sobre o não representar, de fato. Que barra que eu tenho que ficar sublinhando. O contato com o público tem poder de moldar o espetáculo. E quando menos vemos, estamos ali entregues, fazendo mais do que é a cena, dando ao público aquilo que lhe é legível e que o faz rir. A comédia volta a ser fraca e desnecessária. Sim, parece um lamento. Talvez seja. Mas é bom porque me devolve à responsabilidade de duvidar o tempo inteiro dessa peça. Como diretor, me faz atentar para certas certezas que nos prendemos para amenizar a grande dificuldade que é estar ali.

Um sentido mais radical de exposição precisa perfurar o espetáculo. Um sentido mais consciente, mais claro, que não se abala no encontro com o outro, mas que o domina e reverte a favor do todo. Talvez só consiga ser claro no dizer. Vou conversar com as atrizes hoje. O bom é que estamos começando a segunda temporada e ainda teremos mais cinco apresentações, para tentar, sem fim, tentar...

Na tal postagem escrita em julho, eu dizia E então fizemos esta encenação para brindar aos nossos sonhos. Ela é a mistura do que pode e do que já foi proibido. É a mistura de formas claras e escuros imensos, riscos persistentes e presenças envoltas em sumiço. Ela é engraçada e sinceramente ruim. Ela é o que nós temos de melhor. Mas, sobretudo, é o nosso melhor ruim. O sonho é este lugar, onde tudo e nada se amam, quando tempo e espaço flertam e brigam, se aproximam e se escondem.

Temo que já tenhamos encontrado respostas demais. Que estejamos querendo ser mais solução e certeza do que dúvida e instabilidade. O que não percebemos, talvez, é que estamos respondendo para amenizar a nossa dúvida - imortal. Respondemos a você, mas não porque sabemos. Mas para amenizarmos em nós o nosso próprio não-saber. Para te convencer de que está tudo sobre controle.

E nisso, morremos.

VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA morre toda vez que Miranda - qualquer Miranda - vai embora de nós resolvida, desprendida. Sem nem mesmo uma fagulha de incompreensão. Eu pergunto: se fosse para fazer sentido, poderíamos ficar só nos dicionários, não?

sábado, 4 de dezembro de 2010

Depoimentos

Olá, Você

Este espaço do blog é destinado aos que assistiram ao espetáculo VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA e que desejam deixar por escrito suas impressões sobre a peça. Teatro Inominável é desde já grato pela sua opinião aqui deixada e afirma o quanto ela nos é de extrema importância, justamente, por ser capaz de nos devolver um pouco sobre nós e, sobretudo, também um pouco sobre você, que nos assiste. E para quem destinamos tudo isso aqui...


Fotografia de Alexandra Arakawa, sobre cenário de Rafael Medeiros


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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Espetáculo do Teatro Inominável apresenta quatro atrizes e um diretor tentando montar uma peça de teatro


Segunda temporada começa dia 4 de dezembro, na Rampa, Lugar de Criação

A jovem companhia carioca Teatro Inominável volta aos palcos do Rio de Janeiro com a segunda temporada de seu mais novo trabalho, o espetáculo, VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA. A peça propõe uma reflexão sobre o ato de criação de uma peça de teatro. Tanto o elenco de quatro atrizes (Adassa Martins, Fabíola Sens, Flávia Naves e Helena Cantidio) como o diretor do espetáculo (Diogo Liberano) estão em cena, atados numa busca ininterrupta pelo próprio espetáculo.

Iniciado em dezembro de 2009, o processo foi debruçar-se sobre fontes diversas com o intuito de investigar as etapas do que seria um processo de transposição para a cena dos meandros dramáticos de tais referências. Dentre os estímulos criativos destacam-se ESPERANDO GODOT do dramaturgo Samuel Beckett, filmes como DOGVILLE e CIDADE DOS SONHOS, respectivamente de Lars Von Trier e David Lynch, além do quadro AS MENINAS, de Diego Velásquez.

Por Alexandra Arakawa.

Durante o processo que durou cerca de sete meses, a equipe produziu uma dramaturgia na qual o teatro é o instrumento pelo qual as atrizes tentam se relacionar com o mundo e falar das questões que lhe são caras. A angústia existencial do ser humano lado a lado com a angústia criacional. O espetáculo começou como projeto curricular dentro do curso de Direção Teatral da UFRJ, do qual o diretor Diogo Liberano é graduando. Em seguida, cumpriu sua primeira temporada em setembro, no Teatro Glaucio Gill, obtendo um crescimento de público constante até o término das apresentações.

O diretor pontua: “VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA se configura como uma encenação que é a metáfora do nosso próprio processo de criação”. Na maioria das referências usadas como estímulos para o processo, observou-se um olhar sobre o ser humano marcado pelo absurdo da condição humana, pela angústia e esvaziamento dos valores, resultando num vazio existencial característico do homem contemporâneo. O esforço do Teatro Inominável foi o de tirar proveito do vazio, buscando sinalizar para a sua existência enquanto parte constituinte de todo e qualquer ser.

No blog do espetáculo (desesperandogodot.blogspot.com) é possível encontrar o relatório de cada um dos ensaios, além de artigos, vídeos, imagens e reflexões produzidas pela equipe durante o processo. De acordo com a proposta de encenação (também presente no blog), “não há nenhuma história aparente. Nada é dito. Tudo está para ser construído. O sentido de VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA está na busca do sentido. A peça é uma espera pelo olhar que a habitará e que se completa com a imagem do espectador”.
Serviço
VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA de Diogo Liberano. Comitragédia. Uma reflexão sobre o ato de criação de uma peça de teatro. Tanto o elenco como o diretor estão em cena, atados numa busca ininterrupta por aquilo que já se encontra ante ao espectador: o próprio espetáculo. Com Adassa Martins, Fabíola Sens, Flávia Naves e Helena Cantidio. Dir. Diogo Liberano. (60min). Rampa, Lugar de Criação (R. Sá Ferreira, 202 – Copacabana). Sab e dom, 20h. R$20. 16 anos. Até 19/12.
Local: Rampa, Lugar de Criação (R. Sá Ferreira, 202 - Copacabana - Na saída da estação General Osório)
Direção e dramaturgia – Diogo Liberano
Criação, dramaturgia e atuação – Adassa Martins, Helena Cantidio, Fabíola Sens e Flávia Naves
Atriz convidada – Dominique Arantes
Temporada: 4 a 19 de dezembro de 2010
Dias e horários: Sábados e domingos às 20h
Duração: 60 minutos
Ingresso: R$ 20,00 (vinte reais) e R$ 10,00 (dez reais) para estudantes e maiores de 60 (sessenta) anos
Lotação: 50 lugares
Classificação indicativa: 16 anos
Acesse: desesperandogodot.blogspot.com \ twitter.com/_inominavel

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Vazio é o que me falta,

Não estou nada esvaziada por dentro agora. Pelo contrário, estou borbulhando de Miranda em mim; to esperando com a ansiedade de uma menina o dia de nos vermos de novo, de nos desnudarmos pra quem estiver pela frente, de tentar jogar com ela que nunca está lá. É uma delícia saber que vamos ao seu encontro, mas não vamos encontrá-la, de novo.

É uma certeza de felicidade que se permeia pelos vacilos intermináveis, na companhia de nós que somos inesgotáveis. A cena tá me chamando pro buraco negro da espera, que se movimenta mais em nós do que qualquer presença. É tão gratificante saber que estou viva e vibrando por dentro, do jeitinho que Pozzo gosta.

Sabe o estômago? Mais em cima. Sabe o coração? Mais pra dentro, mas em diagonal. O Pozzo é preciso, é firme, é lamentável. Ele tenta dizer pra que veio, fala fala fala mais mais mais e não diz o que queria dizer. Acho que o seu teatro (não vida, Pozzo faz teatro) é o de tentar a tecla da estrela, de ser linda, de ser fabulosa, de ser Maryl Streep (eu sou assim, e odeio dizer). Porque Ada é assim, mas por odiar ser acaba que mostra o lado frágil, o lado de estar ali aprendendo, o lado de saber que não é boa. O bom do Pozzo é que ele distorce o máximo possível aquilo que Ada menospreza. Pozzo gosta do teatro, Ada também. Pozzo mostra o seu feio, Ada também. Pozzo quer mais, Ada também.

O estar em cena na tentativa da MIRANDA pra mim é tão bom porque é muito encômodo junto. Eu detesto ser Pirineu; eu detesto ser Narradora "falam todas ao mesmo tempo"; eu detesto bater na Fabi; eu detesto ser Pozzo. E é por isso tudo (e mais) que eu amo estar ali, cavucando na minha ferida e vendo as outras se cavucarem. O negócio só funciona porque enquanto eu to me cavucando a Flavinha tá rindo de alegria, enquanto a Helena se esburaca a Fabi tá gozando, enquanto o Diogo tá sem saber como sentar a Ada tá imitando o seu monólogo de sempre. E esse alimento me enche agora de friozinho na barriga.

Platéia, não seja má, venha nos ver. Mas olha platéia, precisa estar cheio, porque é assim que Pozzo gosta. E lembra-se: NÃO TRAGA MIRANDA.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Aqui sou personagem:


BANKSY

Aonde é que vai ficar a madame?
Na próxima estação camarada, não tem parada.
Não desço enquanto ela não chegar.
Não virá.

Ouvirá.
Impávido que nem Mohamed Ali, tranquilo e infalível como Bruce Lee, com o Axé e o Afoxé filhos de Gandhi. Like a Rolling Stone, like a Lennon, like a Rihana (?, ui).

... se é que se pode saber alguma coisa de ciência as avessas, penso que o lúdico não tem forma de máscara. Apenas um suave caos de resignificações desdobram-se no novo invento.
Eis o que Deus pode pensar sobre essa nova humanidade que atualmente ele recria a partir das junções entre nós:
"Do pré viestes ao pós retornarás".

Pré e Pós drama. Opa, não é ciência.
E o que é o erro? Que erro carícia?

Me de um tempo que estou sem paciência.
Ancoramento de artistas, desilusão de líder.
Para as cucuias sua idéia de líder coração.
Eles já morreram. Todos eles.(que saudade, amo as suas memórias!!VERDADE)

Em que identidade se encontra a percepção do todo?
Que todo oco, tosco, roto, rouco.
Não!
Suave, rico, omisso, ouriço.
Como? Hum como, não sinto fome.
Sou classe A.
Alfabetizada em todas as línguas-
pra rimar, para remar.

Somos belas, aquarrelas.
Com dois erres que é pra preparar o latido.
Sou classe C e você? Abracadabra.

Para as cucuias toda ordem de símbolos.
Com todo respeito, preciso juntar os caquinhos.
E só acredito em oxigênio e carinho (não falo dos artificiais).


(continua...)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Rampa, ai vamos nós...

Clique sobre a imagem para vê-la maior.

Um novo espaço para se apropriar. Um quase novo espetáculo. Espaço é o que não falta. A temporada está confirmada no período que vai de 04 a 19 de dezembro, sempre sábados e domingos, às 20h na Rampa, Lugar de Criação.

Maiores informações sobre o espaço, acesse: http://www.coparampa.com.br/

domingo, 21 de novembro de 2010

Estamos voltando

Estamos voltando. Isso me parece terrível e ao mesmo tempo excitante.
Excitante porque é um trabalho do qual me orgulho tamanha honestidade e dedicação. Terrível porque parece que todo pouco tempo que temos de ensaio e dedicação à essa retomada se torna ainda menor, uma vez que a cada ensaio mil novas possibilidades de jogo, de texto, de cena, de situação surgem. É infinito o nosso trabalho assim como nossa dedicação. É impossível essa encenação assim como querer dar conta dela. Miranda nos escapa a cada tentativa de apreensão. Não descobriremos seu segredo, não decifraremos seu enigma.
Já a minha personagem.... está cada vez mais evidente. É um porre. Ela é um porre. Agora tenho certeza disso. Vou ter que engolir essa falta de carisma, esse sentimento de repulsa que é inegável diante de uma personagem que só faz reclamar e indagar e brigar. Ela quer fazer a peça, ela quer ajudar, ela quer que tudo dê certo e fica tentando corrigir os erros com frases de efeito, com gritos estridentes, choros escandalosos e idéias ameaçantes. Entendam, é o jeito dela de dizer sim, é o jeito dela de dizer que gosta, de semear o bem. Ela é bacana podem acreditar, mas erra tentando corrigir o erro, erra na sua cega obstinação. Ela está perdida, contrariada, indignada e é preciso ter paciência com ela, é preciso ter calma, entendam, ela é legal, ela é de amor. Podem acreditar. Mas também podem não gostar. ela é assim.

Estava relendo coisas do blog e encontrei essa postagem da Adassa, pensei: que coisa linda, e não fizemos um só comentário, bom, talvez o silêncio tenha tomado conta e isso é um bom sinal, aí vai:

"A releitura do Mito de Sísifo agora me entregou uma coisa, que relaciono ao ensaio passado. Algo que dizia mais ou menos que a virtude de Sísifo se encontrava na lacuna de tempo em que ele descia retornando à planície para novamente subir sua rocha ao cimo da montanha. Era ali que ele vencia os deuses e o seu destino.

É aqui que precisamos vencer e boicotar a nossa cena. Mas o segredo é agraciá-la com o esgotamento que ela nos impõe, ficando nós ali, mostrando que somos capazes até o próprio jogo não aguentar mais? Ou recusá-la, contradizendo-a, determinando idéias contrárias e remando com a nossa força contra o que nos é destinado? Ou os dois? Não sei.

Mas esse movimento de descer o morro em estado pensante, em situação de tentativa, de comunicação, de troca, e de fomentação de estragégias entre nós quatro é fundamental. O que fizemos - sem condenamento ao que foi, pois foi lindo, dolorido e necessário - no ensaio passado foi descer o morro certas de que subiríamos novamente, exaustivamente, repetidamente, como algo vazio do novo (afê maria Diogo, por que diabos fui comentar que só de pensar que ficaríamos horas ali entregues à tentativa incerta seria mais um martírio? Não foi isso que quis dizer...).

Pelo menos assim foi o que senti. E realmente desisti várias e várias vezes. Não tentei com força - somente alguns poucos espasmos de... "lucidez" (?). Estava entregue, estava morta, dormi em cena. Calei a boca, fechei os olhos, não escutei o menino me gritar. Só estive.

Acho que podemos tentar descer o morro invadindo e esgarçando mais os nossos limites. Uma ancorando a outra. Enquanto uma empurra, outra faz uma alavanca, outra tenta formular um caminho a frente, e a quarta grita anunciando a nova chegada."

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Encontro

São 01:31. As meninas (Ada, Fabíola, Flávia e Helena) estão começando a dormir. Estamos na minha casa, no Rio de Janeiro. Tivemos um encontro/ensaio para começar a se organizar para a segunda temporada do nosso espetáculo. Tomamos cerveja, comemos pizza e agora eu aqui, com a caneca cheia de café, tentando entender como algumas coisas podem ser tão potentes.

Não é um relato emocionado, apesar de ser. Não tem intenção alguma isso aqui, apesar de poder ter, no sentido de que as coisas vão sendo conquistadas e hoje o que temos só nos é possível porque nos permitimos ir, sem ver objetivo que não o presente, sem desejar nada além do instante. Do encontro.

Mais uma vez voltaremos para encontrar. Já não há dúvidas, ou como elas mesmas gostam de debochar em mim, não há questão. Chegamos para chegar, por isso chegamos. Encontramos você encontramos seu olhar encontramos o tempo juntos e dividimos mais que o espaço, dividimos o mesmo ar.

Que mistério é esse que nos envolve, né? Como é lindo isso que escolhemos - neste instante - ser. Não é? Eu me impressiono e quero conseguir ser de novo e outras vezes mais me assustar. Com a vida. Com o sorriso. Com o calor. Com a união e a divisão. Com o partilhar. Com o desenvolver-se no tempo e não estar pronto. Com o abrir para enfim, voar...

Ao redor de vocês, metáforas são possíveis. E a poesia é mais viva do que a própria vida. Quero continuar. Mas, por agora, encerro a escrita. Vou dormir com o peito aquecido. Vou domar o digitar e fazer silêncio para que todas possam sonhar. Amanhã cedo temos ensaio. São 01:39.

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Diogo Liberano

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

"Autoinvenção"


Peter Pál Pelbart
(Puc -SP)

Um belíssimo estudo de Richard Sennett mostrou a que ponto a moderna sociedade industrial esvaziou a dimensão teatral do espaço público, desqualificando as máscaras produzidas na cena social e remetendo cada qual para sua suposta interioridade original, seu eu. Todo o jogo teatral em larga escala foi substituído pelo predomínio de um espaço interior esvaziado, a tirania da intimidade oca, que já não pode alimentar-se de nada pois é referida a si mesma, no máximo ao seu círculo doméstico ou familiar. Sennett mostra precisamente que o eu de hoje só está assim esvaziado porque o espaço público que o nutria, e o teatro que lhe era coextensivo, foram desqualificados e esvaziados. Ora, essa observação ressoa inteiramente com os textos de Nietzsche, e toda sua valorização da máscara, e da vida como produtora de máscara, e da consciência que tinham disso os gregos.

Uma máscara não esconde um rosto original, mas outra máscara, e assim sucessivamente, de modo que o rosto próprio não passa da metamorfose e criação incessante de máscaras. Não se trata de retirar a máscara para encontrar a verdade oculta, ou a identidade velada, mas compreender a que ponto a própria verdade ou mesmo a identidade é uma entre as várias máscaras de que a vida precisa e que ela produz. Se a matriz estética substitui para Nietzsche a matriz científica, é porque se trata de produzir o ainda não nascido, não mais de descobrir o já existente. Questão de autoinvenção, não de autorevelação, de criação de si, não de descoberta de si.

É o que se vê na construção das personagens, que se têm ressonância com traços próprios às pessoas que os encarnam (com efeito, cada personagem foi construída a partir dos atores, e com que justeza e cuidado os diretores foram alfaiates da alma, cerzindo personagens sob medida! – a ponto de ser praticamente impossível "passar" o papel de um para um outro, já que os papéis não são universais vazios intercambiáveis), ao mesmo tempo, ao invés de intensificar psicologicamente os traços de cada um, nos seus draminhas íntimos, iluminando a suposta verdade psíquica interior do sujeito, o que rapidamente descambaria para um psicodrama de qualidade duvidosa, ao invés disso o teatro faz esses traços conectarem-se com personagens da história, do mito ou da literatura (o Profeta, o Homem da luz, o Treinador de heróis, a Rainha, mas também a Esfinge, o Imperador anarquista, a Torre Babelina), com elementos cósmicos ou outros (o Caos, a Tempestade, as Trevas, a Luz, a palavra oracular). Nessa conexão tais traços singulares são colocados em evidência mas ao mesmo tempo desterritorializados de seu contexto psiquiátrico, e, arrastados para longe de si mesmos, são prolongados até uma vizinhança que lhes permite uma transmutação amplificada, numa dinâmica que extrapola completamente os dados iniciais e personológicos, fazendo-os reverberarem com a cultura como um todo e experimentarem variações inusitadas.

É onde o teatro oferece aos pacientes um campo de metamorfose e de experimentação de um potencial insuspeitado. Pois os traços que compõem uma personagem (as singularidades que habitam cada um) não são elementos para uma identidade reconhecível, numa mímese referencial; eles não se somam num contorno psicossocial, ainda que isso possa estar presente, mas como máscara: a "rainha", o "imperador"...

Não é um ator representando uma personagem, mas tampouco é ele se representando, é o ator produzindo e se produzindo, criando e se criando ao mesmo tempo num jogo lúdico e existencialisante, desdobrando uma potência, ainda que na forma de uma entidade histórica ou cósmica. O que conta, para além da máscara, são os estados intensivos que esses traços expressam ou desencadeiam, as mutações de que esses traços são portadores, as composições de velocidade e lentidão que cada corpo consegue, consigo e com os demais, as passagens fluxionárias, os índices corpóreos, incorpóreos, sonoros, luminosos, o puro movimento molecular, o gesto quântico, o trajeto rizomático. Daí porque o espectador não se pergunta "o que aconteceu?" ou "o que aconteceu com tal personagem?", mas "o que me aconteceu"?, registrando o sentido eminente do Acontecimento – a afetação.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

MIRANDA, em brevíssimo

Acabamos de encerrar um encontro entre elenco e direção de MIRANDA e fechamos nossas últimas apresentações do ano aqui no Rio. Em dezembro, aguardem! Para fechar o ano com dignidade! Ou felicidade... Ou instabilidade... Ou enfim, não importa...

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Diogo Liberano

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Um ensaio...

Helena, Flávia, Adassa, Fabíola e Diogo \\ Setembro de 2010.

Teve um ensaio - no Teatro Glaucio Gill - que eu havia deixado as quatro trabalhando sozinhas e tinha ido até a universidade resolver umas coisas. Quando voltei, sorrateiro, escondi-me atrás da rotunda velha e cheia de furos e fiquei durante longos minutos espiando como trabalhavam sozinhas.Que golpe baixo. Que coisa horrível. Ao mesmo tempo, sim, é verdade, que coisa linda. Ver como se doavam e como negociavam a melhor forma para fazer dar certo. Ver como mediam suas posturas tentando somar o que queriam, o que eu havia pedido e ainda o resultado de todo esse somatório.Naquele dia eu soube, mais do que em todos os outros, que elas estavam mais do que juntas. Hoje olhando minhas indicações, minha condução - muita coisa não fez sentido - e mesmo assim elas foram firmes e construíram uma constelação de sentidos. Transformaram migalhas de pão em estrelas.Elas já sabem disso de eu ter ficado vigiando o ensaio escondido. Os segredos comigo não duram um ensaio. É tudo sempre rapidamente revelado, portanto, essa postagem é para dizer aquilo que o preto e o branco na foto já se encarregaram em dizer: há saudade. E não é de Miranda. É tão somente de Helena, Flávia, Adassa e Fabíola.Que juvenil eu aqui declarando abertamente toda essa angústia. Perdão aos que tem pudor em excesso: é tudo material de trabalho. Sim, de fato, essa distância toda tem me deixado angustiado.

Para Fabíola,


Rio de Janeiro, 24 de junho de 2010.

Fabíola. Escrevo-lhe para informar o seu papel neste ESPERANDO GODOT: Lucky. Você será tudo o que não quis ser desde o início. Será o fulano que fala um texto imenso e que deve estar decorado. Será o fulano que tem a corda no pescoço, será o cara que é usado de palanque para os outros chamarem atenção. Mas o que Lucky não contava, era que encontraria um corpo muito específico para nele se aportar. Um corpo cujos cabelos gritam sem nada falar. Cabelos mudos com força de furacão. Cabelos pós-dramáticos. Um corpo capaz da solução mais inusitada, da proposta mais estética, da sutileza mais acertada. Um corpo capaz de reverter o quadro e revelar as fundações. Capaz de encontrar uma porcaria qualquer capaz de validar toda uma encenação. Isso que escrevo não é uma questão, não é pergunta, não é dúvida. Escrevo-lhe para dizer o que eu como diretor estou lhe dando como obrigação: deverás arrumar o cenário sempre que ele se bagunçar. Isso não te impede de descobrir estratégias. Mas, acredite: é bom colocar suas luvas finas para não se cortar. É bom esse pragmatismo. É bom essa mão que diz tanto quanto uma boca possa dizer. É bom gravar esse texto no gravador e aprender a nos confundir se quem fala o texto é você ou a caixa de som. Você tem as referências, Lucky. Você não fala porque é mudo, mas porque escuta mais e sempre mais. Não fala porque vê. Não fala porque descobriu muito cedo que há outras maneiras de compreender como se pode guiar uma vida e/ou uma encenação teatral. Fala de Van Gogh e de Frida Kahlo. Mas fala nos revelando seus quadros. Você tem essa autonomia, você não é esse Lucky apertado, aprisionado. Você, Lucky, é a redenção deste Lucky mortificado. Deste Lucky cujo monólogo já foi mais de mil vezes encenado e sempre assim, lento, chato, incompreensível. O seu monólogo – você sabe disso – pode ser editado. Pode ser acelerado, pode se tornar mais grave, mais agudo, você aceita ser Lucky não para condená-lo, mas justamente para lhe permitir ser livre. Os objetos fora do lugar, é você quem pede ajuda para tirar essa e aquela porcaria daqui e as organizar. É você quem doa o seu corpo para ser escravo, para ilustrar essa história. Da mesma forma que é você quem tira o corpo fora quando bem entender. É quem surpreende com saídas que sequer poderíamos pensar. É quem propõe usos outros para o que sempre foi usado de um jeito específico. É estar atenta como nas raias. Se você fala pouco, é porque então escuta e vê com ainda mais precisão. Atenção às mãos. Você já pesquisou sobre a língua dos sinais ou vai ficar fingindo dizer algo que não está sendo dito? Você juntou a caixa de fósforos ou fingiu não tê-la visto? É preciso jogar com tudo. Mesmo que já se tenha colocado a máscara de cachorro, mesmo que já se tenha agüentado uma placa por mais de uma hora... Descubra-se Lucky, em cada segundo desta encenação. Ela é sua morada. E o que você está esperando? Que lhe dêem a palavra? E o que fará quando elas lhe forem dadas? Não lhe faço perguntas para que responda. Faço-lhe perguntas para que não se esqueça daquilo que já sabes: que a vida é uma constante busca por sentido. Peço-lhe: não nos deixe esquecer isso. Não nos deixe. Nós, nos deixe.

Para Adassa,


Rio de Janeiro, 24 de junho de 2010.

Ada. Sempre temo os nomes que dou para dizer sobre a sua interpretação. E sabe o que acho? Além de dizer interpretativa, além de rotular de histérica, além de representacional, além de tudo isso, o que fica é mesmo a busca de alguém em tentação, alguém disposto, alguém querendo ser amado, querendo chamar atenção, por que não? Qual é o problema? O mundo está cheio de olhos, cheio também de corações, mãos, dedos, braços e abraços. Quero ser amado assim como você. Por isso não se boicote. Queira aparecer. Descubra, no entanto, a dosagem exata. Experimente o sumiço, descubra como ser invisível, justamente para fazer sentido a você a possibilidade da aparição, a surpresa, a revelação. Escrevo tudo isso para dizer o seu papel neste ESPERANDO GODOT: é você Pozzo, Ada. Do início ao fim. Do fim ao início. Alguém cujo Godot se refaz com extrema agilidade. Alguém cuja vontade de vencer, de conseguir e contemplar se renova a cada ato, a cada cena, a cada fala. Pozzo é ser em tentação. Mas tenta tanto, tenta tanto, que acaba nos cansando, nos fazendo rir, nos causando ódio e provocando risadas. Dentro, porém, dorme aquecido um gesto capaz do afeto, um despertador que às vezes grita e o torna alguém tão único, tão sincero, alguém tão desprovido desse mistério da interpretação. Veja bem: o que escrevo aqui não é dúvida, não é questão. É certo. É ponto final. Não se pode questionar. É você uma atriz buscando aquilo que se vai interpretar. Buscando o gesto, o tempo, o ritmo, a intenção. Nosso ESPERANDO GODOT é sem dúvida a tentativa a cada sua aparição. Estamos descontentes por sabermos que podemos sempre tentar de novo aquilo que um dia já foi o máximo do super bom. Você é Pozzo pela forma em que se lança, batendo o corpo com força no chão, se machucando não para chamar atenção, mas para tentar ultrapassá-lo. Quer ser maior, quer ser melhor. Por isso talvez esteja com Lucky, já pensou nisso? Porque estão juntos? Ele pode te ajudar ou o contrário? Porque estar junto e não sozinho? Porque tantas perguntas? Não responda pensando, responda tentando. E nisso a pergunta sai de você e vem para mim e vai para o outro e assim a nossa encenação segue sem fim, porque Godot chegou e foi digerido e voltou a nascer e a ser querido e a ser comido e assim segue não só nossa peça mas a própria existência. Descubra nesse convite que lhe faço o seu papel dentro desta encenação. Descubra o seu gráfico, descubra indícios da contenção. Como dizer o mesmo menor? Como dizer sem gritar? Como dizer sem falar? É um convite a se descobrir. A ultrapassar você mesma e se reconhecer distinta, alguém capaz de se diferenciar. Não se recrimine, não há questão. Há um jogo e um convite meu a você para o amadurecimento, para a ultrapassagem, para o jogo quebrado a todos os lados, para a multiplicidade, para a confusão. Imagino que esteja confusa, pensando como dar conta de tudo isso que escrevo. Mas, é preciso lembrar: não é dúvida, isso aqui não é questão nem pergunta: isso já está dado e é somente uma leitura minha do que é seu, de fato. Anagrama. De fato, minha leitura é uma do que é isso. Um convite ao riso, ao susto, ao abrupto. Um convite aos espasmos, ao tremor, ao medo. Você, Pozzo, pode nos mostrar o que pode vir a ser a sua indignação. Um beijo na testa. 

Para Helena,


Rio de Janeiro, 24 de junho de 2010.

Carolline. Escrevo para lhe dizer o seu papel neste ESPERANDO GODOT. É você Estragon, Caroll. Estragon. Pelos seus arrotos, pelo seu corpo, pelo instinto redescoberto e alimentado. Pelo imprevisto, pelo susto, pelo grito, pelo salto. Pelo ofegar. Pelo corpo tosco e desperto. Pelo corpo todo e coberto, por joelheiras. Pela filosofia traduzida em arrepio. Estou lhe escrevendo para voltar ao início e provocar o encontro. Porque Godot já chegou para você. Seu Godot me parece chegar a cada nova brincadeira, pois chegar antes de ser fim em você – para mim – é partida. Basta começar. Não importa o resto. Não há de importar. Importar se permitir ser corpo para o que o imprevisto possa sobre ti lançar. Peço astúcia. Peço-lhe escuta e PdD. Saiba sair para voltar potente. Saiba sair para sair e não voltar. E se fazer presente porque fez com que todo mundo lhe fosse procurar. Deixe-me ver, deixe-nos ver a imensa capacidade de amar que sobrevive nos seres que não falam. O amor inaugural. Aquele que não é pessoal, que fala com cada coisa, seja coisa algo vivo ou não. A busca. Que não cessa, você vê? O cachorro come e logo em seguida precisa comer. Você busca e testa e precisa fazer de novo para se satisfazer. É assim mesmo. E no meio do caminho, ele se diverte. Eu digo, o Estragon. Ele se diverte com o dicionário, ele se diverte com o cabelo balançando ao vento quando a gente acha que ele está entendendo algo que está sendo dito. Ele torna ruidosa a leitura mais óbvia, ele relativiza. Menos por saber e mais por ser reativo. O seu Godot está na respiração. Vai e volta. Mas pode-se intensificar o encontro. Isso que escrevo não é uma pergunta, não é dúvida. É constatação. É o que é, não há chance de modificação. Neste nosso ESPERANDO GODOT, cuja direção compete a mim, eu lhe digo que és Estragon e é isso. Simples assim. Aberta ao jogo. Recebendo, lendo e propondo. Lendo? Propondo? Pode sair para tentar entender, mas volte. É preciso voltar. Fale o texto do Beckett, fale o texto de Beckett. Ele é tudo o que você sabe falar. E não se importe com os outros, com as outras. Se eles, eventualmente, fugirem do texto, você saberá pelo texto os condenar. Mas importa? Que seja, pois, aquilo que seu corpo gritar. O cachorro quebra o corpo porque quis quebrar ou porque quis brincar. O cachorro morde o dono para machucar ou dizer da forma dele o quanto de amor pode doar? Às vezes se escreve com sangue outra coisa que não sofrimento. Nada de laços, nada de atrasos. Pontualidade. Devoção. Foi-lhe dada uma chance no meio dessa confusão toda. Preciso vê-la inteira em tentação. Potente. Única e acompanhada. Capaz de amar e morder. Capaz de ser rápida e kinestética. É um convite, Estragon. Abro-lhe um espaço para brincar. E lá tem objetos, tem fio, tem lâmpada, fósforo, porco, gato, celular. Sim, lá tem celular. Você pode falar, pode gravar, pode bater, morder. Você pode se aproximar. De mim também. Eu faço carinho, eu te expulso de perto. Nesse movimento a gente preenche o tempo e a vida parece outra coisa não menos parecida com a vida, mas pelo menos, mais radiante. Muitos espaços num só tempo. Muitos tempos num só suspiro. Por isso se ofega. O corpo grita, Estragon. E isso não é o fim, é só o início...

Para Flávia,



Rio de Janeiro, 24 de junho de 2010.

Flávia, leia com atenção. Estou lhe informando por meio deste papel qual é o seu papel neste ESPERANDO GODOT. Você é Vladimir. E isso não é uma pergunta, não é questão, não é um dado contra o qual você pode ou deve levantar questões. É antes um convite, para viver aquilo que já está sendo vivido desde o início. Você que está comigo faz tanto tempo, é normal que me queira ter por perto, ali em cena, já que estamos assim – tão próximos – desde o início. Pois lhe digo também que estou ali. E aqui. Dentro e fora. Ao redor. Eu estou. E isso também não é uma questão, por mais que se possa duvidar. Estamos em jogo. Mas quem dá as regras sou eu. E você é a atriz, peça chave nesta confusão imensa. Você é uma atriz, Vladimir. Na cabeça: a cabeça. Um excesso de pensamento que por vezes o torna surdo e cego e mudo, para enfim, começar tudo de novo. Persista. 3:1. Eu te disse uma vez que vocês atrizes eram minha única verdade. Não estava mentindo, não estava inventando. É verdade. Mas lhe peço: não me deixe duvidar das mentiras que crio para continuar vivendo. Persista, defenda isso e convença a todos. Vença com os outros e nos prove, nos faça acreditar que Godot realmente vai chegar. Não importa que os outros não acreditem, importa ter algo no que se segurar, portanto, segure a peruca e siga adiante, por mais que às vezes pareça não se estar saindo do lugar. É Vladimir por tudo o que foi agora. Pelas perguntas, pela necessidade extrema de encontrar um sentido, uma explicação, por necessitar entender. Isso não é problema. Isso é possibilidade. Uma possibilidade. Sim. Fazer arte é uma merda. O “às vezes” poderia interceptar a frase anterior. Mas não estaríamos falando de arte. O que estamos construindo é muito potente. Apostamos no terror, na desorientação e na dificuldade. Agora é preciso ir ainda mais junto e com calma. Com calma. Para se chegar a algum lugar. E eu repito: estou aqui. Deixe-se ser guiada, deixe-se guiar. Você é Vladimir porque exige o sentido quando ele escapa. Duvida do sentido quando ele se revela. Quer entender, quer explicar, quer associar, quer encontrar um chão. Ser o que se é não é motivo para condenar, é motivo para estar aqui, vivo, pulsando, buscando, indo e voltando. Mas. E haverá sempre um “mas”, pelo menos. Peço que não se perca pensando demais porque isso nubla os seus olhos e tira deles a potência da sua busca. Mesmo estando eles abertos, eu sinto, eu acho, eu sei, acabarás não vendo que Godot passou, que já esteve ante a ti, que bateu à porta, mas você não ouviu, porque estava falando. Porque sua cabeça estava gritando. Espreita. Espera. Esperta. Você aposta que ele vai chegar, você se arruma para isso, ainda bem. Ainda bem, mesmo. É essa a sua fé, essa é sua religião. Ok. Mas não profane a qualquer custo. Proteja. Defenda. Não é mesmo para qualquer um. Não exija que tomem a sua causa. É antes. Bem antes disso. Eu só quero olhar para você e não duvidar da chegada de Godot. Basta. O povo é de uma burrice. Não queira ser o povo, Vladimir. E evite que o povo seja você. Há seres numa proporção extremamente delicada, num equilíbrio extremamente instável. Há seres cuja solidão é necessária. Vamos juntos e com calma. Ele vai chegar.

domingo, 26 de setembro de 2010

Estamos com você, Geraldo

Ser inútil já é alguma coisa. Mas não adianta ficar exilado e esperando.

Geraldo Vandré

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Saudade

Miranda, agora eu sei o que é o vazio...que saudade Miranda, que saudade...

É demais para um homem só

Nós, do Teatro Inominável, agradecemos imensamente a todos e a todas que prestigiaram o nosso trabalho durante estas seis apresentações no Teatro Glaucio Gill. O encontro com vocês, com cada um de vocês, fez o nosso espetáculo acontecer, de fato. Estamos ansiosos para próximas apresentações e em breve divulgaremos nossos próximos passos.

Agradecemos também à Ocupação Artística do teatro Glaucio Gill - Câmbio - e aos nossos apoiadores. Sem eles o nosso espetáculo realmente não teria acontecido. Agradecemos à Cena da Cidade, mostra dentro da qual fizemos uma apresentação e que nos trouxe um público diferenciado e inesperado.

Enquanto isso, sintam-se à vontade para comentarem sobre o espetáculo aqui mesmo nessa postagem. É uma forma que temos de validar e amadurecer ainda mais a nossa montagem. De ouvir e trocar opiniões sobre um trabalho que precisa estar sempre em movimento, para não morrer. Deixem seus comentários. Eles são importantes, acreditem.

helena flávia adassa e fabíola

sábado, 18 de setembro de 2010

último final de semana no TGG,

ensaio 02 no gláucio gill

a verdade é que nossa temporada no teatro glaucio gill durou mais do que três semanas. sim, o processo teve o seu segundo ensaio no teatro. e depois muitos outros vieram. em resumo: estamos nos apresentando no espaço que gestou essa nossa descoberta, esse filho, esse monstro. sim, é verdade. foram muitos ensaios ali, com espaço em reforma, em obra, já renovado, sujo, arrumado… o teatro nos servindo de alimento para um processo que ambicionava falar dele mesmo, de seus mecanismos e maneiras de amar.

esse foto ai em cima é a do segundo ensaio, a do primeiro uma das atrizes faltou, então só começamos a bater fotos a partir do segundo. fabíola que nessa foto ainda é um mistério, que não conheço, não imagino, não sei do que é capaz. carolline que tinha um cachorro escondido ai dentro dessa camisa tomara que caia. que loucura. adassa assustada com o quê? com tudo isso que iria lançar por sobre nós? e flavinha, já disposta à encrenca. já disposta ao desafio, lançada sem volta para dentro do furacão.

estou contente. o que fazer agora que estou contente? vou tomar banho e ir para o teatro porque não posso chegar atrasado. quem não viu, eu convido. vejam! o nosso trabalho depende do encontro, o nosso trabalho morre toda vez que se encontra contigo, com você, qualquer você que possa ser. venham. queremos morrer. nos oferecemos ao sacrifício de ser isso que escolhemos ser: e é bom. porque tem você do outro lado. porque temos nós dois cruzando muros e amanhecendo os dias.

sobre o ensaio da foto acima, clique a seguir (RECORTO ALGUNS COMENTÁRIOS):

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ensaio #2

Teatro Gláucio Gill – 31/03/2010 – 13h às 16h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa e Fabíola.

Flávia sugeriu uma possível encenação, como se as atrizes se divertissem a peça inteira experimentando coisas a partir do texto e ao término, lembrassem que estavam a esperar Godot.

A Carolline nos trouxe o comentário sobre o ATO FALHO. É bem interessante, como manifestação repentina do insconsciente. Um movimento pelo qual o inconsciente se dota de fala e FALA.

As meninas jogaram uma raia durante 15 minutos apenas.

A liberdade maior esteve no confinamento dos comandos da raia, quando a liberdade da improvisação as permitiu muito mais, não souberam o que fazer.

Até lá, cada uma ficou responsável por postar em breve um estudo, comentário, opinião, qualquer coisa, sobre a peça ENSAIO. HAMLET da Cia. dos Atores.

A que distância as atrizes estão de nosso GODOT? Suas expressões tentam nos dizer NA FOTO ACIMA <<<

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

oi Miranda

Miranda, que preguiça...nada disso, nada de preguiça vou dizer, vou falar, aqui estou eu, não estou mais, aqui estou eu, não estou mais, aqui estou eu..pronto fiquei, aqui estou eu, vou dizer, Miranda preste atenção, vai sair num grito senão não sai mais então escute: É DIFÍCIL EXISTIR MIRANDA MAS AQUI ESTOU PORQUE NÃO PODERIA DEIXAR DE DIZER QUE BOM QUE VOCÊ EXISTE, POR QUASE NADA VOCÊ NÃO EXISTIRIA, QUASE NADA, QUE MILAGRE É A VIDA MIRANDA, QUE GRANDE MILAGRE, VIU COMO É FORTE ISSO?

Miranda, estou sabendo que andam falando de você, querem te ver ou melhor querem te consumir, assim como eu confesso. Confesso que te quero como nunca pensei que fosse querer, Miranda, você é o meu fetiche mais bem realizado porque como todo bom fetiche não se realiza, se espera.... aiaiai Miranda, não vá fazer o favor de chegar e ai de você se não vier... Sei que é contraditório mas não se assuste tanto assim, faz parte da vida contemporânea: ser contraditório e ser contemporâneo. Já nem sei o que digo, você Miranda confunde meus pensamentos, fico tonta, tenho vontade de chorar, de gozar, de rir e lamentar, de me indignar, sei lá você me desconcerta Miranda e toda essa desorientação está me viciando, o que faço Miranda se eu me viciar em você? O que faço se eu desentender qual o nosso papel nisso tudo e querer chorar feito criança e cavalgar até os pirineus e procurar pelo senhor Alberto e lembrar do menino chamado Juca e do menino Liberano e das meninas Adassa, Helena, Fabíola e Flávia? O que eu faço Miranda se eu sentir uma saudade doída de você?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Mais dois finais de semana,

CAMBIO TGG VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA, continua a sua temporada. O espetáculo acontece aos sábados e domingos, às 19h e é seguido de outro espetáculo também oriundo da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Trata-se de HOMENS GORDOS DE SAIA, de Nicky Silver, direção de Morena Cattoni. Se você for assistir a MIRANDA, não deixe de prestigiar HOMENS GORDOS. Ambos espetáculos integram a 3ª Mostra A Cena da Cidade: A CENA OCUPA A CIDADE, que acontecerá no Teatro Gláucio Gill nos dias 17 e 18 de setembro. Fiquem ligados.

“Uma criação que respira por si mesma”

O nosso espetáculo foi indicado pelo site TECNICOLOR - tecnicolor.art.br -, de acordo com postagem feita por Maria Clara Coelho,

“A dramaturgia, apesar de partir do texto de Beckett, ganha autonomia do texto que serviu como ponto de partida, configurando não só um novo olhar e uma nova concepção da tão famosa obra, mas também uma criação que respira por si mesma”.

Miranda

Estamos contentes. E o que vamos fazer agora que estamos contentes? Clicar no link abaixo e assistir VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA neste próximo final de semana.

Confira aqui: http://tecnicolor.art.br/blog/2010/09/07/vazio-e-o-que-nao-falta-miranda/

domingo, 29 de agosto de 2010

vazio é o que não falta, meninas

vou me dispor a discorrer de forma breve (ou não) sobre as nossas cenas, como costumo fazer. é um texto para vocês, atrizes. ada, fabíola, flavinha e helena. é o caos disfarçado em tentativa de organização. nada disso serve para arrumar, é tudo estímulo para deixar as coisas ainda mais difíceis (e sensíveis). pois vamos:

PRIMEIRA TENTATIVA ou ESTAMOS ENTERRANDO GODOT. o público entra e não sabe de nada, quase nada (é onde me engano). nem do nosso referencial primeiro, nem das últimas descobertas. por isso é importante já trazer esse livrinho, flávia. no entanto, para servir de exemplo, apenas. para mostrar sem precisar dizer nada mais. aliás, eu sugiro, é melhor enterrá-lo logo. não o livro-objeto, mas aquilo que está dentro dele. é melhor enterrá-lo. então faz-se enterro sem precisar se vestir de preto. o enterro vem pela intenção, meninas. pela precaução de fazer as palavras chegarem à outra. o enterro vem também pelo desespero de se fazer legível e comunicável (ada e flávia sabem do que estou falando). o enterro vem pelo não saber, fabíola. quase como se abrisse os braços querendo perguntar gente, o que é isso? sim, as coisas morrem, helena. vamos juntos pela respiração, pela conversa que vai chegando e querendo acabar com o silêncio. vamos juntos pela intensidade que o enterro vai fazendo surgir. a gente não aguenta esse silêncio todo. a gente quer falar, quer rir. sabemos que o silêncio ali é vontade acumulada de doer. mas vamos com calma, eu ajudo vocês a limpar. o diálogo faz com que vocês se aqueçam, eu digo, se esqueçam. por isso enterram o fulano. enterram profundamente e tão rápido se descobrem vazias dele. por isso, uma sugere o novo alvo da espera, né, ada? pode sugerir, nós vamos gostar, desde que deixem os peitos abertos para que algo novo aporte. essa palavrinha que sair daquele livro pode ser uma bomba para o dia. estejam despreparadas.

SEGUNDA TENTATIVA ou AS QUATRO EVANGELISTAS. ou quase que uma parábola para valorização das minorias. é sério, depois isso foi ficando mais claro, por que não acreditar em uma pessoa e acreditar em outras mil? onde está a crença? naquilo que se acredita ou na quantidade de crentes? para o bem e para o mal, acreditar em minorias é possível. para o mal e para o bem, em maiorias também. ou seja, estamos perdidos. isso se vocês não começassem um jogo paralelo entre vocês. isso se vocês não disputassem aquele foco (que não temos). ou seja, nos divertimos à custa de algo que nem sequer nos é problema. não tem ninguém ali querendo chamar mais atenção do que a outra. tem? bom, se tiver, divirtam-se, essa cena é exatamente espaço para esses desastres. só não nos deixem sem entender exatamente a coisa do 3:1. beleza, vamos mudar: a coisa do 1:3 (lê-se: um para três). fabíola mãos apresenta a questão. flávia setas remonta a questão. ada boca seduz atenção. helena susto ganha solidão. no final das contas, nós só somos por causa do outro, né? então é melhor tentar de novo:

TERCEIRA TENTATIVA ou SOMOS INESGOTÁVEIS. sim. somos sim. e daí acaba dando nisso mesmo. que bom que o rafa nos deu uma mesa e cadeiras. é bom sentar. reconhecer a fome e seguir, com mais escuta e comunhão (até que tudo desande novamente, como tem que ser). não se percam dizendo por dizer. ali só se diz o que é dito. e nada mais. nada fica no meio do caminho. tudo se assume, gente, tá tudo exposto, não? não queiram dar um texto novo apenas pelo divertimento de fazê-lo. não queiram ser autoras porque essa constatação se dá no mesmo momento da morte da obra. não se creditem, sigam jogando. existe algo ali sendo dito, sendo tentado, sendo posto em tentação. vamos fingir algo inédito. mas é tudo mentira, é tudo ensaiado, enfim… espaço para bancar a ficção. não é isso, no final das contas? deixem esse terror do inédito assolar vocês. queiram o mote! queiram o mote e ada, só nos entregue algo se for pela primeira vez. sempre pela primeira vez. esqueça que já sabemos, vamos todos esquecer. vamos brincar por alguns minutos que somos seres capazes de se surpreender. ai, pronto. vocês se ouviram e fizeram outro aborto nascer:

QUARTA TENTATIVA ou QUEM ALCANÇA SEMPRE ESPERA. eu fiquei pensando que fui jogado para dentro disso tudo. que divertido, estou com vocês. é sério. é legal. quero ter tempo para olhar para cada uma e dizer qualquer coisa pelo olhar. dizer o pavor de mentira mas que é real mas que podemos manipular. dizer que se acalmem e essas coisas que o diretor gosta de dizer mesmo sabendo impossíveis. sim. será divertido. vamos fazer o pior, me entendam, vamos convencer a galera que a nossa parada vinga. vamos deixar a fabíola no chinelo, até porque, ela vai dar muito problema nas próximas cenas. vamos então judiar dela, dar o texto que cabe na boca, dar a lágrima que não cabe no olho, dar os cacos que precisam ser tirados do chão para não ferir ninguém. vamos ouvir o que estamos dizendo, ficcionalizar a nossa ficção. uma escadaria de mentiras sinceras. a nossa profissão. desculpem-me se eu falar por demais formal. não sei o que vai dar dessa cena, sorte que os apoiadores abrirão espaço para confabularmos atrás das placas. e quando nos virem de novo, olhos nossos estarão cheios de água (de tanto rir escondido do absurdo nosso!). é ótimo estar com vocês.

QUINTA TENTATIVA ou O NOSSO PAPEL NISSO TUDO! é tão bom que naturalmente acaba. e a flávia está certa, gente, já não é a primeira cena, é a quinta tentativa. muita coisa já passou. muita coisa já foi tentada e nesse desejontade de erguer algo que dure mais que alguns minutos, partiremos para a qualquer coisa. Sim, tem que escolher, mas pode tudo sim. Eu digo a vocês. Pode tudo, Helena. Sobretudo você, faça o que quiser. Lembrem-se do nosso PdD. Lembram-se? Gente, ele está cada vez mais claro. É agora que a Fabíola depois de apanhar consegue ver o jogo (Fabíola, eu vou ver você arquitetando tudo isso. Eu estarei ali para isso). E Helena, crie raíz em cena. É a cena em que você tem tempo para respirar. Então respira e se crava. Pode se cravar. Enquanto isso a Ada e a Flávia giram e giram e giram e giram e giram. (Elas sabem que são cinco giradas). Pode qualquer coisa: sorte, porque podemos mudar o tapa e selar o encontro, dizendo as mesmas coisas, é disso que estamos falando. Da nossa capacidade - estranha, sim - de fazer toda e qualquer coisas ter sentido. O NOSSO. Então façamos, se for preciso, me solicitem. Eu estou ali para isso. Mas devo dizer: me divertirei à custa de vocês. Porque é engraçado. Sinceramente, aeromoça, baterista, musicista, enfermeira… Ada e Helena o supraobjetivo de vocês é matarem o diabético de tanto rir. E vocês sabem que ele ri com extrema facilidade, então… Provoquem-nos. A provocação é o que nos dá a cena. A cena é o que nos ata à Miranda. Sim, ela está ali.

SEXTA TENTATIVA ou NÃO QUEREM REPRESENTAR? sim, queremos. estarei presente, não se esqueçam. poderemos repetir, não se preocupem. não se esqueçam que cada uma tem uma carta de repetição para usar quando quiserem. o que eu acho? acho que helena e flávia tem que aceitar que são V(ladimir) e E(stragon). É aquilo ainda, mais intenso, mais fortalecido pelo tempo. Ada chega como P (poderia ser Miranda, convenhamos…). Enfim, Fabíola como L e por ai, vamos todos juntos, brincando de ser ficção outra vez. De manter pelo maior tempo possível os laços com quem nos vê. Vamos tentar isso, fazer durar aquilo que sabemos que vai acabar, mas que vale muito alimentar, ali, naqueles pedaços de existências compartilhadas, dilaceradas, fatiadas, expressas, reveladas… Enfim, vocês não querem representar? Então… Vamos lá. É hora disso. É hora para se esconder dentro do personagem sim e descansar deste mundo. É hora de ser integralmente o outro que não conseguimos amar. É hora de dar tchau para si mesmo e se esconder dentro de um corpo que nem sequer sabíamos possuir. É hora de surpreender sendo surpresa. É hora de morfar!

SÉTIMA TENTATIVA ou EL SILENCIO DE MIRANDA. Cansa, né? Fabíola, não perca aquela sua dor das apresentações anteriores. Não queira se fazer comunicável cantando dor nova, dando verbo e gemidos ao que precisa ser silêncio. Ele é fechado, morre em ti, mas mata a quem assiste também. Faz-nos cúmplices, laça, compreende? Sem orgulho, no melhor sentido da coisa. Deixa doer. Deixa, vai. Depois a gente se vinga, a gente funciona dessa forma. Então as três vão tagarelar, agora em três tempos, e eu te ajudo a arrumar o cenário para o assassínio (morre a palavra enquanto fundação do sentido). Morre pelo excesso, morre no grito! Sim! Tem que tomar biotônico! Tem que puxar o microfone do pedestal como já sabes! Enquanto isso, as outras fisicalizam o que a cabeça adoraria converter em palavras, mas não há voz exceto a sua, então, deixa o corpo gritar. Quebra tudo. Eu prometo, depois eu te ajudo a limpar. Ainda que com aquele pano imundo.

OITAVA TENTATIVA ou O MENINO…

encerro-me aqui. sem fim. nos vemos no ensaio.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Espetáculo da jovem companhia Teatro Inominável apresenta quatro atrizes e um diretor tentando montar uma peça de teatro


Estreia no dia 4 de setembro, no Teatro Glaucio Gill



A jovem companhia carioca Teatro Inominável apresenta o seu novo espetáculo, VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA. A peça propõe uma reflexão sobre o ato de criação de uma obra de arte, no caso, a própria peça de teatro. Tanto o elenco de quatro atrizes (Adassa Martins, Fabíola Sens, Flávia Naves e Helena Cantidio) como o diretor do espetáculo (Diogo Liberano) estão em cena, atados numa busca ininterrupta por aquilo que já se encontra ante ao espectador: o próprio espetáculo.

O processo iniciado em dezembro de 2009 partiu de uma proposta muito específica: se debruçar sobre fontes diversas com o intuito de investigar as etapas do que seria um processo de transposição para a cena dos meandros dramáticos de tais referências. Dentre os materiais usados como estímulos criativos destacam-se ESPERANDO GODOT do dramaturgo Samuel Beckett, filmes como DOGVILLE e CIDADE DOS SONHOS, respectivamente de Lars Von Trier e David Lynch, além do quadro AS MENINAS, de Diego Velásquez.

Frente do programa de porta

Durante boa parte do processo, que durou cerca de sete meses, a equipe esteve num embate contínuo com estas e inúmeras outras referências, produzindo cenas e uma dramaturgia marcada pela exposição do processo de construção do espetáculo. O teatro é o instrumento pelo qual as atrizes tentam se relacionar com o mundo e falar das questões que lhe são caras. A angústia existencial do ser humano é colocada lado a lado com a angústia criacional do grupo de jovens artistas.

O espetáculo começou como um projeto curricular dentro do curso de Direção Teatral da UFRJ, do qual o diretor Diogo Liberano é graduando. Ele pontua: “optamos por matrizes dramáticas que já tivessem alguma reflexão metalingüística sugerida, sobre a qual as atrizes pudessem somar a sua opinião sobre a construção do espetáculo. Assim, VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA se configura como uma encenação que é a metáfora do nosso próprio processo de criação”.

Verso do programa de porta

Na maioria das obras escolhidas como estímulos para o processo, observou-se um olhar sobre o ser humano marcado pelo absurdo da condição humana, pela angústia e esvaziamento dos valores, resultando num vazio existencial característico do homem contemporâneo. Diante dessa presença por vezes incorpórea, o esforço durante o processo foi o de tirar proveito do vazio, buscando sinalizar para a sua existência enquanto parte constituinte de todo e qualquer ser.

São quatro atrizes construindo cenas numa peça que não se monta de fato, visto que faz parte de sua própria constituição ser pedaço, incompreensão, tentativa. "VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA acabou virando um estudo sobre erro, tentativa, boicote e sobre o agora. Virou um estudo principalmente sobre os limites e expansões que fazem parte do ato de criar uma obra”, afirma Flávia Naves, uma das atrizes que integram o Teatro Inominável.

Cartaz/Flyer de divulgação do espetáculo

No blog do espetáculo (desesperandogodot.blogspot.com) é possível encontrar o relatório de cada um dos ensaios, além de artigos, vídeos, imagens e reflexões produzidas pela equipe durante o processo. De acordo com a proposta de encenação (também presente no blog), “não há nenhuma história aparente. Nada é dito. Tudo está para ser construído. O sentido de VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA está na busca do sentido. A peça é uma espera pelo olhar que a habitará e que se completa com a imagem do espectador”.

O espetáculo, que integra a ocupação Câmbio do Teatro Glaucio Gill, é uma aposta em intuições, por meio de um jogo com a linguagem e a exposição de sua própria falência. O próprio título do espetáculo, de acordo com a atriz Helena Cantidio “abre interpretações variadas, pois sugere a existência do vazio ao mesmo tempo em que sugere quase que uma declaração de amor ao vazio, como um convite para que o homem se disponha a jogar e se divertir com tudo aquilo que lhe é falta”.