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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Vazio é o que me falta,

Não estou nada esvaziada por dentro agora. Pelo contrário, estou borbulhando de Miranda em mim; to esperando com a ansiedade de uma menina o dia de nos vermos de novo, de nos desnudarmos pra quem estiver pela frente, de tentar jogar com ela que nunca está lá. É uma delícia saber que vamos ao seu encontro, mas não vamos encontrá-la, de novo.

É uma certeza de felicidade que se permeia pelos vacilos intermináveis, na companhia de nós que somos inesgotáveis. A cena tá me chamando pro buraco negro da espera, que se movimenta mais em nós do que qualquer presença. É tão gratificante saber que estou viva e vibrando por dentro, do jeitinho que Pozzo gosta.

Sabe o estômago? Mais em cima. Sabe o coração? Mais pra dentro, mas em diagonal. O Pozzo é preciso, é firme, é lamentável. Ele tenta dizer pra que veio, fala fala fala mais mais mais e não diz o que queria dizer. Acho que o seu teatro (não vida, Pozzo faz teatro) é o de tentar a tecla da estrela, de ser linda, de ser fabulosa, de ser Maryl Streep (eu sou assim, e odeio dizer). Porque Ada é assim, mas por odiar ser acaba que mostra o lado frágil, o lado de estar ali aprendendo, o lado de saber que não é boa. O bom do Pozzo é que ele distorce o máximo possível aquilo que Ada menospreza. Pozzo gosta do teatro, Ada também. Pozzo mostra o seu feio, Ada também. Pozzo quer mais, Ada também.

O estar em cena na tentativa da MIRANDA pra mim é tão bom porque é muito encômodo junto. Eu detesto ser Pirineu; eu detesto ser Narradora "falam todas ao mesmo tempo"; eu detesto bater na Fabi; eu detesto ser Pozzo. E é por isso tudo (e mais) que eu amo estar ali, cavucando na minha ferida e vendo as outras se cavucarem. O negócio só funciona porque enquanto eu to me cavucando a Flavinha tá rindo de alegria, enquanto a Helena se esburaca a Fabi tá gozando, enquanto o Diogo tá sem saber como sentar a Ada tá imitando o seu monólogo de sempre. E esse alimento me enche agora de friozinho na barriga.

Platéia, não seja má, venha nos ver. Mas olha platéia, precisa estar cheio, porque é assim que Pozzo gosta. E lembra-se: NÃO TRAGA MIRANDA.