\\ Pesquise no Blog

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Carta a Miranda

Divina Miranda,

estamos faz dias tentando encontrar as palavras certas. Depois de muito dizer, de muito bradar, de muito tentar, voltamos ao zero, ou seja, voltamos para dentro, para o umbigo, para o centro. Sim. De fato. De onde surgiria um nome que não fosse do próprio corpo, daquilo que é nosso? Daquela máquina desejante que grita e impõe à força a sua revolta, a sua identidade, a sua absurdidão? Hein?

Vamos estrear o espetáculo em breve, acredite. Seríamos imensamente felizes de vê-la perdida em nossa platéia. Sem dúvida, caso venha, de fato, avise-nos, para que possamos deixar o seu nome na lista amiga. Infelizmente não trabalhamos com convites, a não ser que você venha a escrever alguma coisa sobre o nosso trabalho e tenha a pretensão de publicar tal coisa num jornal desses ai.

Miranda, Miranda… A última vez que nos vimos eu nem sei. Não me lembro, de fato. Durante o processo é possível cometer todas as atrocidades e nem sequer ter consciência disso. Durante um processo de criação me pego amando sem saber a quem, sem saber o destino de tudo isso que hoje me pesa as mãos e o peito. Sim. Vamos estrear e eu continuo duvidando das certezas. Escreve-se estréia que perdeu o acento e virou estreia mas que perde esse “i” ao se escrever estreando?… Sim. Estamos enterrando Godot. O que virá a seguir, Miranda, só nós vale mais que Godot porque diz respeito ao agora. É para você, cara espectadora ainda agora ausente.

Queria te dizer tanta coisa, te explicar, te indicar para onde olhar… Mas não. Eu preciso aprender a não responder a tudo e a todos. Eu preciso aprender a conviver com as dúvidas. Elas aos poucos serão respostas. Sim, Miranda. O tempo continua passando e eu aqui querendo dormir quando na verdade não paro de pensar em você. Em você, que em breve estará sentada ali, naquele teatro, recebendo ao vivo tudo isso que durante meses nos alimentou e ainda hoje em nós reverbera (Estragon diria: aquilo que nos faz arrotar).

Voltarei a falar contigo, espero. Até que, de fato, possamos nos ver, frente a frente, munidos de palavras mudas e de olhos gritantes de tudo isso que ainda hoje não podemos resolver, porque não tem solução, Miranda. Meras contradições movediças, é isso o que somos, a bem da verdade.

Do seu,
Diogo Liberano

aspettando godot

Achei bacana o trabalho deles...

http://www.youtube.com/watch?v=zQNpZvzh3nA&feature=related (prima parte)
http://www.youtube.com/watch?v=74P6GDqHkpg&feature=related (seconda parte)
http://www.youtube.com/watch?v=M6miVNsCEHE&feature=related (terza parte)

terça-feira, 20 de julho de 2010

THE WAIT IS OVER.

mesmo. godot chega hoje, às 20h, na UFRJ. alguns da equipe falam alguma coisa.

ADASSA, ADASSA,, ADASSA,,,

Digitalizar0009

MERDA!!!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O QUE FICA

Se a vida tem dessas coisas bonitas, uma delas é esse encontro que se deu entre nós: quatro meninas, um diretor, um autor e Godot, sempre ele Godot.
Godot no dicionário inominável da língua portuguesa é: aquilo que não cede, que não recua, que não desiste, que não finda.
Godot resiste em terra de ninguém, Godot persiste em tempos imensuráveis, ainda Godot e mais uma vez Godot. Se Godot é um enigma que não quer ser decifrado, modéstia à parte, fizemos um belo trabalho.
Beckett e sua peça “Esperando Godot” nos convoca à provocação e Diogo Liberano aceitou o desafio sem antes, é claro e porque não, revidar a provocação convidando quatro atrizes para interpretarem os quatro e únicos personagens masculinos da peça. E assim foi. E assim é. Mulheres um tanto homens, homens ainda mulheres, mulheres por vezes meninos, meninos ainda meninos. Estamos há um dia da estréia e eu só tenho duas certezas: não ter a menor idéia do que seja esse espetáculo e estar apaixonada por isso.
O pequeno relato que faço a seguir ajuda a ilustrar o que acaba de ser dito: são três e cinqüenta e três da manhã, não consigo dormir porque completamente tragada e envolvida (por essa potência que é o teatro e que igual só mãe quando tem que arrancar o filha da boca do jacaré) tento escrever a sinopse senão da peça, pelo menos da primeira cena-tentativa do espetáculo, quando finalmente acho que consegui o que tenho é assim: Um porco é quebrado pelo cão que lia a história contada pela menina- moço, que esperava o gato ser arremessado pela moça- velho que tagarelava sem parar com a moça- outro, que ainda não havia entrado na história de Godot.
Essa poderia ser uma das sinopses da peça, como também tantas outras dependendo mais da vontade, que da capacidade inventiva de cada um. A peça é um convite ao desconhecido, e como todo bom convite que se queira bom convite é mal- intencionado, o nosso não poderia ser diferente, acolham a contradição com os olhos fechados e as mãos abertas. Acreditem, somos inesgotáveis!
Obrigada Fabíola por me deixar falar com uma santa paciência e por dizer o que eu precisava escutar; obrigada Adassa por me surpreender tantas vezes e tão boas vezes; obrigada Carolê pelo companheirismo, pela sincera lealdade e pelos latidos, obrigada Diogo por não ceder e principalmente por me comprar em kit completo, pagando à vista e sem exigir a nota fiscal. Obrigada Diogo por me deixar existir. Muito obrigada a Léo, Rafa, Bru, Davi, Lívia, Gabi, Ronald, Vinícius, Diogo, Vanessa, Santos, Juarez e a toda essa equipe de Godot que nos acolheu com tanto amor. Para finalizar, obrigada a todos pela coragem. Bom vôo para todos nós!

está chegando a hora de quebrar o porquinho

ESPERANDO GODOT

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Oitava \\\\\\\\

Dançaram. Realmente, é mais divertido, Estragon. Por isso ainda não conseguimos marcar essa cena. Mas mesmo assim, depois de terem dançado, já sabemos, rola um cansaço-contentamento por ter se divertido. Um cansaço físico que mesmo assim não consegue as impedir de pensar. Então se erguem ao lembrar que estão ESPERANDO GODOT. Mas é diferente, eu sinto. O esperar agora não parece algo tão assim assim, porque nas últimas tentativas vocês ficaram mais tempo do que se poderia supor, tentando, se divertindo, existindo. Então, Pozzo lembra a todas que estão ESPERANDO O MENINO. Aquele menino, que aparece no final da peça e vem dar a notícia de que GODOT não vem. E então brincam, mais uma vez. Tudo é pretexto para ser criança. Tudo é pretexto. A criança que afronta, Pozzo. A criança portuguesa elétrica, Estragon. A criança dos bonecos e vozes, Lucky. A criança que cresceu, Vladimir. Até que… Puf! Transtornados. A criança grita no corredor, Sr. ALbert!!!

E entra um menino para o qual talvez nunca estaremos preparados.

SE PERMITIR SER CRIANÇA. SE PERMITIR FALAR E FAZER, EM TEMPOS DISTINTOS. NÃO BATER O PÉ E FALAR. BATER O PÉ, ESTRAGON, E DEPOIS DIZER. SE DIVERTIREM, EU ACHO. LUCKY! A SUA HISTÓRIA É LINDA. AS SUAS VOZES PRECISAM SER PRECISAS. DEIXE QUE TODOS OS BONECOS NOS PEÇAM PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA DE QUE OS VIRAM. TODOS E CADA UM. TOY STORY TRÊS. VLADIMIR ENTRA E ENTRE VOCÊS JÁ HÁ UM JOGO INCAPAZ DE SER QUEBRADO. POR ISSO PODE FAZER COSQUINHAS NO POZZO, FAZ PARTE DO JOGO ESSE MISTÉRIO DE MENTIRA QUE SUSTENTA TODAS AS NOSSAS VIDAS. LEGAL. EU GOSTO.

Sétima \\\\\\\

Fizeram um bom trabalho. Acho que elas percebem que a cena que interromperam rendeu alguma coisa. Mas, é inevitável, elas têm que boicotar tudo para não se acostumarem com a segurança. Param encostadas na mesa e reiteram a espera de Godot, não há trauma, há escolhas. Então, por que não tentar outra coisa? Lucky agoniza, deixa cair ao chão a cadeira com a caixa amplificadora e o pedestal. Estica a coluna, tenta se reconfortar, tenta fazer a dor partir. Enquanto isso, as outras três seguem num vagão textual. Como um trem, vão dizendo as palavras num mesmo ritmo como se cada palavra fosse um vagão de um trem imenso e sempre indo, sempre em movimento, partindo, sem deixar risco, memória, sem deixar nada exceto a vaga noção de sua existência. O vagão segue, as palavras são suas partes, elas fazem rodízio e não há mais personagens, há apenas o verbo indo embora como se não tivesse importância. E não tem. Lucky termina de montar toda a estrutura de sua palestra e as três se acomadam em suas cadeiras, de costas para o público. Pense, porco!

O porco pensa, ele pensa, ele articula algumas várias referências e nos dá um nó na compreensão. Ele fala de deus, do homem, da morte, da existência, da ciência, da religião, dos esportes e do amor. Lucky fala de tudo aquilo que não compreendemos, percebem? E responde a tudo isso. Para ele, a resposta está no tempo. Resposta vaga, sr. Lucky. Mas é sincera, apesar de ser equivocada. O tempo dirá! Não, o tempo não dirá nada, levanta essa bunda daí e procure uma resposta, sem isso, nada acontecerá. Por vezes no seu monólogo, somos perfurados por Vladimir, Pozzo e Estragon, que sentados, reagem ao monólogo com gestos que se repetem e assinalam a incompreensão (ou não. OU NÃO).

PORQUE AS TRÊS ALI NAQUELA RAIA SENTADA, NÃO REAGEM AO LUCKY. REAGEM A SI MESMAS, EM PRIMEIRO LUGAR. NÃO NOS OBRIGUEM A ACHAR SENTIDO NO SEU SENTIDO JÁ IMPRESSO. QUEREMOS SER CRIADORES DO SENTIDO E NÃO OBRIGADOS A CONSUMIR AQUILO QUE VOCÊ JULGA FAZER SENTIDO. PORTANTO, PERMANEÇAM NO JOGO ENTRE VOCÊS QUE O DESTINO A GENTE COMPLETA. LUCKY, A SUA FORÇA É AGORA. A SUA REVOLTA É AGORA. TEM UMA MULTIDÃO ALÉM DAS PAREDES QUERENDO TE OUVIR E TEM VOCÊ UM MICROFONE, PARA DAR UMA HELP. ATENÇÃO AO CORPO, AO ANDAR.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sexta \\\\\\

As vozes das atrizes ecoam de fora do espaço cênico para dentro. Você é implacável, estávamos contentes… É assim mesmo, mas não é o caso de abandonar tudo o que já foi construído. Estragon pega as garrafas d’água e aposta numa tentativa que só ele sabe qual é. Avança a Vladimir e tenta – pela memória do corpo, pela memória dos movimentos – trazer à cena algo que foi feito em ensaio e que selou o encontro entre os dois, entre os dois atores, entre as duas atrizes, entre os personagens, as personagens, enfim… Nisso, Vladimir amolece e eles se reencontram outra vez.

Então, eis que surge Pozzo, carregando Lucky pela corda amarrado. Desbravando novos caminhos, entram como se estivessem conquistando novas terras. Pozzo alto, Lucky caindo. Didi e  Gogô acham se tratar de Godot. É PPPozzo! Então, têm a atenção voltada a Lucky, que geme de dor e cansaço. Estragon fica em Lucky. Pozzo e Vladimir se estranham. São dois discursos querendo dar conta de um mesmo mundo. Duas propostas de absurdo. Um quer provar uma coisa o outro a mesma coisa, porém, por vias distintas. Pulsão sexual. Garrafas pau de plástico. Tentar ser homem, tentar ser ditador, tentar deter o controle. Elas tentam, o tempo inteiro.

REPETE! Fala o diretor tentando as colocar mais próximas de algo que só elas o sabem. REPETE! Não é implicância, é sinalização de que é preciso ir mais, se esburacar, aprofundar a intenção e a vontade e doar-se inteiro naquilo. Depois de desentendimentos, Vladimir dá o seu discurso. Faz com que ele nasça ali, na nossa frente e ali, na nossa frente, ele o mata. Esgarçando a tentativa até não restar nada exceto a nossa indiferença. Consumimos já tudo, nada resta virgem, alheio ao nosso toque.

REPETE! Pozzo se envergonha e chora, não consegue não chamar atenção. Pozzo não sendo o centro prefere pôr fim à cena, no entanto, Didi e Gogô estão cheios de lágrimas, acabam querendo chorar e é preciso dizer que é mentira, para que eles/elas abandonem a proposta e respirem um instante.

FALTA FAZER COMO SE FOSSE A ÚLTIMA VEZ, CLICHÊ, EU SEI. MAS FALTA ISSO SIM. FALTA ARROTAR, ESTRAGON. FALTA COÇAR O PAU, DIDI. FALTA LUCKY ME CONVENCER DA SUA DOR, SUTILMENTE, COMO UMA ÁRVORE QUE DESPENCA EM CÂMERA LENTA. FALTA POZZO NÃO FAZER POSE. FALTA POZZO ENDURECER A FALA E GRITAR EM GRAVE SOM. FLERTAR COM A ORDEM, FLERTAR COM A PRECISÃO. FALTA VER QUE É UMA BRINCADEIRA. E QUEBRAR A BRINCADEIRA, NO 3:1, EVIDENCIANDO-SE QUE LUCKY CONTINUA SEGUINDO, SOZINHO. FALTA O DIRETOR BRINCAR INTEGRALMENTE, OU SEJA, PEDIR PARA REPETIR TUDO AQUILO QUE JULGAR NÃO ESTAR ADEQUADO.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Para VLADIMIR

Quinta \\\\\

Elas volta a se desculpar, afinal de conta – elas têm razão – o primeiro passo é o mais difícil. Resolvem então começar de qualquer parte. Vladimir propõe uma cavalgada até os Pirineus e leva Pozzo com ele. Enquanto isso, Lucky insiste numa apatia incompreensível. Só quebrada pela proposta de Estragon em tentar a morte, tentar se enforcar. (Estragon propõe isso ao ver que Vladimir o substituiu por Pozzo). E vão rumo ao enforcamento, mas descobrem outra coisa no meio desse caminho: Estragon reitera que sempre teve vontade de conhecer os Pirineus e que por isso não se permitirá morrer. E Lucky descobre uma maneira de se ter uma ereção, ou seja, de tirar um certo gozo a partir dessa árida situação (leia-se: encenação).

Los Pirineus

Pozzo e Vladimir se divertem nos Pirineus e não conseguem convencer Lucky a entrar no jogo. Quando finalmente Vladimir se aproxima de Estragon, já é tarde, pois Lucky e Pozzo começam a brigar e enterram a possibilidade de continuar a brincadeira da cavalgada aos Pirineus. Brigam. Didi e Gogô surgerem outra possibilidade – menos violenta – para o texto mote da briga. Lucky acaba com tudo, trazendo um possível Godot para o meio da cena e acabando com a espera. Lucky sai e deixa Vladimir perdido, expõe as atrizes em sua busca, em seu lugar de suplicantes. DIVERTIREM-SE COM O JOGO DOS HOMENS RUMO AOS PIRINEUS. LUCKY PRECISA DESCOBRIR O MOTIVO DE SUA APATIA, ESTRAGON PRECISA TENTAR ENTRAR NO JOGO. EXPOR A TENTATIVA DE SE ENFORCAR E EXPOR – AINDA MAIS – O QUE OS DESVIA DESSE DESTINO. EXPOR O JOGO DAS QUATRO SENDO CONSTANTEMENTE AMEAÇADAS POR UMA AÇÃO INDIVIDUAL. ESTÃO CONECTADAS. LUCKY PRECISA ESTAR NO PDD PARA PROPOR SUA SAÍDA COM O CACHORRO GODOT. TEMOS QUE VER ISSO ACONTECENDO. O MOMENTO DO SUPLICANTE É APENAS UMA EXPOSIÇÃO VERBAL DO QUE JÁ SE EVIDENCIA EM CENA. VLADIMIR QUER APENAS OUVIR SUA DEIXA CORRETA, QUE É: O NOSSO PAPEL NISSO TUDO É O DE SUPLICANTES.

Quarta \\\\

Mais uma tentativa. Sugerir uma improvisação. Uma atriz convida às outras ao seu programa de auditório, ao vivo, que se chamará… A partir daí, esta atriz está livre para destilar seus venenos e comentários, enquanto as outras devem seguir as falas do texto de Beckett. Pergunta ao telespectador e pergunta de alguém da platéia serão momentos em que elas realmente deverão improvisar a resposta. Por isso, acho que a apresentadora dará um tempo para pensar na resposta… Tempo este em que as três atrizes pesquisarão nos livros que estão em suas mãos. COMPRAR O ANTES E O DEPOIS. ANTES: SÃO PEGAS DE SURPRESA PELA SÉRIE DE PROPOSTAS FEITAS PELA ATRIZ QUE FALA PRIMEIRO. OU SEJA, PROGRAMA TELEVISIVO, AO VIVO, RECEBENDO O ELENCO DE ESPERANDO GODOT. SÃO MUITAS INFORMAÇÕES. A ATRIZ QUE É A APRESENTADORA PRECISA TER JOGO DE CINTURA PARA PREENCHER A CENA COM AQUILO QUE AS OUTRAS – PRESAS AO TEXTO DO BECKETT – NÃO TÊM CONDIÇÃO DE DAR. COMENTÁRIOS PERNICIOSOS. O DIRETOR ESCREVERÁ UMA PERGUNTA NOVA ÀS ATRIZES QUE SERÁ LIDA COMO SE FOSSE A PERGUNTA DA ESPECTADORA MIRANDA. INSERIR O TEMPO PARA PENSAR. AS TRÊS ENTREVISTADAS PRECISAM DESCOBRIR COMO OPINAR SOBRE AS RESPOSTAS QUE ESTÃO DANDO. NEM SEMPRE SÃO AS MELHORES, ÀS VEZES PODERIA TER SIDO OUTRA, BEM MELHOR…

Sentam-se de volta à mesa, ansiosas por embarcarem em uma outra proposta que possa durar mais tempo. Mas reconhecem, o primeiro passo é o mais difícil.

Terceira \\\

A vergonha bate à porta. Já tentaram algumas coisas, mas nada funcionou até então. Por isso, resolvem encontrar justificativas, inventar desculpas para amenizar o fato de estarem indo por um caminho pouco interessante dentre dessa encenação de ESPERANDO GODOT. Pedem desculpas, colcoam a culpa no Beckett, com os livros nas mãos, tentam dizer que são obrigadas a dar somente as falas do original. Entram numa interpretação de si mesmas que é o over do clichê, são atrizes interpretando a si mesmas. Com as devidas ampliações e exageros. Não sabem ao certo o que fazer. Até que surge uma pausa. Que elas tentam preencher. Diga alguma coisa. Diga alguma coisa. Diga alguma coisa. Estou tentando. DIGA QUALQUER COISA. E eis que uma das atrizes diz qualquer coisa, a primeira coisa que lhe vem à cabeça e que virá a instaurar um jogo improvisacional a partir do tema dado. PRECISAM SE OUVIR, DAR UMA FALA DE CADA VEZ. PRECISAM NOS DEIXAR VER QUE SUAS CADEIRAS SÃO SUSTENTADAS PELO LIVRO DE BECKETT E QUE QUANDO ESTE SAI, ELAS (ATRIZES E CADEIRAS) FICAM BAMBAS. ESTABELECER O CLIMA ENTRE AQUELAS QUE ESTÃO NA MESA. POZZO NO DICOTÔNICO, FALANDO APENAS AS SUAS FALAS E NÃO AS OUTRAS. DUBLANDO AS OUTRAS, QUERENDO FALAR, MAS NÃO FALANDO. DEPOIS DO TEMOS TODAS AS VOZES, MORTAS! DAR UM TEMPO PARA QUE CADA UMA REVELA A SUA MANEIRA DE SE RELACIONAR COM O LIVRO. TEMPO. AS COISAS ESTÃO SE ATROPELANDO.

A atriz que falar primeiro depois da fala improvisada será a responsável pela proposta de improvisação. E terá a liberdade de falar o que fizer, sendo que as outras três deverão improvisar a cena proposta pela colega seguindo o texto de Beckett.

Segunda \\

De fato eles tentarão alguma coisa. Do nada, o tema é a Bílblia. Lucky puxa uma conversa sobre os quatro evangelistas que viram dois ladrões serem crucificados lado a lado ao Salvador. Lucky explica com uma clareza total. As dúvidas que surgem se explicam. Lucky detém o poder da fala e sabe como usar, sabe como explicar. Ele aponta aquilo que julga ser absurdo, Todos os quatro evangelistas estavam lá. E só um evangelista fala em ladrão salvo. Por que acreditar nele evangelista e não nos outros evangelistas? E então cada um tentará dar a sua versão da mesma história. Quem segue é Vladimir que, usando-se dos corpos dos presentes, desenha o acontecimento ao vivo, mas confunde-se com sua explicação. Confunde os dois ladrões com dois evangelistas. Então Pozzo assume, tornando o acontecimento dos evangelistas numa história para crianças, desprovida da preocupação apontada por Lucky na primeira versão. Estragon, já que todos tiveram seu espaço para explicar, resolve explicar também… Mas se diverte sem tornar nada mais claro, pelo o contrário, Estragon se diverte transformando as palavras em espaços vazios de significado. CLAREAR O JOGO ENTRE ELAS. SÃO QUATRO TENTATIVAS PARA EXPLICAR UMA MESMA COISA. O QUE DETERMINA O INÍCIO DA MINHA TENTATIVA? O QUE DETERMINA A MINHA EXPLICAÇÃO? QUANDO É QUE CADA EXPLICAÇÃO COMEÇA A FICAR ININTELIGÍVEL? QUANDO É QUE A EXPLICAÇÃO SE PERDE DE SI MESMA? SE ESTÃO EM CENA COMO QUATRO ATRIZES TENTANDO ENTENDER AQUILO, ENTÃO, DEVEM ESTAR EM CENA COMO QUATRO ATRIZES TENTANDO EXPLICAR AQUILO. E NADA MAIS. DA PRIMEIRA PARA ESTA TENTATIVA, DEIXAM DE BRINCAR DE PERSONAGENS À ESPERA DE ALGUMA COISA E REVELAM O SER ATOR EMPACADO DIANTE UMA PRIMEIRA E QUALQUER INCOMPREENSÃO.

Todos os quatro estavam lá. Por que acreditar nele e não nos outros?
Quem acredita nele?
Pfuh.

Primeira \

Esperar. Com dignidade. Vladimir e seu cão, Gogô. Eles esperam e enquanto esperam, Pozzo e Lucky se reencontram. Pozzo e Lucky se afastam para se reconhecerem distantes e precisarem se aproximar. Onde estavam que não se viram? O cachorro late alto e os devolve, um ao outro. Pozzo e Lucky se encontram com Vladimir e seu cão, Estragon. Sentem-se contentes e resolvem então esperar Godot. Para preencher o tempo, no entanto, resolvem conversar. Falam sobre si mesmos até o momento em que uma atriz esquece o texto e tudo então será por isso afetado. NÃO HÁ QUESTÃO COM O QUE NÃO É REAL, COM O ARTIFÍCIO. NÓS SOMOS ISSO. PORTANTO, NÃO IMPORTA TENTAR SINCERIDADE, IMPORTA JOGAR A BRINCADEIRA, BRINCAR NÃO DE FINGIR, MAS DE SER. BRINCAR DE SER, COMO CRIANÇA MESMO. INTEGRALMENTE. ELAS AVALIAM O RESULTADO DA CENA E PERCEBEM QUE É PRECISO AVANÇAR. TENTAR OUTRA COISA. PORQUE PORCOS PASSADOS NÃO MOVEM MOINHOS.

E se tentássemos outra coisa agora, que tal?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

LISTA DE OBJETOS - 02

  • flor
  • gato de pelúcia
  • caneta preta
  • porco-cofre
  • microfone
  • pedestal para microfone
  • caixa amplificadora
  • duas garrafas de água
  • cabo de áudio
  • matriuskas
  • livros
  • máscara de cachorro

Ensaio #35

Sala Paraíso – 01/07/2010 – 13h/18h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa e Fabíola.

Neste ensaio Vladimir e Estragon, não se sabe porque, chegaram juntos e atrasados. Então, eu, Lucky e Pozzo discutimos bastante sobre essa relação, essa dependência afetiva e metalinguística, já que as duas atrizes só estavam juntas porque seus personagens deveriam estar juntos.

Fizemos um passadão da primeira à quinta tentativa e a Fabíola teve que sair mais cedo, deixando-me apenas com Didi, Gogô e Pozzo. Conversamos muitas coisas, sobretudo amenidades, e só depois resolvemos tocar na sexta tentativa, aquela em que cada atriz tinha seu personagens distribuído e suas falas específicas. Ada falou assim, eu anotei: “Eu imaginei que isso seria fácil”. Ela estava dizendo sobre as cenas em que obecedemos as lógicas dos personagens. É vero, eu também achei. E nos fudemos, porque é muito mais difícil.

Fizemos um jogo que propûs e que acabou virando a cena, nos ensaios seguintes. As atrizes vivendo as personagens, sem muletas, sem frescuras, se esforçando por mirar e atingir a outra, um tiroteio, escuta aberta, sobriedade, sem show, coisa seca e seca. A atmosfera abaixou, disse a elas. Tive a sensação que o pé direito diminuíra e que tudo estava mais comprimido. Enfim… E ainda tinha o tal “repete”, que eu dizia sempre que julgava necessário.

Ao término do ensaio, chegamos à seguinte construção:

cada TENTATIVA termina com um BOICOTE à EXPANSÃO que perfurou o LIMITE e instaurou o ERRO, revelando o AGORA.

Ensaio #34

Teatro Gláucio Gill – 30/06/2010 – 13h/18h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa e Fabíola.

Intensificamos o trabalho sobre as tentativas três, quatro e cinco. O ensaio foi muito produtivo. As meninas acharam que eu dei um golpe, porque desde o início do ensaio eu falei que teríamos que sair do palco por volta de 15h, no meio do ensaio, ai elas correram tanto, fomos tão ágeis no levantamento de cena e tal, que quando descobrimos – eu também – que não precisaríamos sair mais cedo, tivemos tempo para passar várias vezes as cenas novas com as já levantadas. Foi ótimo. Nada planejado.

Nesse dia, a Ada trouxe-nos uma confissão. Ela nos disse que o “Pozzo é o meu pior”. Fiquei impactado, porque era algo previsível e ao mesmo tempo tão forte e sincero. A Adassa em ESPERANDO GODOT está lutando contra o seu pior, tentando amadurecer enquanto mulher e artista. Nossa, isso está rendendo…

Foi um ensaio tão bom que num dado momento, não me lembro ao certo, acho que eu disse que era importante ver como o ensaio tinha sido bom, porque nem todos seriam desse jeito e que por isso precisaríamos ter clareza sobre o que é um processo: um gráfico inconstante e instável.

Ensaio #33

Sala Paraíso – 27/06/2010 – 11h/15h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa, Fabíola e Léo.

Meu caderno está em branco neste ensaio. Tenho apenas anotado que fizemos um passadão das poucas cenas que tínhamos e que trabalhamos as tentativas três e quatro. Sim, agora me lembro, marquei mais essas tentativas, que julgo não terem funcionado muito bem. De fato, algo que aprendi nesse processo: é preciso persistir nas poças. Sim, ficar ali naquela coisa que você julga errada e ruim, ficar sobre ela, dar ao problema a sua atenção. Amar a merda… É verdade.

Ensaio #32

Sala Paraíso – 24/06/2010 – 13h/17h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa, Fabíola, Léo e Davi Giordano.

Para este ensaio eu levei as duas primeiras tentativas marcadas, no papel. Ao chegar, entreguei a cada atriz uma carta que havia escrito na noite anterior, reiterando coisas, afirmando outras, deixando algumas outras ainda mais claras. Fui bem irresoluto, tirando questões que não eram questões, estabelecendo o papel de cada uma. Elas precisavam de norte e eu forcei a barra, disse que seria grosso caso saíssem do que eu tinha planejado e fui. Em vários momentos eu as cortei e nem sequer ouvi o que disseram. Não era o momento. Disse a elas que quando esse tipo de jogo acabasse eu avisaria. Ainda bem, ele está chegando ao fim cerca de 10 ensaios depois e temos uma peça levantada.

Sobre a primeira e segunda tentativas, as coisas acabam se clareando no fazer, naturalmente. Muitas marcas foram ali, na hora, revistas. Não há questão. Marcamos para o próximo ensaio a marcação das tentativas três e quatro.

Ensaio #31

Teatro Gláucio Gill – 23/06/2010 – 13h/17h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa, Fabíola, Gabriela Lírio e Brunella Provvidente.

Foi um ensaio pancada. Primeiro, porque as meninas produziram mais uma vez uma quantidade enorme de material. Segundo, porque os ânimos se exaltaram e ficou um clima ruim, tendo sido necessário interromper o ensaio para continuar tudo no próximo. Ainda assim chegou-se a um esboço da primeira tentativa, foi interessante. O que aconteceu e que logo em seguida exigiu de mim um controle maior, foi saber dar às meninas o seu lugar, que definitivamente não era o meu. Estávamos criando tudo juntos desde o início, mas chegara o momento em que o diretor deveria fazer escolhas e determinar cenas e movimentos que não poderiam passar pelo aval de cada atriz.

Acho que o ensaio serviu para isso, sobretudo. A presença da Gabi é sempre determinante, ela acabou reforçando isso que eu escrevi acima. Bom, foi isso o que segui nos ensaios seguintes.

domingo, 11 de julho de 2010

Para ESTRAGON

Falo.............

Estamos a nove dias da estreia. Que loucura, gente! O tempo passa de verdade. E não adianta, por mais que se diga que haverá outra estreia, noutro teatro, noutro mês, etc e tal: a nossa estreia acontece agora, no dia 20 de julho de 2010, às 20h. E ainda há tanto a ser feito, naturalmente, que eu nem me assusto. Os maiores desafios serão os dessa semana, quando em meio a algumas criações – que ainda não foram efetuadas de forma prática – ainda temos que nos preocupar em trabalhar bastante o que já foi levantado, para ganhar mais e mais. Somos inesgotáveis, de fato, mas o cansaço entra em jogo.

Prefiro que Lucky dance logo. Preciso que o menino também chegue. Preciso fechar textos, trilha, iluminação. Para não falar em cenário e figurino, que estão chegando e completando a peça. As coisas nesse movimento de surgir, aterrisar, acabam nos dando um pouco mais sobre esse mistério que a peça parece destinada a ser. Eu gosto. Não que eu soubesse, mas é que as coisas assim se cumprimentando e selando o encontro acabam por gerar algo tão novo, melhor, algo genuíno. Ver os conceitos lá do início agora com vontade acontecendo, é muito lindo ver a obra surgindo, ela se erguendo e se alimentando enquanto nós dormimos, enquanto nós simplesmente andamos.

Na última noite foi uma gritaria sem fim. Eu tentei deitar para dormir, estava mesmo muito cansado, mas tinha combinado comigo que precisava – antes de dormir – estudar alguns pontos específicos de ESPERANDO GODOT. A peça sumariamente contra o meu sono antecipado e me fez ficar horas entre a vida e o sonho, tendo num e no outro vislumbres daquilo que ficou mais claro quando eu acordei. Neste tempo, meio dormindo acordado, ouvi a fala que entrou hoje no ensaio: Vamos embora. Não podemos. Por quê? Estamos esperando o menino.

Coisas que só um sonho pode explicar. E então fizemos esta encenação para brindar aos nossos sonhos. Ela é a mistura do que pode e do que já foi proibido. É a mistura de formas claras e escuros imensos, riscos persistentes e presenças envoltas em sumiço. Ela é engraçada e sinceramente ruim. Ela é o que nós temos de melhor. Mas, sobretudo, é o nosso melhor ruim. O sonho é este lugar, onde tudo e nada se amam, quando tempo e espaço flertam e brigam, se aproximam e se escondem.

É tremor, é mudez, é falar até a boca secar. É um convite que fazemos a você, um convite para esperarmos juntos por qualquer coisa que possa servir de motivo para estarmos ali, próximos, respirando um mesmo ar, ouvindo as mesmas vozes, evocando memórias e criando um repertório juntos. A nossa arte não tem propósito mais sério do que este, o de ser pretexto para encontrar.

Somos motivo, ponte, estrada, condução… Mas paramos no meio de caminho sem você. Recebam-nos. E o depois, no depois a gente vê.

sábado, 10 de julho de 2010

Mensagem do Salvador.

...Naquela mesma hora chegaram os discípulos ao pé de Jesus, dizendo: Quem é o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles, e disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se tornar humilde como este menino, esse é o maior no reino dos céus. Mt 18:1-4

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Para PPPozzo

Para que não se esquecer onde pôr as mãos

Solilóquios para VLADIMIR

Um monólogo de LUCKY

Godotche!!



Não percamos tempo com palavras vazias, façamos alguma coisa enquanto há chance. Não é todo dia que precisam de nós, ainda que não seja exatamente de nós, outros dariam conta do recado tão bem quanto, senão melhor. O apelo que ouvimos se dirige antes a toda a humanidade, mas nesse momento, nesse lugar a humanidade somos nós, queiramos ou não, aproveitemos enquanto é tempo, representar dignamente uma única vez que seja, a espécie a que estamos desgraçadamente atados pelo destino cruel. O que estamos fazendo aqui, essa é a questão, foi nos dada uma oportunidade de descobrir, sim, dentro dessa imensa confusão apenas uma coisa está clara: estamos esperando que Godot venha.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

sobre a volta do que não foi – de fato

alguns fantasmas vão e voltam, sem pedir licença. falo da dança indígena, algo que surgiu numa improvisação e que deseja a todo o custo entrar na nossa encenação de ESPERANDO GODOT, mesmo quando dizemos: NÃO!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

verbos do MONÓLOGO DO SORTUDO

-AR

duvida
ficou
evidencia
levarão
considerando
atirados
recomeço
está
patinação
precipitemos
desejada
ama
estamos
atormentados
acabarão
incendiando

-ER

sabe
é
são
dirá
interrompido
perdendo
corrida
encolhendo
sofre
interrompida


-IR / -OR

poria


--
acho que é isso, mas tenho minhas dúvidas...

terça-feira, 6 de julho de 2010

QUARTA TENTATIVA

VLADIMIR E ESTRAGON– Quem espera sempre alcança!

LUCKY – Sim! No programa de hoje, QUEM ESPERA SEMPRE ALCANÇA, trazemos até vocês o elenco do espetáculo ESPERANDO GODOT, de Samuel Beckett, com estreia agendada no Rio de Janeiro. Vamos recebê-los com todo o nosso carinho!

ESTRAGON – Você é implacável.

POZZO – É mesmo.

LUCKY – E não é um elenco de homens. Bom, até onde eu saiba no original de Beckett são personagens masculinos e não mulheres, estou certa?

POZZO – Por acaso tenho o aspecto de um homem?

VLADIMIR – De fato.

LUCKY – Quatro mulheres interpretando homens. Qual é o papel de vocês nisso tudo?

VLADIMIR – Representar dignamente, uma única vez que seja, a espécie a que estamos desgraçadamente atados pelo destino cruel.

LUCKY – Percebam que ela falou “atados” e não “atadas”!

VLADIMIR – Estamos “acostumados”.

POZZO – O nosso papel nisso tudo é o de suplicantes!

ESTRAGON – Estamos sempre achando alguma coisa para dar a impressão de que existimos.

LUCKY – Mas há outras apostas que não ficam atrás dessa! Disseram-me que vocês não falam absolutamente nada além das palavras que constam no original de Beckett!

VLADIMIR – Ah, sim. De fato.

LUCKY – E são apenas vocês três em cena ou temos mais surpresas?

ESTRAGON – Não. Somos quatro, ao todo. A outra atriz é uma surpresa a parte!

LUCKY – Quer dizer... Vocês então não falam nada além do texto de Beckett?

POZZO – Nem “Beckett” a gente fala, porque ele não cita o próprio nome na peça.

LUCKY – Mas por que isso? Em pleno século XXI, com uma produção dramatúrgica cada vez mais intensa, por que apostar num clássico e não num novo texto?

VLADIMIR – É uma pena que o diretor não esteja aqui para responder. Nós também fizemos essa pergunta várias vezes a ele, não foi, meninas?

ESTRAGON – De fato. Mas estivemos seguras durante todo o processo.

POZZO – Nosso lema era estabilidade! Tudo sempre muito claro e objetivo, limites precisos, propostas bacanas...

LUCKY – Agora você... Você se sente bem em cena?

POZZO – Ah, é um espetáculo bonito, sabe? Era o que eu queria desde o início, que fosse bem tocante e bonito, compreende?

LUCKY – E vocês conseguiriam me dizer por que ainda esperam por Godot?

VLADIMIR – Acho que tem uma coisa da vaidade. Nesse processo o que nós fizemos foi perder a vaidade, sabe? Um desapego total. Estivemos disponíveis, sabe? Entregues! Essa aqui foi já foi cachorro, a outra porco, eu já fui sapo...

ESTRAGON – Nós já fomos índios, se lembram?

LUCKY – Índios?

POZZO – Teve um ensaio que a gente apresentou uma composição que havíamos feito e que tinha uma dança indígena.

ESTRAGON – Eu me lembro. Estava o diretor e um pesquisador em Beckett, o Leonardo Samaritano. Não tivemos como escapar, pagamos um mico horroroso!

VLADIMIR – É esse abandonar da vaidade que eu estava falando! Na peça a gente tem momentos de cuspe, né? De... De... De...

ESTRAGON – Arroto.

VLADIMIR – Arroto... São coisas que a gente faz...

POZZO – Por mera interpretação. Assim, é só por amor à arte. Realmente essa coisa do amor é o que permeia todo o nosso trabalho.

VLADIMIR – Lindo isso. O amor à arte é o que nos faz estar aqui. Sem vaidade, cuspindo no chão, arrotando... Um nível de exposição digno de aplausos e boas considerações... Porque boas intenções nós tivemos muitas durante todo esse processo...

LUCKY – Então para você que liga agora em QUEM ESPERA SEMPRE ALCANÇA, hoje estamos com o elenco de ESPERANDO GODOT e elas estavam me dizendo que há no espetáculo uma cena em que interpretam indígenas à espera de Godot...

ESTRAGON – Ah, não! Isso não chegou a entrar no espetáculo.

POZZO – Têm coisas que são realmente muito ruins e que é melhor não entrar...

VLADIMIR – Tipo a dança indígena, tipo a sua masturbação com uma lâmpada fria...

LUCKY – Meu deus, eu não vejo a hora de assistir a esse espetáculo!

ESTRAGON – Nós também não!

LUCKY – E quando estreia?

ESTRAGON – Então, pessoal que está em casa... É engraçado falar para uma câmera, né? A gente de teatro tá acostumado com o calor da platéia, com risadas e suspiros... Aqui é tudo tão silencioso...

POZZO – ESPERANDO GODOT estreia em setembro, no Teatro Gláucio Gill, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Até lá estaremos fazendo ensaios abertos na sede da nossa Cia, o Teatro Inominável...

VLADIMIR – Eu queria só pontuar uma coisinha... É que esse espetáculo foi feito com muita boa intenção, gente. Independente do resultado, nós estamos contentes...

POZZO – Estamos contentes.

LUCKY – Eu também. Muito feliz por tê-las aqui no meu programa. Mas antes que partam... Eu tenho mais duas coisinhas...

VLADIMIR – Pode mandar... Somos inesgotáveis.

LUCKY – É uma pergunta enviada por Zélia Berrettini, estudiosa em Beckett... Vejamos: Vocês têm alguma noção do que estão fazendo com ESPERANDO GODOT?

VLADIMIR – Ah, não!

ESTRAGON – Ah, sim!

VLADIMIR – Ah, não! Célia...

LUCKY – Zélia...

VLADIMIR – Então, Zélia... A questão já não é essa. Eu te respondo com outra pergunta: e o que ESPERANDO GODOT está fazendo conosco?

POZZO – É muito bonito tudo isso, sabe? Isso de se reunir com outros artistas e se ver ligado ao outro por causa de um punhado de papel que foi escrito em 1948...

ESTRAGON – 49...

VLADIMIR – 50.

LUCKY – Então não deixem de assistir, ESPERANDO GODOT, em breve aqui no Rio de Janeiro. Mas antes que vocês partam de QUEM ESPERA SEMPRE ALCANÇA...

VLADIMIR – É engraçado que o título do seu programa não esclarece muito o conceito temporal e espacial da sociedade contemporânea, né?

POZZO – É porque depois de muitas pesquisas em ESPERANDO GODOT nós descobrimos que não é verdade.

LUCKY – Que não é verdade o quê?

ESTRAGON – Que quem espera sempre alcança. Porque de fato quem espera nem sempre alcança. Nós descobrimos que, na realidade, é quem alcança que sempre espera.

LUCKY – Ah, eu vou querer mudar o nome do meu programa! Mas antes que isso aconteça, e que eu seja demitida, mostrem-nos um pedaçinho dessa tal dança indígena...

VLADIMIR – Ah, não!

ESTRAGON – Ah, sim!

POZZO – Ah, não!

LUCKY – Ah, sim!

LUCKY – Muito bem... Muito bom, gente!

VLADIMIR – Ah, não! É horrível!

ESTRAGON – Ainda bem que não entrou no espetáculo!

LUCKY – Então para fechar, deixando uma boa impressão...

VLADIMIR – Eu queria mandar um beijo muito grande para o nosso diretor.

ESTRAGON – Ele não pôde estar, mas foi alguém muito reconfortante no processo.

POZZO – Nunca problematizou absolutamente nada. Sempre nos colocando em um lugar de certeza, quando estávamos com dúvidas ele vinha com respostas.

VLADIMIR – Ele nunca ria, era sempre muito sério. Falava: “gente, vamos voltar”...

POZZO – E não deixava a gente se perder nas palhaçadas...

LUCKY – Então para fechar, eu queria pedir algum trechinho da peça...

POZZO – Ah, sim!... Ótima ideia!... Vamos embora.

VLADIMIR – A gente não pode.

ESTRAGON – Por quê?

VLADIMIR – Estamos esperando Godot.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Anagrama Lucky

Qualquer humano duvida da existência de Deus. Calma, recomeço.
Ao contrario da opinião de Testu e Conard, Poiçon duvida da existência de Deus.

Desde a morte de Deus, não se sabe por quê, evidência-se que o homem...

Ficou estabelecido sem a menor margem de erro que ainda hoje o homem duvida da morte de Deus

Ficou evidente na opinião de Testu e Conard que o homem é Deus e que Deus é o homem.
Sabe por quê Belcher duvida da existência divina de um Deus que nos ama a todos?
O e o lado mais grave da investigação levarão todos as lágrimas.

Belcher duvida da existência divina. Recomeço, o que ainda é mais grave

Recomeço uma investigação que levarão todos as lágrimas. Belcher duvida da existência divina. O que é ainda mais grave, ficou evidente que Deus é o homem e o homem é Deus

Os fatos são graves, mas considerando por outro lado, que deus poria quem duvida de sua existência no inferno? Atirados na defecação, pelados nos rios de fogo e labaredas. Calma, calma!

Por outro lado recomeço ainda hoje paralelamente aos avanços nos trabalhos, nas experiências com penicilina, enfim...

Recomeço ainda hoje o trabalho interrompido

Miranda, tão desejada e qua qua qua, interrompida por Wattman, ama Poiçon ( o de barba branca), sofre e está perdendo peso. Ai ai ai, as lágrimas , calma Miranda, calma... Por outro lado Sena ama Marne, Marne ama Oise...

Sena ama Marne, Marne ama Oise e Oise, não se sabe por quê ama Miranda.
Estão se perdendo?
Recomeço: Sena ama Marne, Marne ama, enfim... Estamos perdendo tempo, na prática...

domingo, 4 de julho de 2010

TERCEIRA TENTATIVA

limite
FALAS DO BECKETT

.

expansão
META-LINGUAGEM

.

boicote
SAIR DO TEXTO: "QUEM ESPERA SEMPRE ALCANÇA"

.

erro
PASSAR A FALA DE UMA PARA A OUTRA (BATATA-QUENTE)

.

agora
"CLICHÊ" (ESTARMOS VENDIDAS)

.

SEGUNDA TENTATIVA

limite
CONTAR A HISTÓRIA DOS EVANGELISTAS

.

expansão
COMPETIÇÃO

.

boicote
NÃO COMPRAR O JOGO DE GOGÔ

.

erro
INDIVIDUALIDADE

.

agora
TÉDIO

.

PRIMEIRA TENTATIVA

limite
CORDIALIDADE

.

expansão
BRIGA

.

boicote
PORCO QUEBRANDO

.

erro
TER QUERIDO "USAR MÁSCARAS" (SER CORDIAL)

.

agora
VOLTA DA MÁSCARA

.