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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Por que QUEM ALCANÇA SEMPRE ESPERA?

Porque é óbvio, não? Você come um doritos e após acabar com todos, restará perdido dentro de você o desejo de mais um, de só mais um. A galera sabe disso. A galera se aproveita e desce a mão. Tem um chocolate no Brasil chamado Bis. Quer dizer, ele nos sugere que talvez possamos querer sempre mais um, sempre mais, sempre.

Acho que quem alcança - aquilo que deseja - sempre espera porque o desejo é força renovável. O desejo não acaba. Não enquanto formos vivos. É essa a ordem natural. E se não soubermos disso, nos cobraremos um mar de insatisfações que só nos fazem mais desenfreadamente consumir, na tentativa de dar conta do segundo. Espere um instante. Nós podemos restar sem sentido. O sentido é só um pedaço de chocolate. Que quando deglutido, acaba e nos deixa enfim ansiosos de novo pela redenção que o consumo parece causar.

Em VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA a coisa da espera não faz sentido. Por isso invertemos o ditado popular. Por isso agredimos o ditato popular, o inconsciente coletivo. Não vem com esse papo de que quem espera sempre alcança. Nem sempre alcança. Quem espera fica sedentário, isso sim. Quem só espera engorda e falece seus sonhos. Ou nem isso. Podemos apenas nos olhar no espelho e perceber que aquele que alcança, sempre vai ficar a espera do que ainda não veio. Ou do que veio e poderá enfim vir novamente.

Somos máquinas desejantes, já diria Deleuze e Guattari. É verdade. Pura verdade. Nossa condição natural é a de ser esquizofrênicos, em profunda relação kinestética com o mundo e seus valores, suas relações e composições. Se sabemos disso, o desafio reduz seu tamanho - que é grando posto seja reificado - e a vida ganha uma simplicidade que beira a um jogo simples de ligar e desligar, de ir e vir, de ser e estar. Quero dizer: vamos ser conscientes de toda a nossa merda, de todo o nosso não-sentido, vamos ser donos da nossa falência para, no mínimo, podermos rir disso.

É isso. Quem espera escolhe esperar. Quem alcança, por extensão, também pode escolher chegar lá. Onde quer que seja o lá. Onde quer que seja o aqui. Quem espera sempre alcança para que você perceba que está faz minutos sentada na frente do computador quando o mundo te convida a ser você e você faz o quê? Espera. Como um burro na multidão de burros. Como um potencial desistido no mar de desistidos.

Levante.

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sábado, 25 de fevereiro de 2012

E por que somos inesgotáveis?

Porque o espelho foi quebrado e precisávamos colar.
Partiram-se caquinhos de nós na colagem.
Ao colar fez-se caquinhos de imagem. Como um quebra-cabeças de 1 milhão de peças só que sem peças e sem encaixe possível.
Talvez o problema seja a rotação da terra, ou a circulação do sangue.
Impossível de estancar, prosseguimos tentando.
Não vejo a hora do menino chegar.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Segunda tentativa: Por que as 4 evangelistas?

Por que as quatro evangelistas?

4 atrizes – 4 evangelistas
2 ladrões – 1 diretor + 1 menino
1 salvador – Miranda
“Dois ladrões crucificados lado a lado com o nosso salvador.”
Apenas um é salvo, mas sua existência não se configura de fato. Está à margem da história, pois o único que importa realmente é o salvador, que morreu, ou que nem existiu, mas que todos esperam chegar.
“Como é possível que, dos quatro evangelistas, só um fale em ladrão salvo? Todos os quatro estavam lá – ou por perto – e apenas um fala em ladrão salvo.”
3:1. É a nossa mesa torta, enquanto 3 pesam de um lado 1 se eleva no tampo da mesa. Se houvesse consenso não haveria uma boa dramaturgia.
“Todos os quatro estavam lá. E só um fala em ladrão salvo. Por que acreditar nele e não nos outros?”
Porque acreditar no salvador? Em Miranda? Nas atrizes? No diretor? Nos ladrões? Acredito em quem cria as verdades mais verossímeis, ou as mentiras mais sinceras.

Quarta tentativa: Quem alcança sempre espera, aonde?

Quem alcança sempre espera, aonde?

Por partes.
“Quem” se refere a nós, 4 atrizes e um diretor.
“Alcança” o que? Godot? Miranda? A construção de uma peça? Mas qualquer peça? Tem importância aonde queremos chegar? Claro que tem, senão não estaríamos novamente pensando “Miranda”. E agora me deu uma certa aflição, porque não sei aonde queremos chegar com tudo isso. Se não sabemos, nunca chegaremos, portanto, nunca esperaremos.
“Sempre espera” é um termo dual. Esperamos Miranda, mas como nunca alcançamos a peça, estamos sempre tentando, e não esperando acontecer. A espera então não é ação, mas temática e ficção, é um mote, no máximo uma crença de que em algum momento conseguiremos terminar essa peça. Não se trata mais de Miranda ou Godot, e sim de nós mesmos, da nossa criação.
“Aonde”? Fácil, na sala de ensaio, nas mesas de café, nas mesas de bar, na nossa sede, no palco, em frente ao computador, ou em qualquer lugar que nos propormos refletir sobre o vazio que nunca falta.
Resumindo: Nós nunca alcançamos, portanto nunca esperamos, mas esperamos alcançar.

E DONDE somos inesgotáveis?

Donde a dor engole o choro e nos convida a prosseguir.
As quatro evangelistas descobriram-se enormes, lindas, potentes, fortes, elas se amam, elas se querem e tudo isso pra poder seguir sem tanto sofrimento. É possível ser feliz, mais uma descoberta.
Miranda,veja quanta coisa estamos descobrindo e queremos compartilhar isso com você, se você chegasse agora Miranda você seria enfeitiçada por nós, você sumiria na luz ofuscante das nossas presenças. Nossa capacidade para o amor é inesgotável. E para o sorriso. E para o trabalho. Prosseguimos...sem Miranda, ainda é possível...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Onde as quatro Evangelistas?

Religião pode ser trapaça. Tem sido assim com a grande massa.
Mas a religião interior não. Nunca suportei quem fale mal da fé.
Racionalmente entendo todas as questões científicas levantadas em torno de Deus.
Mas creio tanto e o acaso é tão forte. Sinto muito. Sou extremamente sideral.
E Jesus? Jesus pode ser tanto e infinito. Todas as religiões me dizem coisas e me dão tanto.
O teatro é sagrado, e é mesmo- (talvez por poder devolver o tanto que recebo?).
Não importa quem disse o quê e o porquê de todos acreditarem em uma e não nas outras.
As quatro evangelistas não existem, estão tão longe... e por isso ainda na sala de ensaio.

TERCEIRA TENTATIVA: Por Que E Somos Inesgotáveis?

O princípio, a gasolina, o que nos move em Miranda é a certeza de sermos inesgotáveis.

Aquilo que se esgota nos permite pensar que tudo o que foi feito teve um fim, por isso se esgotou, não dá mais, está acabado, está redondo, um esgotamento é uma ideia fechada e pronta, é um dado, um fato, "isso se esgotou", ficamos satisfeitos com esta constatação porque parece que mesmo sem sucesso podemos partir para outra sem o peso do abandono na consciência.

A inesgotabilidade nos possibilita gastar o que já foi feito, tornar a abrir o que parece fechado, deixar que acreditemos que não foi acabado o que já se bastou por tantas vezes. Ser inesgotável é qualidade do que pisa em cima de novo, do que torna a acreditar que ainda há suco, ainda dá caldo, e essa quantidade de tentativas pelo mesmo fim ou mesmo objeto transforma o ser humano num buraco sem fundo, num fora da lei.

Por que e somos inesgotáveis? Sim. Para conseguir dar cabo de Miranda até o fim.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

POR QUE as quatro evangelistas

Porque precisamos nos distrair...mentira, por que precisamos falar, sim, falar, dizer, deixar gastar, vociferar, regurgitar, escandalizar, latir. O enterro de Godot nos imobilizou por um instante, por um instante nos deixamos fragilizar diante do silêncio cor de luto que se fez naquele momento, silêncio ensurdecedor que pipocava em nossos corpos. Eis que então juntas, a decisão: vamos praticar conversação. Você se lembra? O que você me diz? O que você quer dizer? Fale eu escuto, falemos todas, falemos junto. Começa então a pregação...
Mas atenção ao seguinte fato, as palavras evocadas ao contrário do que se poderia pensar, estão mais próximas da prece que da doutrina, não é instrução é súplica.

o drama que nos urge

meninas, vou falar sobre a nossa dramaturgia. sobre como demos muitas voltas para ganhar a consciência da importância de nossa invenção ainda não toda assumida. falo de miranda. dessa vadia desconhecida. falo de como é preciso encadear dramaturgicamente os passos e as tentativas. aos poucos essa clareza me cega e exige sua expressão. dentro de mim os pedaços se aglutinam e pedem reconhecimento. é quase um desespero. sendo assim, a seguir, esboço algo a partir do que escrevi no ônibus indo para o ensaio. aquilo que li a vocês, mas que sei não estar profundamente claro. naturalmente que ao passar para o blog, já vou tomar o cuidado de clarear ainda mais a parada. mas peço que vocês cliquem aqui, meninas. para não esquecermos de fato quando a clareza deve aportar. é lá na frente. é daqui a pouco. mas não é agora. agora é só confusão.

segue abaixo o descritivo de cada tentativa tomando miranda como eixo central, como eixo ao redor do qual o drama há de acontecer:

PRIMEIRA TENTATIVA_ESTAMOS ENTERRANDO GODOT

As quatro atrizes hesitam para aceitar a morte de Godot. A peça começa e já é quase um pré-luto. Em silêncio, elas talvez remoam o fato de terem sido elas as responsáveis pela sua morte, afinal, por tanto tentar encená-lo, acabaram por consumir sua última força, sua poesia e drama. Assim, elas demoram a aceitar o fato que acaba sendo imposto por uma delas: estamos enterrando Godot. É isso. Ele morreu. Não dá para fingir que é outra coisa. A partir dai é só assumir o fato porque - inclusive - é preciso que ele morra para que se possa ultrapassar tudo isso, para que se possa esperar por outra coisa que não mais o mesmo. Eis então que surge Miranda, tão aleatória e avassaladora como a própria vida.

SEGUNDA TENTATIVA_AS QUATRO EVANGELISTAS

Quem é Miranda não parece importar de antemão. Importa ter algo em mãos, isso sim. Importa não dormir no enterro de Godot. Ou seja: mal morre Godot e surge Miranda, as atrizes já começam a louvar sua nova deusa. Quem é ela? Repito: não importa dizer. Miranda talvez seja só o nosso jogo, o jogo entre eles, o encontro e os íntimos movidos e costurados, ouvidos e respeitados. Miranda é a diferença agindo sem contraindicação. Quero dizer: é como se Miranda fosse mesmo uma nova religião, uma nova ideologia, um porto-seguro capaz de comportar o vazio de nossas existências. Mas isso resolveria?

TERCEIRA TENTATIVA_E SOMOS INESGOTÁVEIS

Não. Porque elas são inesgotáveis. Porque somos inesgotáveis, é vero. E quem nos fez descobrir essa potência foi Miranda. Sua busca dinamitou nosso corpo e sentidos. Buscar Miranda (que não sabemos que não virá) é nos descobrir como estrelas de pontas luminosas e cortantes. Nós somos inesgotáveis. É Miranda quem nos permite reconhecer nossa potência latente e desesperada. Miranda me faz ser quem eu sou sem saber que sou.

QUARTA TENTATIVA_QUEM ALCANÇA SEMPRE ESPERA

Pretensa consciência. Que não resolve nada. Afinal, o que falta para ser resolvido? Quanto mais vai pior fica. Disse alguém certa vez. É o tempo que está passando. E o que fazer? Vamos improvisar. E nisso, elas descobrem que, de fato, quem alcança sempre espera. E não o contrário. Miranda fez nascer em cada uma certa ousadia, certa propensão ao impossível. Sim, como elas podem inverter os costumes sem arcar com o risco? Como podem destruir o comum e se manterem vivas? Nesta brincadeira de televisão, já tão cheias de si e autônomas de Miranda, as atrizes trazem o corpo morto de Godot para enciumar sua deusa divina. Elas descobrem no Godot morrido a falência da qual não possuíam consciência. É brincando que a vida se reorienta. É no jogo que a vida se desorienta. Em outras palavras: é fingindo que Miranda não importa que sua necessidade se faz mais legível e tangível. Paradoxo armado: é não esperando Miranda que mais a esperamos de fato.

QUINTA TENTATIVA_O NOSSO PAPEL NISSO TUDO

Crise existencial. As atrizes se percebem amarradas a tal Miranda. Fodeu geral. Seria possível não mais buscá-la? Mas Godot está morto e Miranda - elas começam a suspeitar - talvez seja apenas outro Godot, um Godot mais delas do que de seu passado. Miranda seria filha de Godot? Pelo amor de deus, quem é ela? Importa saber? Miranda é só um Godot com data de nascimento mais colada a nossa. É um Godot Guerra Fria e não pós-guerra. É abertura, neoliberalismo e globalização. Miranda é puro espetáculo, é pura sedução. Miranda tornou a vida algo insuportável. Qual seria então o papel dessas quatro atrizes? Qual é o papel delas nisso tudo? É melhor fugir da vida, elas constatam. E nisso se munem do outro que não elas para aguentar o tranco. As atrizes se trancam enfim dentro da ficção.

SEXTA TENTATIVA_NÃO QUEREM REPRESENTAR?

Mas dentro mesmo da ficção, elas acabam descobrindo que Miranda as persegue. Miranda é pura existência. Não dá pra escapar nem mesmo quando em ficção. Ou seja, não adianta fugir. Miranda é vida. E criação também é. A ficção que serviria para desembaraçar a vida acaba embaraçando ainda mais tudo isso. A ficção, maliciosa, acaba adensando tudo aquilo que por vezes tentamos não lidar com inteireza e profundidade. Quem somos nós, afinal? Somos vida? Ou ficção? Isso é vida real?

SÉTIMA TENTATIVA_EL SILENCIO DE MIRANDA

O telefone toca. Ainda bem. Mas é Miranda. O diretor disse ser Miranda. Enquanto ele sai para atender o telefone, as atrizes trocam entre si declarações passionais sobre o absurdo de sua situação. Elas não aguentam mais. Mas o diretor retorna e tudo volta a ser o que era. Ele diz que Miranda não virá. Ele diz que ela ligou e que informou não ser possível chegar a tempo. Comoção geral. Nem sei explicar. É quase um clímax. Miranda não vem mesmo. Desespero e agonia. Comem potes inteiros de leite condensado. Nesse auge descompensatório, uma das atrizes se faz imune ao drama e bate na cara de Miranda: lhe diz as verdades, diminui nossa deusa, para ficar por cima. Puxa seus cabelos e a reduz a quase nada. Sem ser explícito, percebemos que para aguentar a falta de quem amamos é mais fácil agredir nosso amor, diminuí-lo.

OITAVA TENTATIVA_O MENINO

Espera. Nem tudo está perdido. A cova que Miranda abriu e não veio nela se deitar, é antes playground do que convite ao suicídio coletivo . Não vamos partir. Vamos ficar. Porque estivemos esse tempo entre nós reunidos. E isso bastou. Miranda é pretexto para o encontro. E aqui estamos: encontrados. Nos achamos nesse mundo cheio de tanta gente talhada a quina e não a afeto. Miranda me fez encontrar vocês, meninas. E me fez olhar de volta ao mundo, a procura de suas feições, de seus gestos e sentidos. Miranda me fez amar o meu medo, o meu pior, me fez cruzar limites como fossem meus limites apenas riscos de giz no chão da infância. Que não venha, Miranda. Que fique na sua imensidão inatingível. Que seja como são os deuses, meros pretextos para sermos sozinhos e quase invisíveis. Só que aqui estamos reunidos e a sua espera. E amamos essa nossa vocação. É te esperando que nos encontramos. É a cada espera a ti destinada, cara Miranda, que mais nos olhamos olhos nos olhos. Que mais nos despimos e andamos pelados dentro e fora de nossas caixas. Podemos fazê-la chegar. Mas vamos fingir que não sabemos disso. Vamos continuar fingindo. Por hoje vamos fazer chegar só o menino. Por hoje, só o menino. Só a criança capaz de seguir brincando com o destino. E isso nos fará dormir com o coração quentinho e satisfeito.

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

E por que SOMOS INESGOTÁVEIS?

Porque talvez tenhamos perdido o sentido do mundo e ainda esteja sendo necessário reinventá-lo. Somos inesgotáveis para descobrirmos nosso fundo e nosso fim. De quem falo? De nós criadores ou de nós personagens? Falo de nós nós, de nós encontro e enlace entre mundo e criação. Somos inesgotáveis porque o sentido não basta. Não quando se conhece o movimento. Poder ir para lá e para cá torna a vida único momento, performance que nasce e morre, com duração precisa e imprevistada. Quero dizer: somos inesgotáveis porque podemos ser. Somos porque não podemos. Quem nos pode dizer a real da parada? Talvez não possam. Então a gente força a forca e tende ao suicídio. Somos inesgotáveis porque nem todos são. Nem todos têm como nós temos certa propensão ao delírio. Para rolar sobre o chão rindo do nada. Que vazio o caralho! A vida é cheia de tudo e mais um pouco. O vazio é para os fracos. E nós brincamos de vazio para ficar forte. Para se ver nisso investido e nisso ir aos poucos - quem sabe - acreditando que é possível ser diferente. Que é possível ser diferença?

trabalho com princípio de desplugamento

É isso. Somos inesgotáveis porque amamos a diferença. Mesmo que doa que destrua e desoriente. Amamos a diferença porque sabemos que ela reina ali em cada poente. Que é sempre o mesmo e sempre outro. Até no mais imutável multiplicamos as possibilidades e o mundo enfim se prova grande e em movimento pleno. O mundo feita tentativa. Somos atores. Somos cínicos. Somos promessas constantes de mundos possíveis ou não. Somos porque podemos não ser. Elas são inesgotáveis porque esse é seu papel nisso tudo. Dar exemplo a multidão domesticada. Eu me corto para que você duvide do seu corte, para que você duvide dessa imposição sobre ti automatizada.

Desculpem-me. Por vezes me perco e começo a nada dizer. Viram como o nada se diz o tempo inteiro? Nós que fomos treinados - domesticados - a sofrê-lo ao invés de o viver. Por favor. O nada está ai pra todo mundo e é preciso ser inesgotável para recebê-lo. Não é papo. É muito isso, gente. Nem todos se deixam ser porto para a qualquer coisa. Quando foi que aprendemos que o bom é bom e o ruim é ruim? O mundo virou enciclopédia muito rápido. Por isso somos inesgotáveis, porque nosso iluminismo é perfurado por breus absurdos. Graças! Graças a escuridão hoje somos isso: inesgotáveis.

Sabem dúvida que não se duvida? Sabem paradoxo pedra? Que não se resolve, que só se impera sobre o mundo e tudo mais? Pois bem: somos inesgotáveis porque duvidamos do que já foi dado como concreto. Duvidamos das pedras, dos peitos blindados e das peles intransponíveis. Quem disse que o concreto é fechado que a pedra é dura que o blindado é eterno e que a pele é esconderijo? Duvidamos de tudo isso e é ameaçando a certeza do mundo que dinamitamos nosso corpo em direção ao impossível.

E isso é lindo. Eu quero ser inesgotável. Porque mesmo depois de morto sei que ressoará minha inesgotabilidade em muitos mil flashes em muitos mil sorrisos. Sei que a impaciência morrida vai reluzir na memória no livro na história na esquina. Somos inesgotáveis porque nos multiplicamos em quem nos assiste. Somos inesgotáveis porque não cessamos a busca pelo o que nos deram já como resolvido.

Somos inesgotáveis porque duvidamos. Porque o mundo precisa ser posto em cheque, all the time.

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SEGUNDA TENTATIVA: Como As Quatro Evangelistas?

Como, pois este é um momento de saber como fazer, como falar, como explicar, como estar sendo uma evangelista pregando seu evangelho.
Evangelizar o público,
uma às outras,
uma a si mesma,
como especular quem são estas evangelistas, numa segunda tentativa, onde já precisam (?) aparecer identidades, ou tentativas de, cada uma a sua maneira, avançar num caminho de construção de sentido e de lugares pessoais e íntimos possíveis?
Como As Quatro Evangelistas iniciam um trajeto de afirmação do que é ou não verdade? Um ladrão foi salvo, quem disse? Uma peça de teatro é isso ou aquilo, quem disse? Por que acreditamos? Ou melhor, como nos fazemos acreditar?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Onde AS QUATRO EVANGELISTAS?


Ora, no palco. Para que nada seja declarado construimos nossa religiao Miranda a partir de outro tipo de aglomerado. Aglomerados sensiveis. O palco que recebe as evangelistas eh o mesmo que recebe seu povo. O povo. Eu nao saberia precisar, mas eh na situacao dramatica no palco encenada que a vida se converte em escuta, eh no palco que ele pode ser analisada, interrompida e multiplicada.

As evangelistas sao essas mulheres sem dó nem piedade. Sao enviadas de um cristo falecido: Godot Transcenderam a separacao de seu deus - separacao que as constituiam - e agora exijem de si proprias e de seus fieis uma guinada. Uma lufada de crença e fe no destino da humanidade. No palco as evangelistas desfilam suas lagrimas e medos, bem como seus desejos e vontades. Elas desfiam suas dores na pretensao de serem acolhidas pelo mundo. Elas pensam que no palco suas questoes podem ser maiores e melhor resolvidas. Elas erram e percebem ser preciso errar ainda mais. Ora, em que outro lugar tudo isso seria possivel? Talvez no umbigo uma delas irá dizer. Mas nao. O palco eh o onde primordial.

O palco onde o mundo permanece, intacto e tambem quebradico. O palco irado onde escorrem crencas e principios. O palco como convivio daqueles que perderam a fe por tanto esperar ve-la agindo.

As quatro evangelistas ali onde estao nos dizem muito sobre tudo isso. Sao feito vinho em adega lacrado. Quanto mais ali vivem mais ainda seu gosto se apura. E ainda mais a embriaguez sera o saldo do contato (com eles).

Mas eh so por conta do palco que o encontro acontece e que a religiao religa o que antes havia sido apartado. Godot poderia ter chegado. Logo, convenhamos, ele ainda pode ser encontrado. A espera posta num platô multiplica o apuro do nosso olhar sobre o fato.

Por que nao acreditar na vida em conserva ali no palco e so acreditar na vida corrente do dia a dia? O palco eh onde desautorizamos isso que dizem ser a vida. O palco - este onde interminavel - eh a vida em movimentacao. Trocam-se cenarios luzes cores publicos sensacoes e discursos.

Onde as quatro evangelistas? Do lado de dentro do seu peito atravessado. O palco eh pretexto. Seu peito eh sujeito. Eh alvo. Eh nosso maior desejo. Nosso tempo e nosso espaço.

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AONDE Estamos Enterrando Godot?

Uma pergunta não-retórica. Ela exige de mim uma resposta. Uma resposta que eu não sei. De mim só sai o grito.

Agora que tudo findou,
Aonde Godot?
Godot parAonde?

Estamos enterrando Godot e isso eu sei, para juntos descobrirmos um novo caminho, uma nova-idade, um novo possível. E nessa nova configuração o aonde não é uma busca é um encontro.
Estamos em movimento, não queremos desistir, daremos ainda uma última chance, caso Godot não venha não nos desesperaremos, não mesmo. Seguiremos tentando, qualquer maneira de amor vale a pena e isso é certo. Godot se vai um outro chega. Bom que não cedemos, bom que não nos fixamos, temos entranhada em nossos corpos a potência de resistir, não queremos parar, queremos ir para..
Godot agora eu entendo, se você não vier nós iremos até você...mas só pra nos despedirmos, cansamos de você. Aonde agora? Exatamente Aonde estamos.

QUINTA TENTATIVA: Aonde está nosso papel nisso tudo?

Creio que terei que responder essa pergunta para o resto da minha vida. Mas, se tratando de tentativas, eis aqui uma tentativa de resposta, de possibilidades, de especulações. Pensar aonde está o nosso papel nisso tudo me leva diretamente para reflexões tais como: por que eu faço arte? Qual o papel da arte? E o do artista? Por que é essencial? É essencial? Ou apenas uma atividade intrinsicamente egóica, que por sorte, além de validar os artistas como uma raça especial, consegue também massagear o âmago daqueles poucos que utilizam a arte como tábua de salvação, ou seja, que fingem uma comoção ou afetação para que através desta reação forçada possam se destacar da massa, e assim como os artistas que estão ali, possam também se sentir especiais? Já que entro em cena com a descrição irritante e execrável de que “facilmente se distancia para acariciar o próprio umbigo” pretendi aqui buscar todas as verdades presentes nesta óbvia mentira. Então, aonde está o nosso papel nisso tudo? E aonde está o meu papel? Não tenho a menor ideia. O que me encanta em Miranda (e esta é uma visão externa) é que amo e odeio na mesma medida, para mim é uma peça tão genial, quanto tosca, é um zombar com a classe intelectual, é fazer baboseira com conceito. Talvez o nosso papel esteja em fazer com que Beckett se revire na tumba, não sei se de alegria ou felicidade. Talvez esteja apenas na sala de ensaio, com o único propósito de montar uma peça, mais uma. Talvez esteja na lógica da criança, para brincar de construir e desconstruir nossos pedestais. Talvez esteja na tentativa de nunca nos perdermos, de nunca sermos devorados pela obra, pelos personagens. Talvez esteja exatamente no aqui e agora, na repetição da mesma frase, 300 vezes, sem permitir que o sentido vire música, e ouvindo sempre a nossa voz. E o meu papel? Por enquanto não está em lugar nenhum, é só ideia. Por enquanto sou apenas um ruído, um espectro, uma admiradora, uma tiete apaixonada. Talvez seja exatamente esse o meu lugar.

Primeira Tentativa: Como estamos enterrando Godot?

Nua e de máscara,
Deve ser a pressa.

Bebo então muita água para me acalmar, acalentar.
Vou comprar uma mamadeira.
Tenho certeza que será mais confortável enterrar Godot com uma mamadeira por perto.
Já que não dá mais para mamar nos seios da pátria. Minha língua é minha pátria.
Ofereço os meus seios queridas companheiras e companheiro (inesgotável fonte).
Sejamos metafóricos e literais e todos os astrais nos inspirarão a entender como enterraremos Godot. Façamos isso com alegria e fé em nome dos ancestrais?
E cuidado com o cão feroz, ele é frágil.

Nua e de máscara.
Há de ser teatro.



Banksy, my love.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Títulos das Tentativas

1. ESTAMOS ENTERRANDO GODOT
2. AS QUATRO EVANGELISTAS
3. E SOMOS INESGOTÁVEIS
4. QUEM ALCANÇA SEMPRE ESPERA
5. O NOSSO PAPEL NISSO TUDO
6. NÃO QUEREM REPRESENTAR?
7. EL SILENCIO DE MIRANDA
8. O MENINO
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PRIMEIRA TENTATIVA: Por que Estamos Enterrando Godot?

Na tentativa de um inicio, através da noção de poéticas negativas, enterramos Godot para despir-nos da existência pré-criada e preparada externamente para no's, para começar nos debatendo com o único que é nosso: no's mesmos, a nossa presença e existência inegáveis e irremediáveis já que "o corpo do ator é a própria obra". No sentido vertical da ideia, diria que nessa cena já nos despiríamos sim, fisica e violentamente, pois, afinal de contas, estamos enterrando a unica possibilidade de arriscarmos uma fuga pra longe de ter que representar a nossa vida e o nosso pior e a dor de fazer brotar algo que faça sentido para uma platéia ali esperando ver o que. E ficamos nuas, e nus, obviamente para encontrar de novo o que acabamos de enterrar, o "Esperando Godot" que sempre foi o nome secreto de Miranda. E agora Miranda, inevitavelmente, já começa nos boicotando da pior forma, provando que o nosso erro está em achar que tentando expandir os limites da obra acharemos algo diferente do que ela mesma.

Por que ESTAMOS ENTERRANDO GODOT?


Sinceramente, porque ele nao veio. Eu sinto que eh por causa disso. Eu acredito no encontro. Sei da espera, mas meu pelos se erguem por conta do meu encontro contigo. Creio estarmos enterrando Godot porque ele nao nos faz mais sentido. Godot diz respeito ao que eu nao vivi. Talvez ele diga respeito ao que nao quero mais sofrer. Mas nao entendam enterrar como se isso fosse o mesmo que esquecer. Enterrar eh gesto simbolico de dar ao proprio chao que se pisa substancia para o seguir. Enterramos Godot para talvez nos estimular a vontade de sempre e novamente o buscar e atingir. Enterramos Godot para dizer que ele nao importa, e nisso invertemos os sentidos. Ele importa. Sempre importou. Mas precisamos nega-lo para em nossos corpos descobrirmos tudo isso ja dito.

Por que enterramos? Porque matar e amar sao palavras que se confudem quando postas em risco. Enterramos porque nesta acao descobrimos os erros do mundo. Erramos e talvez repetimos o assassinio para que ele fique em nos feito tatuagem.

Quero dizer: matamos para redescobrimos algum sentido. Para redefinirmos a nossa maneira de olhar tudo isso. As palavras se perdem. Godot morreu. E isso talvez nos torne seres improficuos. Estamos ficcionalizando a perda para refletirmos se eh preciso perder para conquistar o amago. A essencia. A porra do sentido.

Caminho inverso. Jogo invertido. De fato se trata de uma poetica negativa. Para que se monte o nao possivel. Para que se revele o invisivel. Para que o espetaculo revele ter ou nao intimo. Eh fim sem fim. Comeco sem inicio. Eh a prova clara e irrevogavel de que a mistura e a diferenca estao aqui como esta o tempo o espaco e todo o resto.

Poderia dizer que estamos fazendo o que estamos fazendo porque, de fato, tentamos encenar Godot. E se hoje o enterramos eh so porque foi o que nos foi possivel. Enterramos com amor o nosso Godot impassivel porque encena-lo foi mais que o impossivel. Dessa tentativa nasceu uma estrela agitada de codinome Miranda. Te tentamos muito, caro Godot, mas talvez a impotencia de decadas pos-guerra tenham lhe tirado o tesao dessas meninaa com seios de fora. Elas nao sao prostitutas elas sao santas. E como todo santo, essas atrizes sao pau pra toda obra. De todas as formas. Para todos os sentidos. Para as palavras nao inventadas e sentidos inda nao sentidos.

Se voce me perguntar por que estamos enterrando Godot eu vou te dizer: estamos fazendo isso para que voce nao deixe mais de selar seu encontro com seu abismo.

Guarda essa informacao.
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sábado, 11 de fevereiro de 2012

Sobre o ofício do ser ator

Estou dentro de um onibus passando pela Lapa no Rio de Janeiro. Acabo de voltar do primeiro reencontro com o elenco de Miranda. Como pode esse trabalho ainda hoje ecoar tanto seu sentido?

Suspeito que estejamos de fato atravessando tudo aquilo que criamos sem pretensa intencao. A peca que hoje temos eh a nossa nao consciencia sob forma estetica e gesto sensivel. Eh um jogo que jogamos e que ao mesmo tempo brinca e zomba com e de seus atuantes.

Qual seria o sentido de voltar a isso? Instabilidade. A vida em concentracao cheia de ira e gracejo. Voltamos a Miranda porque o tempo nao cessa de fazer sentido. Voltamos porque aqui estamos. E por vos, esperamos.

Refazer Miranda eh fazer Miranda. Estar em Miranda sempre foi estar nesse lugar da atualizacao sensivel: sempre jogamos a vida para ve-la se multiplicando e recombinando. Para ver a vida se refazendo. Nao ha espera. O que persiste eh movimento expresso em tentativas.

Voltamos porque queremos desdobrar dramaturgia. Queremos falar de criacao. Porque isso nos urge e dinamita. Porque faz ser possivel migalha de pao em estrela brilhante. Porque o drama nos possibilita. E se passo agora pelo sambodromo, me faco pensar como quero sambar este absurdo. O do mundo.

Miranda me soa hoje como a batida exata e precisa capaz de ranger todo e qualquer conformismo. Eh certa inercia prenhe de frutos escondidos.

Encontro. Encontro. E a pesquisa do que possa colocar nosso encontro em risco. Sempre em risco. Para que ele ainda mais se fortaleca. Ele ambos. O encontro. E o risco.

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Para Miranda,

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Ensaios___FEVEREIRO.2012

Seguem os dias e horários de nossos ensaios:

SÁBADO 11.02
14h/19h

DOMINGO 12.02
14h/19h

TERÇA 14.02
18h/21h

QUARTA 15.02
18h/21h

QUINTA 16.02
18h/21h

QUARTA 22.02
18h/21h

QUINTA 23.02
18h/21h

SÁBADO 25.02
16h/21h

DOMINGO 26.02
14h/19h

TERÇA 28.02
18h/21h

QUARTA 29.02
18h/21h

A princípio temos esse encontros agendados para o mês de fevereiro. Março já está chegando e em breve agendamos os próximos.

Para que Miranda chegue

Pois então, depois de um pouco mais de um ano, retornamos aos trabalhos para fazer Miranda chegar novamente. Muita saudade, muita falta, muita incompreensão. Estivemos esse tempo todo tentando lidar com isso que ela fez nascer em nós.

Querida Miranda, neste carnaval, neste Rio de Janeiro, estaremos nos preparando para receber você por inteiro. Voltaremos a sala de ensaio, faremos tudo de novo, com muita calma e muita ansiedade.

Alguma coisa que não se explica ficou grudada em nós, criadores. Alguma coisa sem nome, sim, de fato algo inominável está aqui, o tempo todo, e não conseguimos fazer nada contra exceto jogar. Jogar o inevitável.

Pois que assim seja, vamos nos reunir novamente para fazer acontecer este encontro. E outros mais. A ti, dedicamos o nosso maior e o nosso menor. Dedicamos a você, Miranda, o que poderia haver de mais falho e improfícuo, as virtudes todas, as paixões e também os latrocínios. Dedicamos a você, Miranda, nossos deuses e monstros. Para que a vida persista se movimentando entre extremos. Para que a vida continue sem nome.

Do seu,
Diogo Liberano

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