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terça-feira, 29 de junho de 2010

Um, dois, três salve todos!

Na capa do meu texto

ESPERAR GODOT É BOM, É PRAZEROSO. É ESPERAR QUE A VIDA ACONTEÇA. E QUE A BUSCA PELO NOVO GODOT NUNCA SE ESGOTE.


O bom é bom ou o ruim que é?
Onde eu preciso me esburacar para deixar vazar o meu pior?
Onde eu posso ser generosa comigo?
O que me move?
Há o correto?
O caminho é esse?
O que é o teatro (= vida) ?
O que eu quero mostrar pra quem vê? Tudo?
Quando há angústia?
Quando há realização de algo?
Quando há vazio, pausa, lacuna?
Dá pra esperar pra sempre?
É ruim esperar?
Até onde eu posso me vasculhar?
Até onde eu preciso me boicotar?


....
godotgotodgoodtdtogotdogttgodogtogodooodogotttogoodododododogggoo.

Ensaio #30

Casa da Flávia – 22/06/2010 – 09h/13h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa e Fabíola.

Escrevi no caderno: PARA FECHAMENTO DE UM ROTEIRO ESPETACULAR. Assim mesmo, bem ambíguo. Foi o que fizemos. Mas, antes, algumas coisas foram entendidas:

o texto seria uma adaptação sem repetições forçadas, as falas seriam distribuidas para os personagens e não para as atrizes;

a flávia nos confrontou com o seguinte: disse que eu havia prometido que godot chegaria, logo, num dado momento da peça, elas teriam que se posicionar em relação a isso, já que godot não se faria presente. em outras palavras, a flávia estava dizendo sobre a necessidade de abertura do texto, a necessidade de sair do original de beckett;

elas estão esperando godot, o tal godot, não a encenação. foi o combinado, foi dito a elas que ele chegaria. elas esperam e só ao término perceberão que ele não vem.

Nada disso resolveu coisa alguma, mas selecionamos para cada um dos oito movimentos que constituem a peça uma lista de coisas que foram improvisadas e que deveriam voltar, que tentaríamos trazer de volta ao arranjo final do espetáculo. No ensaio do dia seguinte, quarta, começamos a levantar o primeiro movimento.

Ensaio #29

UFRJ – 20/06/2010 – 13h/17h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa, Fabíola e Lívia Flores.

No meu caderno escrevi: FOI O ENSAIO. Em volta da mesa. Tentamos começar mas ali ficamos. Persistindo, tentando assimilar alguma coisa. Foi onde pequei, o auge do meu erro enquanto diretor, porque nesse processo onde tudo foi feito junto, ali era o momento em que um dado problema se apresentou e eu não soube fazer frente a ele. Eu me apaixonei pela dificuldade, pelo terror, pela desorientação, por Anne Boogart e por essas meninas. Então, qualquer sofrimento individual em mim transtornava os ânimos e isso era ainda mais material para essa encenação já abarrotada de substância.

As meninas não estavam satisfeitas. E eu comprei sua insatisfação. E juntos, percebemo-nos insatisfeitos. Ou seja, vendo agora, semanas depois, naquele momento o provérbio QUEM ESPERA SEMPRE ALCANÇA desmoronava a nossa frente e, cabisbaixos, só conseguíamos perceber que QUEM ALCANÇA SEMPRE ESPERA. Fabíola disse tanto sobre tudo aquilo que havíamos passado. Ela disse sobre máscara de cachorro, sobre ficar segurando uma placa, ela frisou mil coisas falando ininterruptamente como Lucky em seu monólogo da clareza. Foi foda, é sério. O que ela disse, em suma, foi que o nosso Godot já tinha chegado. E rapidamente vislumbramos o problema: como fazer Godot chegar de novo, de verdade, outra vez? Como trazer a intensidade do processo para dentro da peça, essa tal estrutura ensaiada, essa decupagem com uma hora de duração que é justamente a seleção de mais de 60 horas de material produzido?

Estávamos fudidos, descabelados, eu comecei a fumar um cigarro, a Flávia começou a chorar, algumas ainda estáticas, os ânimos confusos, tudo sinistro. E disse de novo Lucky, ou Fabíola, no auge do seus aforismos, Beckett deve estar rindo da gente neste momento. Percebemos-nos parte desse jogo. O nosso processo de ensaio foi a construção desses personagens, mas por outras vias. Eu me sentia o menino, ali, naquela sala de ensaio, no vigésimo nono encontro, precisando dizer a elas que Godot não ia chegar.

A Flávia, de pé, descabelada, chorando, apontando o braço para mim e dizendo, Você acabou comigo! Caralho, que merda. Foi ruim, foi bom. Foi complexo. É que descobrimos aquilo que já havia sido cantado lá atrás, fazer arte às vezes é uma merda. Mesmo. Estávamos rendidos. A professora orientadora Lívia Flores embarcou na nossa agonia e disse coisas preciosas. Ada nos falou, com as suas palavras, isso quer dizer que teremos que fazer uma improvisação? Eu sabia que sim. Eu sabia que não.

Discutimos horas a fio sobre quem estava esperando GODOT e sobre quem estava esperando ESPERANDO GODOT.

Não saímos do lugar. Optamos por refazer o roteiro do espetáculo e nos encontramos na manhã seguinte, na casa da Flávia, para fecharmos isso. No ensaio de quarta, começaríamos a levantar as cenas. Mais uma vez. Porque somos inesgotáveis.

Ensaio #28

Sala Paraíso – 18/06/2010 – 13h/17h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa e Fabíola.

Acho que foi esse o ensaio que deu pane no sistema. Porque saímos dele sem ter conseguido efetivar o objetivo do ensaio, que era o de levantar o terceiro movimento. Confesso, perto dos outros, esse era mesmo impossível. Mas tentamos fazê-lo, de fato. Na primeira tentativa as meninas começavam comendo e a cada atriz eu dei um mote para ser perseguido durante aquela tentativa. À Flávia, pedi que negasse com o corpo tudo o que a sua fala afirmava. Pedi à Fabíola que começasse a se expressar por sinais, usando as mãos. Pedi à Ada que sinalizasse tudo que precisasse ser identificado. E à Caroll, foi pedido que matasse pernilongos que sequer existiam. Depois de algumas improvisações, fechei uma marcação que as meninas estavam fazendo super tranquilas. Havíamos feito um pouco de raia, eu acho, e isso faz toda a diferença.

Para a segunda tentativa, solicitei o seguinte: a) que fosse encenada o roubo das botas; b) que estragon e vladimir terminassem a cena sem suas botas; c) que adassa jogasse o jogo ANAGRAMAR; d) que flávia investisse na pregação; e) que caroll investisse na literalidade. Não pedi nada à Fabíola. Talvez, hoje analisando, isso já fosse um sinal de esgotamento em relação à proposta. Mas seguimos, tentando.

Saímos do ensaio sem ter levantado a terceira tentativa. Eu estava muito hipoglicêmico. Foi esquisito. Porque as cenas foram se fechando e eram coisas realmente absurdas, mas que com uma quantidade específica de repetições, ganhavam outro sentido. Que medo. Pensei, podemos dar sentido a qualquer coisa. Mas não sei se qualquer coisa merece ter algum sentido.

O ensaio seguinte veio, de qualquer forma…

Ensaio #27

Teatro Gláucio Gill – 16/06/2010 – 13h/17h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa e Fabíola.

Esse ensaio também foi incrível. Na noite anterior, eu tinha estudado sobre Meyerhold para um trabalho da faculdade e num dado momento da leitura, encontrei escrito algo como a desarmonia entre os criadores, uma percepção de Meyerhold de que a tal obra de arte total do Wagner não poderia nunca existir. Mais que isso, era justamente o divergente que era rico. Na hora, ao ler, eu pude ver com clareza o segundo movimento que trabalhei neste ensaio. Ele começou com a desarmonia entre elas. Optei então por usar o jogo que construímos, a fala perdida. Usá-lo para revelar a multiplicidade de interlocutores e possibilidades. A primeira tentativa do segundo movimento virou uma leitura da cena que era um tiroteio, cada uma se dirigindo a outra que respondia a outra que era solicitada por outra impedindo que se estabelecesse algo mais concreto e duradouro. Foi legal.

Para a segunda tentativa, estava certo que precisava resgatar o ruído provocado pelo porco que quebrou num ensaio anterior. E foi isso que fizemos. Percebemos, ao improvisar várias vezes, que haveria uma cena para ser feita que foi interrompida pelo porco que se espatifara – acidentalmente – e atrapalhara toda a continuidade.

Estou escrevendo isso duas semanas depois e nada disso sobreviveu. Que loucura. Estamos tentando, ainda.

Ensaio #26

UFRJ – 14/06/2010 – 10h/17h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa e Fabíola.

Levantamos a primeira cena que depois jogaríamos fora. Foi divertido, era quase uma dança para seduzir Godot (ou o espectador). Usamos a abertura do terceiro ato de Lohengrin, do Wagner. Brincamos com os peitos, cabelos e mãos. A Fabíola disse algo sobre o Leonardo Samaritano (Samarino). Esforço para rememorar o Ensaio #24, que serviu de base para construção desse primeiro movimento. Investimos no fotograma das quatro sentadas em volta da mesa. A cada fala “é mesmo”, elas deveriam voltar à posição. Jogaram bambu, acertando, errando, tentando, se machucando. Ada disse num dado momento da improvisação da cena, “Estamos Godot”. E eu achei escrito aqui no caderno, “se arrumem na mesma linha”.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

sim, engraçado tudo isso, você fala e eu escuto
Fomos sim tragados por esse texto, por esses personagens, por toda nossa potência de vida porque decidimos estar juntos

Como se espera é que faz toda a diferença e decidimos esperar juntos, isso é muito isso é tudo

Tenho pensado sobre todo o nosso processo e me impressiono ao perceber o quanto um processo de trabalho me envolve por inteira, o embate em cima de um texto, o embate em cima da montagem de um espetáculo, provoca em mim um embate com a vida, com a minha vida e com tudo o que me cerca
Hoje posso dizer que respiro, como e durmo com Godot, e para além disso, minhas reflexões, minhas indagações, minha maneira de olhar o mundo agora é outra por causa desse embate com Godot, com Beckett, com Diogo, Carolê, Adassa e Fabíola
Escolher fazer um espetáculo tem haver com uma escolha de vida
Já não sei mesmo Diogo que parte de mim é Vladimir e que parte de Vladimir sou eu, não sei se estou defendendo o personagem ou se estou defendendo a atriz, que loucura!! Tudo misturado, e isso se deu porque você, porque eu e porque cada uma das nossas escolhas
O que tem me agradado muito nesse espetáculo é o seu caráter autoral
conversamos muito sobre esse espetáculo ter a nossa medida, ter o nosso tamanho e ele está sendo muito nosso, que bom isso, estou feliz
Sei que tenho causado muito problemas nesse processo mas acho que isso também faz parte, peço sinceras desculpas por qualquer desconforto, tenho aprendido muito com todo esse processo e agradeço cada riso, cada bronca, cada erro e cada acerto

Só tenho um pedido a fazer: espero que Godot chegue rsrsrs

domingo, 27 de junho de 2010

Falo............

Que engraçado, não? Na última postagem com este título, Falo..........., expliquei um pouco sobre o roteiro do espetáculo. 10 dias depois, nada dele sobreviveu ao atrito da sala de ensaio. Estamos tentando mais do que a dramaturgia, tentando mais do que apenas improvisar cenas, estamos também tentando fazer a peça, de verdade. A Flávia postou faz alguns dias que a coisa da metalinguagem acabou ganhando uma força tal. É verdade, fomos tragados por tudo aquilo que serviu de conceito ao espetáculo. Estamos sentindo na pele, mais do que antes, as questões sobre metalinguagem, sobre espera, sobre desejo, sobre boicote, limites, expansões e erros. Estou aqui na urgência para dar forma, para conseguir desenhar este esboço a tempo de junto às atrizes preenchê-lo de vida. E percebo agora como este movimento é o derradeiro, é o auge do nosso processo. Auge porque tudo agora é mais difícil, as escolhas são todas mais determinantes.

Lembro-me das palavras. Afirmamos aqui mesmo neste blog, lá nos inícios, que esta montagem de ESPERANDO GODOT era um estudo sobre o ERRO, sobre LIMITES, EXPANSÕES, BOICOTE e sobre o AGORA. Que loucura. Nos afastamos de tudo isso e fomos tragados de volta. Que especial. Que processo. Que coisa. Que isso! Nossos limites nos boicotam e agora precisamos expandir, ainda mais. Erramos e nos percebemos vivos, ainda em tentação, seres ainda incompletos. Estamos nos debatendo com algo que escrevi lá no projeto, estamos de frente para o caráter genuinamente complexo do ser humano, diante a complexidão de ser humano. Ponto.

Palavras, palavras… A coisa da bobeira, a coisa da comédia. Lembrei de novo da inflexibilidade citada por Bergson. Dela nasce o riso. Daquilo que não consegue, daquele corpo que não é ágil o suficiente para superar o tombo. E cai. É possível representar a inflexibilidade? É possível evocar o riso. O riso, creio hoje, sela o nosso encontro com a platéia. Sela o nosso encontro com Godot.

Não quero dizer mais nada. Estamos vivendo isso. Estamos isso: vivendo. Olha o que a arte vem e faz com a gente. Nos reunimos em torno de um objetivo comum e agora é ele que nos puxa e nos prende, impedindo a fuga. É que eu estou perplexo ao ver as peças todas, todos os pedaços, e ir vendo entre cada parte um sentido, uma sensação, algo tão vital. É bom. É mais do que isso. Porque ao mesmo tempo em que é o nosso teatro, a nossa tentativa de fazer a arte que escolhemos para nossa vida, é desde já a nossa vida se reinventando em sala de ensaio. O limite se confundiu. Não se sabe mais ao certo o que é de Vladimir ou o que é da Flávia. Os personagens foram se ajeitando, eles forem se sentindo quentes e aconchegados nos corpos das meninas. Estragon e Caroll são uma coisa só. Não estou falando que as interpretações estão perfeitas isso e aquilo. Isso realmente não importa. Estou dizendo que nesse jogo a gente se encontrou com as peças. Ada e Pozzo disputam nossa atenção. A Fabíola que disse antes de todas que não queria interpretar Lucky, é o nosso Lucky, mas aquele que está vivo nela, não uma receita, não algo pré-estabelecido.

As meninas são os meninos? Ou foram os tais meninos que nelas se encontraram? No final das contas, o que desde o início era uma confusão, agora se revela como fato, coisa assim sobre a qual não temos questões. Mas que nem por isso não precisam ser questionadas. Eu me sinto, neste momento, exatamente o Menino. O mensageiro que chega dizendo que Godot não virá. Sinto-me o estraga prazer que veio dar marca ao jogo entre Vladimir, Estragon, Pozzo e Lucky. Eu vim dizer a duração das falas, as intenções, eu vim dar o tempo, delimitar o espaço. Eu vim ser sem graça. Ficar mal por tudo isso. Vim ficar constrangido. Vim ser cínico e inoperante. Com cara de pau para dizer, depois de tudo isso, que Godot não virá.

Ora, por favor. Eu queria poder gritar, ELE NÃO VEIO PORQUE JÁ ESTÁ AQUI!!! Mas, de fato, nem sempre um ator consegue convencer a platéia. Nem sempre convence os outros atores que estão com ele em cena. Às vezes ele se boicota. Às vezes é um equívoco de primeira. Acho que isso me faz pensar se um erro precisa ser verdade para ser erro? Se um boicote precisa acontecer de fato para ser boicote…

Quem espera sempre alcança. Sem dúvida. O como se espera, é que faz toda a diferença.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

relatório das últimas atividades

. assisti as duas mini-DVs do ensaio de ontem (ensaio# 31);

. marquei as duas primeiras cenas do espetáculo no caderno;

. imprimi oito folhas, duas para cada atriz, com o texto separado por personagem. apenas o texto da SEGUNDA TENTATIVA;

. escrevi uma longa carta para cada atriz;

. estou escovando os dentes;

. vou dormir até 04h15;

. vou tomar insulina;

. vou sonhar com ESPERANDO GODOT;

. vou ter pesadelos com ESPERANDO GODOT;

. vou acordar ainda mais convicto de que quanto mais impossível, melhor.

 

resumo do dia: estou ainda – mais – perdido. e meu corpo começa a amar a perdição.

Lá vai!!!

Deus Deus Deus, ou seria Godot, Godot, Godot...o que será de você? O que será de nós?
Tanto a dizer, tanto a querer que nem sei.....
Começo: Por tudo que passamos, por tudo o que me envolveu durante todo esse processo de ensaio, por todas as maneiras de se viver que me atraem, eu fui dar nisso, na espera de Godot. Sim, estou sim esperando Godot, não sei quem é não sei o que é mas estou esperando, com convicção e ingenuidade. Convicta porque disseram que ele chegaria, ingênua porque acredito no que disseram. A parte de mim que espera por Godot é infantil e romântica e eu estou adorando conhecer essa parte.

Uma conversa na sala Vianinha da UFRJ no dia 21 de junho juntamente com a professora Lívia mudou o rumo das coisas, vimos que não era possível continuar com os ensaios da maneira como estávamos levando, era preciso parar, pensar, entender e finalmente constatar que a nossa montagem de Esperando Godot é tudo aquilo que somos e fomos. Ok. Entendi. Como agora me colocar dentro dessa nova configuração? Como me colocar no jogo sabendo que o espetáculo somos nós. NÓS COM TUDO O QUE SOMOS, COM TUDO O QUE FOMOS Então lá fui eu pensar no que somos, no que fomos e vi:
um diretor, quatro atrizes, a peça de Beckett, personagens, brincadeiras, cafonisses, desespero, alegria, tentativas, espetáculo, teatro, platéia, representação, metalinguagem, vida, vida e vida.

Estou doente.
descobri uma personagem-atriz-flávia-personagem-atriz que está me enlouquecendo... descobri um diretor-personagem-Diogo- diretor-personagem que está me provocando...
a metalinguagem surgiu de uma forma tão violenta que só me resta acatá-la e deixar rolar, não consigo parar....não consigo...e não porque não tenho controle dos meus impulsos, mas porque estou achando isso lindo, sim, estou mesmo achando lindo. De repente tudo fez sentido e parece que da forma mais bonita que poderia acontecer. O sentido que o espetáculo tem hoje pra mim, o sentido que fiz dele em mim, abarca tudo o que trabalhamos nesses três meses e meio de ensaio, envolve as coisas mais importantes e relevantes para nós que são: a metalinguagem e as brincadeiras de representação: esperamos por Godot...Godot demora a chegar, ok esperamos...enquanto esperamos o que faremos? Lemos, nos distraimos, brincamos, rimos, voltamos a nos lembrar que esperamos por Godot, esperamos, nos distraimos, brincamos, rimos....e assim por diante...é um ciclo, o ciclo da vida

E tudo isso entre a ficção e a realidade, entre o ingênuo e o malicioso, entre o puro e o depravado, entre a criança e o adulto, entre a atriz e a personagem...cada um leva a espera da forma que quiser e a nossa opção foi pela delícia e pela dor que só o encontro com a intensidade pode proporcionar. Existe a espera e o que é pior existe a consciência dessa espera, mas coexistindo com essa espera temos o inesperado, o acaso, temos alguma coisa “divina” que nos tira desse lugar árido e nos devolve à vida na sua forma mais pura, na sua forma mais divertida, trágica, inteira e necessária. Esperamos por Godot com dignidade ou melhor, com vontade, com força porque juntos somos fortes somos flecha e somos arco todos nós no mesmo barco não há nada pra temer!!

Acho que é isso..por enquanto...ufs!

domingo, 20 de junho de 2010

LISTA DE OBJETOS

serão estes e não mais que estes:

  • gato de pelúcia
  • caneta preta
  • peças de jogos de tabuleiro
  • câmera fotográfica
  • porco-cofre
  • maçãs
  • bananas
  • microfone
  • pedestal para microfone
  • caixa amplificadora
  • duas garrafas de água
  • corda
  • matriuskas
  • livros (quatro edições das atrizes de ESPERANDO GODOT, um dicionário e outros mais trazidos por Lucky para a sua palestra)
  • guarda-chuva
  • fósforos
  • tigela para guardar frutas
  • máscara de cachorro
  • toca de natação

os únicos objetos que não estarão pintandos de preto são os livros, pois serão usados como parte do cenário.

tentando TERCEIRO

ok. começam comendo. têm um trecho de texto para tentar. três vezes. mais vezes que antes. melhor ou pior? têm que tentar. elas têm que seguir. então começam apostando as fichas que foram esboçadas em sala de ensaio. esboçam tentativas que foram tentadas mas que agora precisam ser fechadas, precisam ter contorno mais preciso. precisam ser fodas, é verdade. elas querem que fique bonito. elas querem que funcione. elas querem fazer este godot chegar. e se ele não vier, temo que elas venham a se irritar. ok, então. comecem comendo. mas também se preocupem em nos dar algo mais dessa encenação que vocês querem tanto que cheguem. façam a árvore. façam da forma que conseguirem. mas nos deixe entender que deveria ter uma árvore ali. e depois, façam os personagens. as personagens. tanto faz, mas pelo menos comecem a esboçar na nossa frente algum personagem. vocês são atrizes e deveriam fazer isso, não? caramba. brinquem de atuar. façam a árvore, improvisem algo que as ajude a contar o destino dessa história. sobre as botas. falem sobre as botas. encenem essa história. entendam tal história ao fazê-la. é isso. a árvore. vladimir e estragon, didi e gogô. depois, lucky e pozzo já estão se esboçando também. a relação entre as duplas. árvore. botas. personagens. dêem conta destas coisas impossíveis. como começar? pelo mais difícil.

- TERCEIRO MOVIMENTO DE ESPERANDO GODOT -

“O Primeiro Impossível É O Mais Difícil”.

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tentando SEGUNDO

então sentaremos à mesa. é mesmo. começaremos de fato pela mesa. sentadas ao redor elas farão uma leitura do segundo movimento. uma leitura que já não funciona. pois o texto foi sorteado entre as atrizes. não faz sentido. dificulta criar qualquer possibilidade de conflito e/ou qualquer outra coisa mais duradoura. elas têm palavras que não lhes significam nada. terão, então, que lhes dar corpo. dar sentido? começam tentando e terminam brigando. de fato. criando um clima. opa. isso é algo no qual podemos apostar. elas precisam ver isso. quando menos se espera do vazio de propostas alguma coisa pode vingar. é sério. rolou um clima que pode se estender. que pode servir de corpo para o que o texto de beckett está dizendo. o corpo aberto pela tensão entre elas tem condição de ser beckett. tem condição de receber um pedaço deste esperando godot que quer chegar. é inevitável. o erro vem e ao contrário do que se possa imaginar, as une ainda mais. pelo erro, pela surpresa voltaremos à mesa para começar o que virá depois. voltaremos à mesa para de novo e outra vez tentar. apenas. sem culpa. sem mais clima. tentamos como quem deseja. tentar porque estamos desde então em tentação.

- SEGUNDO MOVIMENTO DE ESPERANDO GODOT -

“Queria Ver Se Estivesse No Meu Lugar”.

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tentando PRIMEIRO

a nossa chegada virá pedindo desculpas. eu já escrevi isso aqui. mas não custa repetir. chegaremos apostando numa proposta que não vai vingar. GODOT não vem, mesmo que se tente seduzí-lo. ele não cede. perceberemos, num dado momento, que não estamos esperando esse tal Godot, esse cara Godot, esse o qual tentamos seduzir logo de cara com mulheres no salto e lindas e com tudo em cima. não. esse daí não virá mesmo. perceberemos que depois que as quatro chegarem, antes de abrirem a boca, será preciso dar a primeira pausa. a primeira pausa vem para que Godot chegue, para que ele aporte, aterrise, abre a porta. esperaremos alguns segundos, talvez um minuto inteiro, e será nesse primeiro silêncio, que – já sabemos - ele não virá. assim, de fato, partiremos para outras tentativas. e é nesse jogo da tentação que descobriremos outro Godot mais interessante do que aquele primeiro. sim, é preciso esperar com dignidade. mas esperar o quê, exatamente? esperar quem? nesse percurso da tentativa em jogo descobriremos que não estamos esperando o tal Godot. e uma delas dirá, sem dúvida, em um dado momento, que estamos esperando esperando godot. e então as coisas começarão a se encontrar. porque haverá um encontro potente, possível, ali entre nós e a platéia. há um corpo – nós – querendo encontrar o outro – a encenação de esperando godot. tentaremos, de fato, para conseguir e perder. para fazer sentido e não. para talvez conseguir dizer alguma coisa que se possa deixar gravada em você, que nos assiste.

- PRIMEIRO MOVIMENTO DE ESPERANDO GODOT -

“Nossas Desculpas”.

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sábado, 19 de junho de 2010

WAIT YOUR TURN

It's just the way the game is played
It's best if you just wait your turn
The wait is over
The wait is over
The wait is over
The wait is over
The wait is over
The wait is over
The wait is over
The wait is over
I pitch with a grenade
Swing away if you're feeling brave
There's so much power in my name
If you pop off in your seat
Steady
I'm gonna do the wave
I'm such a such a lady
You don't have to be so afraid
Cause I got room Up on my team
You can play but hold up
It's just the way
The game is played
It's best if you just
Wait your turn
It's getting crowded
Over here
But babe
The wait is over

Sometimes it takes

A thousand tries


To win
The wait is over
Fumble
Don't you fumble
That's a flag on the play
Babe if you don't wanna
Then you don't have to wait
But together
We gon' be taking over
It's just the way
The game is played
It's best if you just
Wait your turn
So you don't wanna wait

I hate to hear

That's such a shame

Cause if you playing side ways

And no diamond in my ears


Then you already underway
I know you want to win
And you wish
I would let you in
Get in line over here
You can play
But hold up
It's just the way
The game is played
It's best if you just
Wait your turn
It's getting crowded
Over here
But babe
The wait is over
Sometimes it takes
A thousand tries to win
The wait is over
Fumble
Don't you fumble
That's a flag on the play
Babe if you don't wanna
Then you don't have to wait
But together
We gon' be taking over
It's just the way
The game is played
It's best if you just
Wait your turn
Baby put the work in
Like a champion
But the crowd is screaming
With their hands way up
Couldn't be with no one else
You're the only way
I win
Baby got the whole world
Standing up
Damn I'm glad I picked ya
Took a chance on love
Baby love
The time is now
And now
The wait is over
The wait is over
The wait is over
The wait is over
The wait is over
(just wait your turn)
The wait is over
The wait is over
The wait is over
The wait is over
(just wait your turn)
It's getting crowded
Over here
But babe the wait is over
Sometimes it takes
a thousand tries to win
The wait is over
Fumble
Don't you fumble
That's a flag on the play
Babe if you don't wanna
Then you don?t have to wait
But together
We gon' be taking over
It's just the way
The game is played
It's best if you just
Wait your turn
Just wait your turn
The wait is over
The wait is over
The wait is over
The wait is over

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O que é pior? Não decorar o texto ou faltar o ensaio?

anagrama primeiro movimento

Esperamos Godot
com calma
é verdade
todas ao mesmo tempo
somos inesgotáveis
não estamos mortas
não mesmo
enquanto esperamos vamos falar
do que?
da vida
de folhas
de areia
de asas
de qualquer coisa
somos inesgotáveis

anagrama segundo movimento

Nada a fazer.
Partido pra sempre...
é mesmo...
agora nada mais do que um montinho de ossos.
Se estivesse no meu lugar o que diria?
uma porcaria.
Mesmo?
Não é engraçado?
não sei.
há coisas que você não percebe
você acha?
senti sua falta
eu também
estou contente
mesmo?
Porque?
Godot

Anagrama segundo movimento

Chega aqui, me toque, a noite passou, agora estamos contentes.
Não é engraçado: Tirando você e esta porcaria, ninguém diria que estou sozinho sem sombra. Ajude, sinto ossos, pior, percebo que vamos esperar Godot pra sempre.

Anagrama primeiro movimento

Toda as mortas falam ao mesmo tempo. Precisam falar para não pensar na vida que viveram. Todas cochicham consigo própria para não ouvir nossas razões. Ao mesmo tempo murmuram nossas desculpas inesgotáveis. Estou tentando ficar calma enquanto estamos esperando qualquer verdade. Conversar, não é o bastante, melhor ouvir e calados fazer alguma coisa.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Anagrama do Segundo Movimento

Vendo porcaria contente.
Ossos, nada...
Você!Partido e reparado.
Engraçado.
E então... ninguém?
Eu não! Mesmo.

Chega, ajude a fazer um montinho logo ali.
Há coisas que o Senhor já deve ter reparado, eu também.
Mesmo que não seja verdade a noite volta.

Me pergunte. Eu conto.
Estou sozinho, me toque.

Não é demais esperar ninguém?

Anagrama do Primeiro Movimento

Estou tentando conversar com calma.
Para não falar qualquer coisa diga que estamos Esperando Godot.
Não foi pensar bastante, não.
Estamos tentando.
Consigo!

Todas as folhas mortas, um rumor de verdade.
Falam de areia, de asas e precisam de razões.
Viveram desculpas inesgotáveis, melhor terem vivido calados.
Vamos ouvir.

SEGUNDO movimento

Um montinho de ossos logo ali deve tirar um tempo de porcaria, sem sombra de dúvida.

Você não percebe
mas me sinto melhor quando estou aqui.

Fique comigo, estamos sempre na dúvida!

Porque sozinho ninguém é contente.
Nada a fazer sozinho.

Você já deve ter reparado que
agora que estamos contentes
vamos fazer coisas que você não percebe que seja verdade.


[erros de concordância salvos pela proposta de utilização somente do texto beckettiano]

PRIMEIRO movimento

É mesmo.

Falam todas ao mesmo tempo,
e falam do que é verdade,
da vida que viveram,
de folhas,
de areia,
de vozes mortas,
de asas.

O que vamos fazer agora:
para não pensar,
para não ouvir,
estamos esperando Godot
com todas as nossas razões e nossas desculpas.

Murmuram qualquer coisa,
precisam falar cada uma consigo própria
para ouvir melhor Godot.

Somos inesgotáveis enquanto esperamos.

Lista de Dispositivos – 01

  1. algodão cru
  2. corda
  3. bolsa de mão
  4. pente de cabelo
  5. relógio circular de parede
  6. caixas de fósforo
  7. mini dicionário da língua portuguesa
  8. fitas K7
  9. microfone
  10. charuto cubano
  11. toca de natação
  12. dados
  13. controle remoto
  14. pilhas
  15. cenoura
  16. beringela
  17. matriuska
  18. fios
  19. cofre de porco
  20. cofre de sapo
  21. gato de pelúcia
  22. máscaras (cachorro, porco, luta livre, …)
  23. cigarros
  24. celular
  25. extensão com lâmpada
  26. camisinha
  27. equipamento de massagem
  28. meia-calça
  29. canetinhas
  30. papel
  31. livros
  32. máquina fotográfica
  33. lixa de unha
  34. peças do jogo WAR
  35. cartolina
  36. luminária portátil
  37. teclado de computador
  38. balas comestíveis
  39. rádio portátil
  40. gaita
  41. refletor
  42. tripé para refletor
  43. bola de basquete
  44. esparadrapo
  45. garrafas plásticas de água
  46. gravata
  47. camisa social masculina
  48. botas
  49. salto alto
  50. barra de cereal
  51. tangerina
  52. vestidos
  53. bíblia para crianças
  54. cola plástica

Espaço Semi-Vazio

grid vianinha esperando godot - palco

terça-feira, 15 de junho de 2010

PRIMEIRO MOVIMENTO

palavras do texto deste movimento:

É mesmo.
Enquanto esperamos, todas ao mesmo tempo.
Temos nossas desculpas.
falar. Para não ouvir.
Para não ouvir. qualquer coisa!
esperando Godot.
ao mesmo tempo.
todas ao mesmo tempo. tentando. Godot.
desculpas.

este primeiro movimento é um pedido de desculpas. pelo o que virá. é mentira. a gente se desculpa antes para já se boicotar e tornar válido tudo aquilo que virá a seguir. começamos brincando. aliás, começamos fazendo aquilo que nos faz divertir. nem rir ousamos mais. só o público é quem o pode. só o público.

WAGNER entra com a ABERTURA DO TERCEIRO ATO DE LOHENGRIN. Elas estão sentadas à mesa. Fabíola, Caroll, Flávia e Adassa. Levantam-se nessa ordem. Disputam Peitos. Cabelos. Mãos. São mulheres esperando Godot. São mulheres esperando. São mulheres. Sentam-se. É mesmo. E no subtexto, pedem desculpas.

Acho que a tendência é firmar uma base e depois, ANAGRAMAR. Numa mistura de anagrama e amor. Anagramamos Esperando Godot.

Falo...........

Depois do vigésimo quinto ensaio, fizemos uma pausa que durou 10 dias. Só nos reencontraríamos de novo na segunda-feira 14 de junho. Uma longa pausa. Aparentemente equivocada, já que há tanto a se fazer. Já que é preciso agora levantar essa peça, como costumamos dizer. Mas não. Foi pausa necessária. Os ensaios em que improvisamos sobre o texto. Em que cortamos ainda mais o texto. Tais ensaios foram muito produtivos. Até o ensaio #25 estávamos acumulando material, levantando possibilidades. Depois deste, começaríamos inevitavelmente a selecionar e fixar aquilo que nos parece importante de ser fixado. Durante esse tempo anterior à pausa, no entanto, tivemos que lidar com angústias e sensação de estar num jogo errado e pervertido. Como assim não fixar nada? Por que esta encenação não foi até agora esboçada? A resposta está nela mesma. Está naquilo que ela é: tentação. Ato de tentar. Ato constante de pôr em tentativa. De buscar. Nosso ESPERANDO GODOT não quer estar pronto. Ele precisa respirar.

Mas – e sempre um “mas” haverá – já é hora. Fechei nesta pausa de dez dias o roteiro do espetáculo. Uma ordem, uma sequência, um fio a seguir. Um esboço mesmo, porque agora o esforço é o de dar cor ao que foi riscado. Dar apuro aos rabiscos e forma ao que esteve este tempo todo meio solto meio indo e sumindo voltando e nos perguntando: e ai, galera, o que vocês vão fazer comigo? O que vocês farão com esta ideia maravilhosa perdida no saco de ideias milhares que foram encontradas e perdidas e tentadas e perdidas e rebobinadas. E agora, Josés?

Aleautoria. Sentei-me numa tarde e fechei o roteiro. Ele é composto por oito movimentos. Mas não são aqueles que estavam no texto que serviu de base para a improvisação. Estão em outra ordem. Uns se repetem. Outros não. Uns se repetem duas, três, até quatro vezes. São oito movimentos. Seriam oito tentativas? Não. As tentativas multiplicam-se dentro de um movimento apenas. E cada movimento comporta mais tentativas do que se possa sugerir.

E este roteiro, o que é?

Nele há algumas escolhas bem intencionais, bem racionalizadas. Os movimentos que escolhi foram: PRIMEIRO, QUARTO, QUINTO e OITAVO. Ou seja, escolhi a abertura do espetáculo, o seu meio e o fim. Na abertura escolhi o material que nos apresenta a situação desta encenação. As quatro atrizes se referindo a elas mesmas afirmam estar ali esperando Godot. No quarto e quinto, mantive a sequência de acontecimentos que começa com a entrade de Pozzo e Lucky e termina com o monólogo de Lucky. Enquanto para encerrar a peça, escolhi o aparecimento do Menino, trazendo a notícia de que GODOT não virá. No entanto, feitas essas escolhas, ainda restavam quatro movimentos a serem preenchidos. Então, fiz um sorteio: tinha SEGUNDO, TERCEIRO, SEXTO e SÉTIMO movimentos. E material improvisado a partir dos antigos movimentos: PRIMEIRO, QUARTO, SEGUNDO e QUINTO. Escrevi tais movimentos em pedaços de papel e joguei-os sobre a mesa. E me disse, não sem muito tremer, o SEGUNDO MOVIMENTO de ESPERANDO GODOT partirá do que foi improvisado a partir do… E assim a configuração abaixo se firmou.

PRIMEIRO MOVIMENTO – a partir do antigo TERCEIRO MOVIMENTO,
que improvisamos no ensaio #24 – este novo movimento será tentato apenas uma vez;

SEGUNDO MOVIMENTO – a partir do antigo PRIMEIRO MOVIMENTO,
que improvisamos no ensaio #24 – este novo movimento será tentado duas vezes seguidas;

TERCEIRO MOVIMENTO – a partir do antigo QUARTO MOVIMENTO,
que improvisamos no ensaio #25 – este movimento será tentado três vezes seguidas;

QUARTO MOVIMENTO – a partir do antigo SEXTO MOVIMENTO,
que improvisamos nos ensaios  #18, #19 e #20 – este movimento será tentado apenas uma vez;

QUINTO MOVIMENTO – a partir do antigo SÉTIMO MOVIMENTO,
que improvisamos nos ensaios #22 e #23 - este movimento será tentado apenas uma vez;

SEXTO MOVIMENTO – a partir do antigo SEGUNDO MOVIMENTO,
que improvisamos no ensaio #21 - este movimento será tentado quatro vezes;

SÉTIMO MOVIMENTO – a partir do antigo QUINTO MOVIMENTO,
que improvisamos nos ensaios #14, #15 e #17 - este movimento será tentado três vezes;

OITAVO MOVIMENTO – a partir do antigo OITAVO MOVIMENTO,
que improvisamos no ensaio #16 – este movimento será tentado duas vezes;

O que fiz, depois disso, foi definir uma quantidade específica de repetições. Segui uma ordem crescente que descresce ao chegar no número máximo de quatro tentativas. Assim, tenho 1, 2, 3, 1, 1, 4, 3, 2 repetições. As repetições únicas no meio do espetáculo dizem respeito às cenas com Pozzo e Lucky, que são o registro mais interpretativo desta encenação. Nestes movimentos o material dramatúrgico quase que nos exige sua representação, sua interpretação no registro TEATRO, diferindo dos outros movimentos, que funcionam com mais facilidade sob o registro META. Em outras palavras, nos movimentos QUATRO e CINCO, há distribuição de personagens, cada atriz faz um dos quatro (Vladimir, Estragon, Pozzo e Lucky). Nos outros movimentos, porém, as falas dos personagens são dadas para as atrizes. São elas que falam…

terceiroquarto movimento - roteiro

Bom. Escolhas são feitas assim. Agora é seguir. Já construímos no ensaio #26 o primeiro movimento e especulamos possibilidades para o segundo, que trabalharemos no ensaio de amanhã (# 27). O esforço agora é acompanhar as coisas se ajustando e modificando a cada ensaio. Montar uma cena não quer dizer que se torna impossível tocar nela outra vez. É apenas um lugar dentro do qual precisa se encontrar vida. Um cercado, um limite, marcas que precisam respirar.

primeiro movimento - roteiro 

A partir de agora o verbo não é mais angústia. Qual será?

Ensaio #25

Unirio – 03/06/2010 – 10h/15h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa e Fabíola.

Raia. Leitura do quarto movimento. Jogar com o ridículo. Improvisação. Caixa Arquivo cheia daquilo que foi GODOT um dia, dos que já chegaram. Conversamos um pouco sobre os OBJETOS. Fabíola disse que os objetos estão vazios, sem significados. Caroll acredita que se gastando nos objetos é possível encontrar certa profundidade. Ada diz se sentir confortável com os objetos, apesar de reconhecer que eles não servem para nada. Flávia, por sua vez, sugere que é preciso pegar o objeto sem valorizá-lo, num ato de profanação.

Profanar ou ritualizar? Depois de “gastarem” os objetos, elas se apegam. Voltei ao comentário do Deleuze, sobre rachar as palavras, rachar as coisas. Por isso também pensei em destituir dos objetos sua camada de pessoalidade, sua possível identidade e memória impregnadas, sugeri que os objetos fossem todos pintados de preto ou algo assim, para que fiquem apenas na função de objeto, sem mais características ou detalhamento. Ainda estamos investigando isso.

Mais uma vez investigamos a raia entrecortada. Explorando relação kinestética e relação espacial.

Lucky tem o passo mais pesado:
3:1 na fala (não corremos mais o risco de pensar X posso estar enganado);

MOMENTO DO RIDÍCULO (escolher um objeto e conseguir fazer graça com ele, usando uma fala do texto) foram feitas inúmeras coisas, uma mais maravilhosa do que a outra. foi apenas um momento para antecipar o trabalho de improvisação;

IMPROVISAÇÃO (quarto movimento)

começam comendo (isso traz uma qualidade muito diferente para a cena. intensifica a tentativa);
e se ficássemos calados por um instante (quando voltam, trazem alguma proposta… o silêncio não é em vão);
lucky estático pensando;
flávia desenha a árvore com canetinha num papel;
ada fala e sinaliza a tudo aquilo que precisa ser identificado (árvore – sinaliza o papel; brejão – bate os pés no chão);
ada e flávia mimetizam o roubo das botas;
fabíola espontânea com “ué”;
flávia sai do texto para incriminar caroll/
ada “não é isso!”;
fabíola “ih, gente, é o catulo”;
3:1 – 3 destroem o catulo (“ah, catulo!”);
”começar de qualquer lugar”;
ocupam lugares diferentes;
caroll passa cola na pele, as outras parecem não ver, e ela começa a envelhecer e tirar as cascas da pele;
ada pega um tamborzinho e faz dele a árvore “isso!”;
caroll contra a parede chora “a mesma conversa há cinquenta anos”;
vladimir com dicionário dando ordens;
vladimir lê a bíblia para crianças;
ada super começa a anagramar e constrói novas frases e novos sentidos;
”godot é o jardineiro e a árvore somos nós”;
flávia lê “catulo” no dicionário;
ada implica “não! não! não!”;
caroll mata pernilongos que não existem;
ada ao anagramar “de fato nós tentamos hoje à tarde”;
o “brejão”, é o nome que elas dão ao sapo-cofre;
brigam com o catulo (“pq vc as deixou por ai? NÃO SÃO MINHAS! ah, catulo!”);
ada entrevista catulo no microfone;
lucky traduz a entrevista com sinais;
do microfone começa uma pregação “devíamos ter mergulhado profundamente na natureza!”;
ada e fabíola forçam satisfação com: TEVE… (e falam palavras do texto… TEVE A BOTA…);
gogô e didi lêem a b~iblia e brigam por ela;
enquanto dois brigam pela bíblia as outras duas cansam do jogo do TEVE;
ada pergunta “tentamos?” e flávia nega com a cebça dizendo “de fato”;
começam a implicar com GODOT que não veio (“ele devia estar aqui!" “pq estamos esperando GODOT? ele devia estar aqui!”);
elas incriminam GODOT (ele devia estar aqui, ele levou as suas botas, ele devia ter mergulhado profundamente na natureza;
começam a dança indígena “ELE DEVIA ESTAR AQUI!”;
flávia acende um cigarro e caminha com o cinzeiro na mão;
ada pondera a ela, “o primeiro passo é o mais difícil”;
com a toca da natação “devíamos ter mergulhado profundamente na natureza”;
estragon nada no chão com a toca;

começamos um IMPROVISO livre, no qual elas poderiam acessar qualquer texto de qualquer movimento:

caroll segura um papel no qual escreveu PDD;
lucky lança dados;
fabíola “não me toque”;
fabíola agarra no funk “ele não chegou”;
momento SENHORES (as quatro fumando, sem acender os cigarros, caracterizadas com máscaras (cachorro, lutador, …);
qual é o nosso papel? suplicantes, mendigos, bandidos, mágicos;
pozzo faz desenho e escreve dedicatória para estragon;
ada pergunta “tudo bem?” fabíola responde “tudo bem” caroll pondera “para você não para ele”;
flávia grita, “só podemos falar as falas do texto, tudo bem?”, fabíola diz “não estamos amarrados, estamos?”;
caroll sai com o microfone “eu fiquei mudo”.

Ensaio #24

Sala Vianinha – 31/05/2010 – 13h/16h30.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa, Fabíola e Rafael.

Primeiro e Terceiro Movimentos em Improvisação.

Máscaras diversas, baralho;
Cachorro jogando baralho e digitando;
Ada digita o texto que lê;
As três outras entram falando;
Clima entre elas (mas que não fica claro o que é exatamente);
Flávia com a máscara de porco (“Queria ver se você tivesse no meu lugar!”;
”Diga qualquer coisa!” e vem alguém e diz “O que vamos fazer agora?” e a pessoa seguinte instaura outro clima, ao responder: “Estamos Esperando Godot”;

Caroll acende fósforos atrás das cabeças das atrizes, me sugere a faísca de seus raciocínios, que logo se apaga;
Caroll com máscara do cachorro ofegante, lendo Beckett;
Resolvem tirar tudo de cena (incluindo o cenário);
Ada tenta acender o fósforo no refletor;
Caroll perfura a cena lendo verbetes aleatórios no dicionário (HIPOCRISIA, DESTEMPERO...);

Achei neste ensaio que o terceiro movimento poderia abrir o espetáculo.

As atrizes observam o público e anunciam desde o início “Estamos Esperando Godot”;
As quatro sentadas olhando para a frente;
Rindo, cabelo, postura;
Ada pergunta ao público “E falam do quê?”;
”Desculpas” – é o momento em que se desculpam por estarem fazendo esta encenação!;
Caroll faz voz de rádio;
Começam a se auto-referir;
Acho que Caroll pode usar o rádio para falar da nossa peça. “Quatro atrizes encenam ESPERANDO GODOT numa montagem em moldes clássicos, na qual foram impedidas de saírem do texto original, sendo obrigadas a dizer exatamente o que o dramaturgo irlandês, Samuel Beckett, escreveu em 1948/49”;

As meninas começam a chorar;
Flávia chama todas e consegue junto a elas validar uma espécie de momento poesia, quando dão o texto do terceiro movimento ouvindo cada fala e sugerindo novos versos – cumplicidade;
Ada surge como comentadora e afirma “Falam todas ao mesmo tempo”.

facabiola 

IMPROVISAÇÃO MISTURANDO OS MOVIMENTOS 1, 3 e 6.

“Estou sem fogo”. Muitos fósforos;
Flávia fala “Você! Pozzo” e as atrizes começam a se fazer de Pozzo, debochando de Pozzo, naturalmente;
Pozzo chora (roubaram-lhe as botas);

MOMENTO PIRRAÇA (clique aqui para ver o vídeo)
As atrizes começam a chorar e a gritar, implorando por GODOT! Ao término, aplaudem-se.

fafa

Dispositivos: teclado, fósforos, rádio, livros, máscaras, pasta, folhas, dicionário, baralho, gaita, refletor…

Ensaio #23

Sala Paraíso (Teatro Carlos Gomes) – 30/05/2010 – 11h/14h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa, Fabíola, Léo, Clarissa Campello, Flávio Bassan e Vanessa Gonçalves.

Ensaio no qual estiveram presentes os assistentes de cenografia e indumentária. Foi um ensaio incrível. Começamos com RAIAS CRUZADAS. Flávia manifestou que alguns dispositivos estavam ausentes, faltavam coisas e sobretudo as botas. Caroll afirmou estar encontrando via movimento algum lugar ou sentido. Começamos a improvisar o sétimo movimento, surgiram coisas ótimas:

caroll usa a gaita;
gogô e didi jogam peteca;
fabíola parece já estar ensaiando o monólogo antes de começá-lo;
ada corre pela sala com uma asa feita de penas brancas;

Sugiro que comecem as improvisações sempre com uma atriz já na sala e outras três chegando no espaço:

entram batendo palmas;
o corpo de estragon o boicota (ou é o de caroll que estava doendo?);
lucky arranca uma pena da asa de estragon e o faz chorar;
pozzo faz dicotônico com o monólogo de lucky;
estragon depois da palestra de lucky o abraça;
estragon recebe autógrafo de lucky na camisa;
lucky junta todos os papéis jogados ao chão;
vladimir nerd, com livros, papéis;
lucky – pela linguagem dos sinais – cativa a atenção de didi e gogô;

Dispositivos: papéis, livros, garrafas de água, canetas, cofre de porco;

Acançamos para as improvisações do Primeiro Movimento:

Numa das improvisações a Ada acaba quebrando o porquinho que a Flávia levara como dispositivo, para os ensaios. Toda a improvisação foi completamente transtornada por esse fato. Ada só usava as falas que realmente pudessem servir naquele contexto, só conseguia dizer aquelas que fossem para pedir desculpas. Fabíola puxa “Chega. Me ajude aqui a tirar essa porcaria”, se referindo aos cacos do cofre-porco recém-destruído. Fabíola sobra para dizer o “Esperar Godot” e acaba bocejando antes, dando uma leitura completamente nova e reveladora;

A Fabíola resolve o singular presente em uma de suas falas ao repetir a mesma fala três vezes, direcionando uma para cada atriz. “O que teria sido de você?” “O que teria sido de você?” “O que teria sido de você?”. Excelente. Arrota o Estragon.

monólogo de lucky !

Ensaio #22

Sala Paraíso (Teatro Carlos Gomes) – 28/05/2010 – 13h/17h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa e Fabíola.

Não ensaiamos na quarta dia 26/05. Começamos na raia. Durante a raia, sempre que se configurava uma relação 3:1, a atriz que sobrasse em 1 deveria dar um relato sobre a experiência da raia, para que servia, etc. Solicitei também que me sinalizassem quando ocorresse a chegada de GODOT, ou seja, quando algum encontro muito desejado ocorresse. Mas nenhuma delas sinalizou nada. Talvez porque o tal encontro não tenha acontecido.

Improvisação sobre o sétimo movimento, aquele no qual Lucky resolve abrir a boca. Sobre a mesa, alguns dispositivos: teclado, balas…

Caroll lê “Sétimo Movimento”;
Caroll com joelheiras e botas;
Fabíola olha para mim toda vez que as meninas erram;
Fabíola digita seu monólogo;
Estragon anota;
Corrigem com o texto na mão;
As três desistem de Lucky por um dado momento;
Segunda tentativa de Fabíola sobre o monólogo é mais “louca”, mais descompensada;
As outras três mimetizam. (Vladimir, Estragon e Pozzo – como se suas falas tivessem sido roubadas);
Lucky lê seu monólogo em vários ritmos musicais (afetando a mimesis das outras três);

Dispositivos: lixa de unha, garrafa;

Didi e Gohgô destroem tudo após o monólogo;
Pozzo se assusta “Quem são vocês?”;
Flávia diz “Ele é cego” e junto com Caroll começam a zombar do cego (Ada);

PALESTRA

Lucky dará sua palestra;
Todos tentam anotar coisas;
Projetor de slides?
As três vão se distraindo em ações paralelas (mas que dialogam com o texto de Lucky);
Ada atende o telefone e fala para o público;
Caroll digitando;
Flávia descreditando Lucky;

LUCKY SE EXPRESSA PELA LINGUAGEM DOS SINAIS DOS SURDOS E MUDOS;

Caroll e Fabíola ficam um longo tempo se cumprimentando, balançando as mãos presas;
Pós-palestra: Vladi e Estra enlouquecem numa coreografia.

carada - flabíola

Ensaio #21

Sala Vianinha – 24/05/2010 – 13h/17h.
Diogo, Carolline, Flávia, Adassa e Fabíola.

Viewpoints, jogos, texto, trabalho sobre o segundo movimento. Improvisação. Durante a raia, ficou muito claro como o cruzamento de raias individuais gerava situações interessantes. Situações cênicas. Usei a trilha de Ensaio. Hamlet para sugerir lugares distintos. Amo essa trilha. Começaram a explorar algumas solicitações que havia feito. 1) FLÁVIA deveria investigar um gesto expressivo para significar a nossa encenação de ESPERANDO GODOT; 2) ADASSA deveria partir do mesmo mote, porém usando os braços e as mãos; 3) FABÍOLA do mesmo mote deveria utilizar-se de deslocamentos e; 4) CAROLLINE deveria usar a dança.

Improvisação.

Caroll usa fio dental;
Três da mesa e Ada vestindo o figurino;
Flávia persiste num gesto enquanto a cena continua “sem ela”;
Ada lendo o texto;
Caroll liga o rádio e Flávia dança a partitura;
Sapato vira telefone;
Ada volta a dublar as falas;
Fabíola fotografa o espectador;
Quatro ações paralelas que se encaixam e que se abandonam;
Ada tenta interpretar o “PFUH” e começa a engasgar;
A história dos dois ladrões com dados;
Narradora, Cristo, Ladrão 1, Ladrão 2;
Evangelista 1, Evangelista 2, Evangelista 3, Evangelista 4;

Solicitei que fizessem a improvisação da cena quatro vezes seguidas. E que a cada vez, a compreensão fosse ficando mais distante e impossível. Ou seja, que investissem numa ordem decrescente de compreensão.

3:1 – evangelistas na raia;
viram ladrões de repente;
como evocar a incompreensão sem cagar tudo?
caroll faz som com a garrafa;
fabíola olha para mim (porque as quatro improvisações tinham acabado) e as outras seguem o jogo;
fabíola chora.

Chamei três alunos da UFRJ que estavam pelo correder e perguntei se eles topavam assistir a uma improvisação. Eles entraram na sala, apenas três rapazes e elas realizaram a improvisação de novo:

cada uma tenta defender a sua maneira de contar a história;
caroll como deus usa a fala “Estou ouvindo”;
ada olha para onde que não para a platéia?

Não há quarta aprede justamente para que possa haver tentativa. Na verdade. Não me convenci ainda. Seguir.

carollada.fablavia.

domingo, 13 de junho de 2010

elas querem GODOT.

isso ai aconteceu num desses ensaios. depois de muito tentar, de muitas repetições, eis que algo acontece.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

um primeiro esboço

Agora o principal está feito. Detenho algumas evidencias de que não posso me separar. O que sei, o que está certo, o que não posso negar, o que não posso rejeitar, eis o que vale. Posso negar tudo nessa parte de mim que vive de nostalgias incertas, menos esse desejo de unidade, essa fome de resolver, essa exigência de clareza e coesão. Posso contrariar tudo nesse mundo que me envolve, me choca ou me transporta, menos esse caos, esse rei acaso e essa divina equivalência que nasce da anarquia. Não sei se esse mundo tem um sentido que o ultrapasse. Mas sei que não conheço esse sentido e que, por ora, me é impossível conhecê-lo. Que significa, para mim, significado fora da minha condição? Só tenho como compreender em termos humanos. O que toco, o que me resiste, eis o que compreendo. E essas duas certezas, meu apetite de absoluto e de unidade, e a irredutibilidade desse mundo a um princípio racional e razoável, sei também que não posso conciliá-las. Que outra verdade posso reconhecer sem mentir, sem fazer intervir uma esperança que não tenho e que nada significa nos limites da minha condição?

CAMUS, Albert. Em O Mito de Sísifo.

cabe antes de tudo dizer que os desenhos a seguir foram feitos sobre a planta da sala vianinha, onde acontecerão as apresentações. o que fiz foi desenhar uma composição de estruturas que estão povoando a minha cabeça e que me servem de imediato para a encenação. no entanto, todas elas precisam ser discutidas e problematizadas. adoraria descobrir o que sobra de tudo isso. o que sobra mesmo. aquilo que é essencial.

portanto, cenógrafos, destruam, por favor.

esboço.

palco italiano. frontalidade. profundidade. isso eu sabia desde o início. mas continuo – como desde o início – sem saber explicar muito bem o porquê. whatever. mentira. eu sei o porquê. não está óbvio? acho que a disposição teatral mais característica da noção de teatro que podemos evocar. estamos falando de teatro. o espaço me parece o mesmo. é esse. a questão é: como encontrar mobilidade dentro dessa estrutura?

esboço legenda. 

descrevi rapidamente o que é cada coisa dessa. algumas óbvias, outras mais ainda. não há necessidade de preencher o espaço. mas é legal pensar a tal “maquinaria” via composição, via acúmulo dessas partes evocando sempre novas configurações, novos cenários, novas disposições. acho legal também observar que o número quatro se repete muitas vezes. e que o jogo das atrizes 3:1 (3 coisas num registro e 1 coisa noutro registro diferente) pode ser extendido à cenografia.

e ainda haverão os objetos. falamos disso ao vivo. e a iluminação… tudo isso falamos já já.

queridos da equipe de cenografia, é um convite à guerra! vamos nos desautorizar. eu vou amar.

bjos,,
diogo

Iana disse...

Olás!
Sou de São Paulo, gostaria de saber como deveria proceder para conseguir assistir à peça! :)
Obrigada!

Iana, se você quiser nos visitar aqui no Rio, eu prometo que eu guardo uma senha para você assistir o nosso espetáculo. Ao mesmo tempo, ia ser lindo irmos para São Paulo. Mas uma coisa de cada vez. Bom.

Este Esperando Godot estreia aqui no Rio de Janeiro, no dia 20 de julho às 20h, na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. E se apresenta no dia seguinte também, dia 21 de julho também às 20h.

A entrada é franca. E por enquanto – apenas por enquanto – é só isso que temos previsto.

um trecho de NÃO DOIS para iluminar nosso outro princípio

ELA Não quer um copo de água? Não tem sede?

Você está cansado. Paramos aqui ou continuamos?

É que um trabalho tão intenso deveria às vezes levar em conta a fadiga física.

Mais um pouco de água? Quanto faz que você não come?

Talvez fosse bom recomeçar, mas tomando em conta o trabalho já realizado.

Não é o caso de atirar tudo pela janela.

Às vezes é tão fácil esquecer cada um dos detalhes, cada uma das intensidades, por isso acho que cada momento que repetimos se transforma numa verdadeira descoberta.

Temos que procurar recordar cada detalhe dos acontecimentos com a mesma intensidade original, você não acha?

Primeiro transformamos experiências vividas em conceitos e com os conceitos nos afastamos das intensidades.

O problema dos conceitos é o esquecimento das intensidades, o esquecimento da experiência da vida, você não acha?

Falamos de palavras que aludem a outras palavras, temos que voltar para as intensidades,

Voltar a recordar tudo segundo a segundo com nossos corpos

que não se esqueça de nada, nada de nada,

ELE Me falta ar

ELA Quanto de falta, um litro, dois litros, você sempre foi muito preciso, por que não há de sê-lo agora?

Temos que reconstruir cada detalhe, cada instante,

senão se esquece tudo

ELE Pára que eu me sufoco, poderia te bater me falta ar

ELA Agora é o momento.

Talvez possamos reconstruir

as palavras nos servem para esquecer, muitas vezes tentamos falar para esquecer.

Cada frase que dizíamos sepultava cada acontecimento.

Tentávamos esquecer o que tinha crescido entre nós

é disso que se trata

de reconstruir tudo

Por acaso se pode falar de tudo isso?

Se pode falar da morte, da dor sem evocá-las com a proximidade dos nossos corpos, ou simplesmente evocamos tudo isso para esquecer os horrores e para transformar o horror em palavras que já não significam nada

Te sufoco, te faço mal? Passa o ar? A traquéia ainda resiste?

Quantos sufocados?

Agora sim, estamos juntos, quantos com a cabeça no barro? Sem poder respirar

Corpos nus, mutilados, agora sim estamos juntos. Agora sim, agora sim.

Podemos recordar juntos, você não acha?

 

___ trecho do texto paso de dos de eduardo pavlovsky. será esse o nosso movimento agora. o da memória. trazer tudo de novo. pelos corpos. que não se esqueça nada. nada de nada.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Nem o título disso eu sei.

Entrei aqui toda animada pra postar trechos de um texto sobre Van Gogh. Na hora da leitura, até já faz um tempo, estive completamente entusiasmada com o que lia - cheguei até a substituir "Van Gogh" ou "a pintura" por Godot algumas vezes, muito orgulhosa das minhas descobertas da semelhança entre ele e o nosso Godotzinho.

Mas não consigo transcrever! Não consigo nem pegar o texto pra reler. É tudo tão lindo, tão interessante, tão ótimo... que não dá.

Sabem, a gente se encontra no domingo pra começar o processo de levantamento da nossa peça. E agora me ocorre que não dá pra gente ter mais material... Tô com medo de colocar mais coisas de fora. O que eu sinto agora é que a gente precisa mergulhar no que é nosso, no que a gente construiu não só desde o nosso primeiro encontro, mas durante nossas vidas. As nossas substâncias. Do que fomos feitos. Acho que vou chegar no ensaio de domingo estando lá mais que nunca. Me levando, e só!

Ou não.
Ou talvez eu poste daqui a pouquinho o texto do Van Gogh; vcs não sabem como é uma delícia...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O que se deseja propor aqui

"...é o início de um novo trabalho de análise do teatro de Samuel Beckett. É uma proposta de trabalho apenas iniciada. Parece fundamental constuí-la a partir da discussão a respeito dos conceitos de tempo e cogito e de suas inter-relações- exatamente o uso do tempo para tratar da dissolução do sujeito. Envoltas por um tempo que não é cumulativo, mas antes, fragmentário, repetitivo, as personagens de Beckett são incapazes de erigir idéias claras e precisas. São racionalidades distantes da dúvida metódica, afundadas na dúvida empírica, incapazes de toda a certeza. Não são mentes finitas inspiradas por uma idéia inata, anterior, de infinito, de perfeição, que garante a possibilidade do saber. Assim, só sabem duvidar."

trecho do artigo de Tânia Brandão Esperando Godeau: Beckett e a inversão do classicismo.

domingo, 6 de junho de 2010

Domingo, 06/06/ 2010

Ainda estou intrigada com essa montagem. Bem intrigada. O que mais me intriga ou o que ainda me intriga é o fato de sermos mulheres interpretando homens. Ainda não encontramos esse lugar. Nas improvisações me pego surpresa porque alguma das meninas me chamou de senhor, ou olhou pra mim e disse ele. O que isso significa? isso significa alguma coisa eu tenho certeza. Outra certeza que tenho é que não podemos simplesmente fingir que somos homens, podemos até fingir mas precisamos incluir a platéia nesse movimento, precisamos de cumplicidade. A platéia deve fingir que acredita no que somos assim como fingimos acreditar que somos. Precisamos então encontrar esse espaço de comunhão.

Uma possibilidade que podemos explorar é a de montar o personagem na frente de platéia, como tentei fazer no último ensaio. Peguei alguns cigarros e fui colocando na boca das meninas chamando elas de senhores. Alguma coisa ali se deu pra mim. Estávamos evocando o masculino, o teatro e a representação. Evocar. Evocar.

Outra brincadeira de representar e montar um personagem muito legal se deu quando cada uma de nós começou a dizer o nome de um personagem fazendo a pose desse personagem, em seguida começamos a ser não só personagens como coisas: areia, folha, árvore....muito legal!

Adassa dizendo somos mágicos e fazendo mágica em cima do cubo (sapo pequeno, sapo grande).

Fabíola e seu: tá Catulo!

Carolê e sua placa: PdD

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Preciso dizer..

..que apezar de tudo...estamos esperando Godot!

amo vocês.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Ensaio de segunda

No ensaio de segunda feira, o começo foi muito dificil, nada acontecia, foi mais uma vez angustiante, porem, depois de um bom tempo insistindo, acho que talvez tenhamos esboçado o inicio desta peça!!!
Flavia chamando as outra tres, para escrever poesia
Carole iluminando nossos pensamentos com fosforo
As quatro se arrumando para esperar Godot
Choro desesperado querendo que Godot apareça