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domingo, 11 de julho de 2010

Falo.............

Estamos a nove dias da estreia. Que loucura, gente! O tempo passa de verdade. E não adianta, por mais que se diga que haverá outra estreia, noutro teatro, noutro mês, etc e tal: a nossa estreia acontece agora, no dia 20 de julho de 2010, às 20h. E ainda há tanto a ser feito, naturalmente, que eu nem me assusto. Os maiores desafios serão os dessa semana, quando em meio a algumas criações – que ainda não foram efetuadas de forma prática – ainda temos que nos preocupar em trabalhar bastante o que já foi levantado, para ganhar mais e mais. Somos inesgotáveis, de fato, mas o cansaço entra em jogo.

Prefiro que Lucky dance logo. Preciso que o menino também chegue. Preciso fechar textos, trilha, iluminação. Para não falar em cenário e figurino, que estão chegando e completando a peça. As coisas nesse movimento de surgir, aterrisar, acabam nos dando um pouco mais sobre esse mistério que a peça parece destinada a ser. Eu gosto. Não que eu soubesse, mas é que as coisas assim se cumprimentando e selando o encontro acabam por gerar algo tão novo, melhor, algo genuíno. Ver os conceitos lá do início agora com vontade acontecendo, é muito lindo ver a obra surgindo, ela se erguendo e se alimentando enquanto nós dormimos, enquanto nós simplesmente andamos.

Na última noite foi uma gritaria sem fim. Eu tentei deitar para dormir, estava mesmo muito cansado, mas tinha combinado comigo que precisava – antes de dormir – estudar alguns pontos específicos de ESPERANDO GODOT. A peça sumariamente contra o meu sono antecipado e me fez ficar horas entre a vida e o sonho, tendo num e no outro vislumbres daquilo que ficou mais claro quando eu acordei. Neste tempo, meio dormindo acordado, ouvi a fala que entrou hoje no ensaio: Vamos embora. Não podemos. Por quê? Estamos esperando o menino.

Coisas que só um sonho pode explicar. E então fizemos esta encenação para brindar aos nossos sonhos. Ela é a mistura do que pode e do que já foi proibido. É a mistura de formas claras e escuros imensos, riscos persistentes e presenças envoltas em sumiço. Ela é engraçada e sinceramente ruim. Ela é o que nós temos de melhor. Mas, sobretudo, é o nosso melhor ruim. O sonho é este lugar, onde tudo e nada se amam, quando tempo e espaço flertam e brigam, se aproximam e se escondem.

É tremor, é mudez, é falar até a boca secar. É um convite que fazemos a você, um convite para esperarmos juntos por qualquer coisa que possa servir de motivo para estarmos ali, próximos, respirando um mesmo ar, ouvindo as mesmas vozes, evocando memórias e criando um repertório juntos. A nossa arte não tem propósito mais sério do que este, o de ser pretexto para encontrar.

Somos motivo, ponte, estrada, condução… Mas paramos no meio de caminho sem você. Recebam-nos. E o depois, no depois a gente vê.