Composição da Carollê.
Carollê entra, senta, olha pra gente, sorrisinho sem-graça.
Algumas palavras pra dentro, meio disfarçando.
Mexe no tênis.
Tira, acha mais confortável sem; logo coloca de novo.
Amarra, aperta. Desamarra, aperta, amarra. Refaz. Repete. Desiste.
Sorri, fala mais um pouquinho.
Recomeça.
A Carollê na composição.
Na minha impressão, o exercício é o da tentativa de achar um bom lugar. Conforto/desconforto do olhar do outro sobre si, do julgamento alheio e do próprio. Uso do objeto, o que pode ser transmitido a ele na falta de outro canal de escapamento? Lembro muito do nosso último papo, na fala da angústia, que a pŕopria Carollê comentou tão bem. Algo indizível, que tenta sair por alguma beirola, tenta ser refletido em algum lugar... e esse lugar pra mim, naquele momento, foi o seu sapato. A válvula de escape.
A vontade da correção, tentativa, melhorar, mudar; o esforço, a circulariedade da ação - o texto em Godot não circula? Achei que Carollê exemplificou de uma forma bem bacana aqui.
A espera do resultado. O olhar. A impressão. Repete. Cansa. Repete. Repete. Repetição é tudo a ver com hábito, propriedade, intimidade, esgotamento para extração do que presta... Criar né.