OBJETIVA
Para começar a atriz, recolocou a cadeira no espaço de modo a destacá-la da cortina com nó.
Ela falou que a composição ainda não havia começado enquanto conferia algumas anotações em um caderno.
Por cima da cadeira estava um casaco de gola role cor vinho ou roxo. Não sei.
Adassa colocou o caderninho no chão e se aproximou do público fazendo gracinhas com cada um de nós.
Depois disso, ela pegou o caderno novamente e sentou na cadeira.
Colocou e tirou a blusa duas vezes até que na terceira deixou-se vestir- com a gola totalmente esticada. Vestiu-se e também vestiu a cadeira.
A atriz então fingiu ter alguns ataques psicofísicos provindos de impulsos estanques enquanto ao mesmo tempo empurrava a cadeira para trás com os pés.
Ela promoveu uma quebra nesta construção interpretando que estava tudo normal como se nada tivesse acontecido até ali.
Levantou-se da cadeira, conferiu o caderno e disse que tinha terminado.
Uma atriz faz contato. De onde ela está, sem que eu precise me levantar, me abraça com seu olhar. Chama e abraça a todos de modos diferentes. Quando eu levanto para abraçar de novo (achando que tinha errado na primeira vez) com todo o corpo, me aproximo com a atração deste olhar e faço questão de levantar um vôo do chão até os braços dela.
Gosto da forma delicada com que Adassa escreve seu percurso no campo cênico. Ela faz.
Ela brinca e faz. Ela é delicada. Já falei que a acho delicada?
O casaco é amigo dela, ela tem intimidade com ele. Ela sente a dor e agonia, e é plácida. Ela sente? Ou indica que poderia sentir não fosse ela uma atriz fazendo cena?
O casaco dela quis vestir a cadeira. Olha! Ela está sufocada, ela está no limite. Ela conseguiu alguma coisa. O corpo dela salta, mas o casaco prendeu seu corpo na cadeira. A cadeira vibra no chão. Ela resolve tudo, porque afinal de contas é só parar, se levantar, sair da cadeira.
É só teatro gente.
No limite neutro entre a molecagem e a seriedade.
Ela delicada.