Eu gastei uns segundos pensando nessa coisa de fazer GODOT chegar. Faz tempo que eu compreendi que tal idéia não seria resolvida com a chegada – personificada – de um ator dizendo ser GODOT. Não é isso. A chegada de GODOT diz respeito a imediatez nossa em relação aos desejos nossos. Nós os contemplamos com extrema agilidade. Por isso, a cada GODOT esperado, chega-se ao mesmo muito rápido. Mas como dar forma a esta intuição? Como fazer GODOT chegar sem que deixemos de esperar por ele (ou ela, ou isto, ou aquilo…)?
De imediato, me parece que um estado de saciedade constante é forte, característico dessas chegadas dos GODOTS esperados. Uma felicidade, uma paz, menos tragédia, menos inevitabilidade, mais leveza… Tudo assim bem óbvio. Como se desenhar uma encenação deste GODOT que deseja chegar pudesse se traduzir num bem-estar, em situações menos esvaziadas e angustiantes (!) do que as do texto original.
Depois, porém, eu percebo que fazer GODOT chegar não importa. Porque tão rápido ele aterrisa em nosso estômago tão mais rápido nos lançamos em busca de outro GODOT. Assim, quero desenhar uma encenação que prove por ela aquilo que o texto nega. UMA ENCENAÇÃO QUE ASSEGURE CHEGADAS QUE O TEXTO TEIMA EM REVELAR INOPERANTES, IMPOSSÍVEIS DE SEREM SACIADAS. E assim, voltar a Beckett ao nos fazer perceber que o nosso caminho é mesmo o do meio do caminho. É o do meio cheio meio vazio, meio feliz meio triste.
Ser humano é ser ao meio.