Sala Vianinha – Escola de Comunicação (ECO/UFRJ) – 29/03/2010 – 13h às 16h30
Diogo, Adassa, Flávia e Fabíola
Como o elenco não esteve completo neste primeiro encontro, nos focamos em discussões proporcionadas pela leitura do projeto. Atentamos para alguns pontos como a noção da espera. O que se espera, como se espera… Muito falamos sobre a noção de espera agora. Deste tempo pelo qual lidamos com a espera hoje. Reconhecemos a espera – aquela apresentada no texto de Beckett – mas notamos como utilizamos ferramentas distintas para lidar com a mesma. Falamos de tapear, de camuflar uma espera com alguma outra coisa, qualquer. Falamos dessa vida virtualizada. Orkut, facebook… Falamos sobre teatro. Sobre como criar uma obra – esta montagem – e sobre quais esperas ela inaugura em nós. Descobrimos que, diferentemente de Godot, o público inevitavelmente vai chegar até nós. Ou nós que chegaremos até ele. Falamos das personagens. Dos vagabundos. Apesar de concordarmos que eles poderiam ser toda e qualquer coisa. Que o espaço da rubrica de Beckett poderia ser todo e qualquer espaço. Falamos do processo pelo qual o texto afasta os personagens de uma possível identificação. Afinal, são vagabundos. Isso nos chamou para o fato de querermos aproximar e não afastar. Isso nos trouxe para a realidade do ser ator, do ser atriz, artista. O nosso movimento é explícito. A nossa angústia, se realmente vier a existir durante o processo, será esta. Caso não, lidaremos com o tudo aquilo pelo qual fomos acometidos. Falamos do que esperamos em relação ao projeto. Desejamos que fosse este projeto do nosso tamanho. E eu desejei que conseguíssemos crescer e diminuir, na vontade de manipular o conteúdo. Falamos sobre a importância de ser humano. Digo, da importância de ser complexo, naturalmente complexo. Feliz e infeliz. Ser a unidade dos rótulos. Ser humano. Falamos sobre ensaios, sobre horários. Falamos sobre desejo, saciedade, busca, sobre gestalt. Profanação. Muito falamos sobre que ideia é essa de fazer Godot chegar. Ainda não está claro, eu sei. Mas vamos conquistar isso. Dei o exemplo do pote de Nutella que irrompe a cena é devorado digerido e nos faz refém mais outra vez de um desejo seguinte, em gestação. É preciso exemplificar. A gente come o Godot mal ele chega até nós. E depois, logo depois, manifestamos uma fome outra por outro Godot que nos possa saciar. Um primeiro encontro. Para o próximo, começaremos a partir dos textos de Deleuze (O Ato de Criação) e Bogart (Terror, Desorientação e Dificuldade). Cada atriz levou para casa uma pergunta. Quer dizer, cada uma achou que levou para casa uma pergunta. Quando na verdade todas levaram a mesma pergunta.
Nossa montagem de ESPERANDO GODOT é um estudo sobre o quê?
Como jogar com verdade e mentira? Aliás, o que é verdade e o que é mentira? Como jogar a verdade como mentira? Como mentir a verdade? Como criar movimento sem mover o vento? Como falar sem fazer barulho? Quantos minutos cabem num silêncio? Quantas pausas num barulho? Podemos ser aquilo que queremos? Na quarta haverá um segundo ensaio e a partir de semana que vem, a coisa desanda. Quer dizer, anda. Falamos da péssima acústica da Sala Vianinha. E do Gláucio Gill. Falamos no sentimento de absurdidade de Camus. E em Freud. Porque ficamos alguns minutos falando de morte. De Caio Fernando Abreu ao dizer que tudo o que se completa é porque deseja morrer. Estaríamos esperando a morte? Aqueles presos que assistiram a apresentação de Godot numa penitenciária? As coisas estão se multiplicando dentro da minha cabeça. Imagino que dentro das nossas. É como disse a Adassa, falar nisso tudo vai alimentando um bichinho dentro de mim que parece querer sair pelos meus olhos… Pois que seja. Vamos alimentar os bichos. Até que criem asas. E saiam despedaçando a nossa carcaça. Está faltando alguma coisa, atrizes? Digam aí… Foi uma overdose esse encontro de hoje. Que assim seja.