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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Falo.

  
2010 chegou. E para mim, no caso, trouxe junto Godot. Sim, ele chegou. O meu desejo se concretiza agora, segundo a segundo. É eterno desejo do encontro. É seguro. Não tenho medo de não esperar porque cada espera é já em si uma chegada. Ainda que torta.

Se Godot chegar ele vai estragar alguma coisa? Ele vai estragar a noção de espera? Olha, não acho que seja possível... Porque esperar é ação contínua de quem age. De quem vive. De quem é matéria solta ao tempo. Esperar é destino. Nascemos esperando, acho que já escrevi isso aqui. Esperamos a morte. Esperamos o amor. Esperamos qualquer coisa. Nisso também tem Godot, Daniel, Eleonora, Renato, Ana Raquel... Qualquer um, gente. Qualquer coisa vale. Esperar é assegurar em si a consciência do tempo presente. Só que nesse percurso, saciamos também as necessidades. Que se multiplicam e que de novo nos invadem. Para termos que esperar novamente...

Eu preciso divagar. Ficar aqui especulando aquilo que ainda não chegou, só porque chegou mas acabou de escapar. O sentido, o segundo, o amor. Tudo isso se esvái no tempo de um sorriso. Tudo se esvái e se esvaindo, esperamos o retorno. O eterno retorno de algo que sequer talvez tenha partido, porque está conosco, desde o princípio.

Especulares.

Quero falar de desejo, de fome, de busca, encontro, saciedade. Quero falar de desejo, de sede fome, de vontade, de busca inexorável, de consumo, apetite, voracidade. Falar de quem somos, desse desejo que desperta novo e renovado a cada dia. Dessa fome escrita na constância da passagem noite-dia. Falar de como tudo de novo em nós se recria e procria e pede de novo mais um gole, mais um pedaço, mais uma pontinha.

Espera concretizada não para bastar, mas para ser ampliada. Renovada.

Espera colocada concreta, para dar ao homem o direito seu de lidar com aquilo para o qual ele não tem palavras.

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Dois textos. Um feito de palavras. Um feito de ações. Texto fala texto ação. O texto de Beckett e o texto da Encenação. Textos distintos que por tanto se baterem, geram em seus próprios corpos a renovação. Um sentido outro para o mesmo. Nova forma, novo conteúdo. Velha forma, velho tudo. Um novo velho. Um velho novo. Da crise do choque do embate se gera, então, o sumo da insegurança. O sumo do futuro. A boa aventurança.

Estou viajando. Sem freio, sem dar importância. Por enquanto...