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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

"Samuel Beckett Escritor Plural"

      
de Célia Berrettini. Editora Perspectiva. 2004. São Paulo.
(alguns trechos selecionados por Leonardo Samarino)

BECKETT, escritor plural

"...Já os textos-quadros do fim de sua trajetória literária ( e de vida) se caracterizam pela escritura apertada, de acentuado tom depressivo, podendo-se falar, grosso modo, de vários Becketts: um, desesperado, mas que procura temperar seu desespero ou angústia, com o riso, como que a negar, minimizar ou camuflar a violência dos horrores que descreve; outro, melancólico, obcecado com o minimalismo, a depuração e que explora os limites do nada; outro, ainda que, como em Rumo ao Pior, teoriza e pratica a abstração literária." (P.4)

"...Esperando Godot de 1948 - peça nova, de ruptura, colocando o público diante de situações dramática insólidas e sua linguagem surpreendente, pois enquanto esperam Godot que não vem, suas personagens, tais palhaços com suas falas acompanhadas de números de circo ou de music hall, bem como o cenário, tudo fala da miséria do homem, do absurdo da condição humana, das dificuldades do homem moderno, desamparado num mundo hostil, adverso, sem sentido. "Tragédia farsesca" ou "Farsa Trágica" ou "Farsa metafísica", na opinião de muitos autores, é Godot, sem dúvida, um marco na história do teatro" (P.5)

"...A década de 60 é das mais produtivas e ricas da criação beckettiana e a diversidade é a sua marca.  A busca incessante de novas formas de expressão, marcando bem a ruptura com o realismo e as formas convencionais, é o traço dominante de Beckett..." (P.11)

"...E é ainda Martin Esslin quem testemunha esse empenho redutor, recordando um encontro, muito antigo, com Beckett, em que este, semi-sorridente, confessara a intenção de alcançar cada vez mais a concisão, a precisão, de maneira que chegaria talvez o dia em que só viesse a produzir "enfim, uma página branca". E, realmente é patente o seu trabalho de redução, numa espécie de aniquilamento ou exaustão. Há uma redução progressiva de seus textos - de início, longos e depois mais e mais breves -, assim como o números de suas personagens e de seu aspecto físico, entre outras, seja no teatro, seja nos textos em prosa". (P.13)

"... Solidão, sofrimento, fracasso, angústia, absurdo da condição humana e morte - são os temas maiores beckettianos, com os quais se associam outros mais.... O homem só ( qualquer homem)  com dificuldade de comunicação, sofredor, num universo hostil, que só pode despertar sua angústia, diante da incapacidade de encontrar um sentido e uma explicação ao absurdo da existência". (P.14)

"Sem família, sem vínculos com a sociedade, sem nome, seus seres solitários procuram vencer o isolamento em que vivem, apegando-se à palavra: falam todo o tempo, para preencherem o vazio da existência, tentando vencer a solidão". (P.14)

"...Às vezes, trata-se de mero contato passageiro: retorna, em seguida, à solidão, como se as palavras estivessem gastas, ultrapassadas, e, portanto, insuficientes para a quebra de barreiras". (P.15)

"... O homem para quem apenas resta uma existência desprovida de sentido e de esperança. Ausência de valores nos quais apoiar-se: ausência de absoluto. Resultado: o mais agudo pessimismo. Reflexo do homem do séc XX, aniquilado pelos anos de guerra e pela ciência nova que destruíram a fé em sistemas racionais, filosóficos ou políticos. Total ausência de fé, de esperança". (P.19)

"... Esperando Godot, que vem sendo considerado a grande farsa metafícica. Nela, o trágico e o derrisório se unem para pintar o absurdo da condição humana". (P.19)

"Vertigens do vazio. Do nada. De pausas da não-existência- é o tempo morto da espera de Godot, que não virá. É como se, nas pausas, estivesse Beckett fazendo ouvir a respiração silenciosa da morte, que se aproxima cada vez mais, encurralando-os". (P.26)

"Não há outras questões , senão a morte, reafirma Beckett. E ele a trata de forma ímpar - é a inimitável captação da incaptável beleza da morte". (P.27)