No ônibus, terminei de ler o segundo ato. Cada ato tem cerca de 100 páginas na edição que tenho. São atos inconstantes. Coisas boas e coisas tão fracas. Isso facilitará um primeiro corte. Apesar de ficar muito claro que o jogo se repete. O jogo do primeiro inaugura. O jogo do segundo assegura. Eu não paro de pensar na inversão. Começar pelo segundo ato é começar lá na frente, no futuro ou no presente? Começar no primeiro é começar no passado ou no presente? Já que o tempo está assim sem crédito, em confusão, a idéia de que tudo está acontecendo sempre da mesma forma é muito grande. Pozzo fica cego. Lucky fica mudo. Privações de um ato para o outro. Não seriam eles como são? Um cego e outro mudo? O que os cala, o que os blinda a visão? Não sabem talvez como continuar no jogo, por isso inventam os artifícios? Didi e Gogo. Ainda presos um ao outro. Que mistério é o que se cruza entre os dois? Que estranho espaço teram inventado que, às vezes, malgrado suas vontades, não conseguem deixar de se falar? O menino que chega e já é previsto. Não há nada novo. Nunca houve. Por vezes pensamos que possa haver, mas não há. O que fazer?
um filme de Michael Lindsay-Hogg