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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Corpo Miranda

Meu corpo é um arco que ora se dobra ao sul do meu umbigo, ora se curva ao norte da minha cabeça. Em ambas posições meu corpo excede em torções, desequilíbrios, desajustes e inflamações. Na curva ao nascente ele se agita evocando a prece, na dobra ao poente ele se contrai evocando a morte. Assim é meu mundo no encontro com Miranda, mundo interior vazado e ardente. E até que com esse dentro eu ando me entendendo, mas é que a fissura está no mundo que se agita fora de mim. Não sei, estou aprendendo alguma coisa, não mesmo, estou é apreendendo alguma coisa, darei nome a essa força combustiva que me transforma a cada experiência, darei nome ao que não se pode dizer somente porque a tudo o que nomeio o seu contrário me faz sentido. Aí está: Estamos fazendo Miranda, é cíclica a nossa trajetória assim como a nossa lida com o tempo, as repetições exageram essa curva que se dobra nela mesma. Estamos caminhando em círculos tal qual os personagens de Godot. Infelizes de nós que não conseguimos fazer dessa batida outra música, felizes de nós que juntamos vozes e somamos a essa história uma outra melodia. Então eu falo da angústia que é cravar as unhas nessa parcela imutável que nos constitui e percebo nesse instante que mesmo não conseguindo controlar os engasgos de sempre e as torções constantes, mesmo que meu corpo volte ao mesmo ponto de onde partiu e eu não consiga quebrar o aro desse círculo, percebo que é possível cavar buracos. O movimento topológico dessa pele se dá no seu interior e não na sua superfície. Não caminhamos deslizando os pés no asfalto, caminhamos afundando nossos pés na lama. Não cabe em Miranda movimentos horizontais pois esses já existiam antes dela, o que em Miranda se abre de novo são furos no chão que não se esparramam, concentram; não se estilhaçam, perfuram.