Miranda… Miranda, eu peço desculpas. Não tive tempo de te avisar. Não pude mandar sequer um e-mail. Foi uma sequência ininterrupta de acontecimentos que não se esperaram, foram todos engolindo tudo e agindo ao mesmo tempo. Desculpe-me, por não ter falado, não ter ligado, por não ter pedido a sua opinião. Por não ter dito e agora, Miranda?
A festa acabou. E não foi por falta de tentativa. Elas tentaram. Muito. Sim, foram mico papagaio hamster e até planta. Fizeram de um tudo, como se costuma dizer. Mas ele não veio. Ele não chegou. Ele não existe, Miranda. Godot está morto. Peço desculpas. Não consigo mais não ser direto, é isso, acabou. Ele se foi para nunca mais voltar. Ele que nunca voltou agora se foi de fato. Não pode ser sequer solidão. Foi-se para nunca mais chegar.
Mas, (pausa longa) nós continuamos. Nós, Miranda, continuamos com você. Inevitável. Por ti, sabemos que existe alguém de fato. Por ti, Miranda, vale continuar, vale o valor do ingresso, vale a busca porque - sabemos - há chegada. Você é certeza é coisa concreta é pergunta que não cessa é escuta e mar, que sabe ir tanto quanto voltar. Você, Miranda, é espaço vazio. Folha novinha. Página para os nossos desastres. Ah, eu não vejo a hora de te ver! Eu não estou comendo direito, pouco durmo, pouco sei, mas estou vivo, talvez como nunca estive. Eu não vejo a hora. Não vejo nada. Dentro algo vai consumindo a energia e é preciso ser forte, pois fica pesado de repente. De repente, tudo parece bobeira. De repente, estamos fadados à morte. Ainda que por vezes, sejamos só certeza.
Que difícil está tudo isso. Queria te mostrar isso. Queria te mostrar a falta de tempo. Queria te mostrar o cansaço, a febre, a dor, a zona do quarto, a zona do peito, a zona nos olhos, perdidos, parecendo margem de um rio silencioso e apaixonado. Miranda! Miranda! O que tenho para você é seu e está guardado.
E que o nosso encontro chegue logo. Até lá, vamo-nos-se-flertanto. Eu, tu, elas, e o mundo.
Do ainda seu,
Diogo Liberano