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segunda-feira, 19 de março de 2012

Somos esgotáveis

O esgotado é um dos últimos escritos de Deleuze, que interpreta o pensamento de Beckett a partir do conceito de esgotamento – a necessidade de esgotar o possível.
Como esgotar, então, as possibilidades?
Para definir, o esgotamento, Deleuze começa distinguindo-o do cansaço. "O esgotado é muito mais que o cansado. O cansado não dispõe mais de qualquer possibilidade (subjetiva) - não pode, portanto, realizar a mínima possibilidade (objetiva). Mas esta permanece, porque nunca se realiza todo o possível; ele é até mesmo criado à medida que é realizado. O cansado apenas esgotou a realização, enquanto o esgotado esgota todo o possível. O cansado não pode mais realizar, mas o esgotado não pode mais possibilitar. Não há mais possível: um espinosismo obstinado. Ele esgotaria o possível porque está esgotado ou estaria esgotado porque esgotou o possível? Ele se esgota ao esgotar o possível, e inversamente. Esgota o que não se realiza no possível. Ele acaba com o possível, para além de todo cansaço, para novamente acabar.(DELEUZE, 2010: p.67).
Mas apenas o esgotado pode esgotar o possível, pois renunciou a toda necessidade, preferência, finalidade ou significação. Apenas o esgotado é bastante desinteressado, bastante escrupuloso.” (DELEUZE, 2010: p.71).

Para Deleuze, há quatro modos de esgotar o possível: formar séries exaustivas de coisas, estancar os fluxos de voz; extenuar as potencialidades do espaço e dissipar a potência da imagem.

Bibliografia: DELEUZE, Gilles. Sobre o teatro. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 2010.