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sexta-feira, 4 de maio de 2012
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Espaço e tempo da ação \ Personagens
Espaço e Tempo da Ação
AQUI E AGORA
Personagens
QUATRO ATRIZES E UM DIRETOR TEATRAL
HELENA Quer ser sincera mas não consegue. Sofre a beleza das amigas e tem por elas inveja de cor marrom. No íntimo deseja ser homem. No comportamento já o é. Curte artes marciais e teme brigas. Não tem graça alguma pois nunca conheceu a felicidade. Sente fome mas não sabe o nome que nomeia a sua vontade. Desentende o significado das palavras “inércia” e “silêncio”.
LIBERANO Concentra em si as piores qualidades de um homem: arrogância e violência. As piores de uma mulher: cinismo e sedução. E as piores de um cachorro: morde e mija em cima. Sente-se onipotente, onipresente e omnisciente. Consegue transformar tudo em verdade, especialmente mentiras. Sofre de uma doença que o consome, mas é ignorante de tal fato, como de outros.
MARTINS Quer aparecer mais do que qualquer outra pessoa no mundo. Emociona-se com facilidade e se usa de tal fragilidade para conseguir aquilo que deseja. Submete-se com facilidade ao que lhe é imposto na esperança de parecer bondosa e dedicada. Dissimula sua real opinião das coisas até o limite máximo da insuportabilidade. Costuma quebrar aquilo que não lhe pertence.
NAVES Quer mandar naquilo que não lhe compete. É altamente invejosa, apesar de esconder suas reais intenções em prestatividade e doçura. Não consegue tolerar a opinião alheia sem que antes imponha a sua própria. Adepta da pirraça e de escândalos, quer ganhar falando mais alto. Gosta de humilhar aqueles que, porventura, estão em posição submissa a sua.
VELLO Quer fazer parte do grupo mas não consegue. Seu corpo depõe contra a delicadeza que arduamente tenta transparecer frente as amigas. Curte linguagens híbridas e, portanto, facilmente se distancia para acariciar o próprio umbigo. Sente prazer e se masturba em lugares públicos. Gosta de se fazer vítima de grandes brigas, bem como de puxar cabelos que não os seus.
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Dramaturgia do acontecimento
Reflexões Imediatamente Posteriores ao Ensaio de 02 de Maio de 2012
Tentarei colocar em palavras um pouco deste movimento atual de escrever VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA. Como se sabe, em junho teremos uma nova temporada de MIRANDA no Rio de Janeiro. Será a nossa terceira temporada, sendo que as duas anteriores aconteceram, respectivamente, em setembro e dezembro de 2010.
Desde dezembro de 2010 não apresentamos o espetáculo. E ao decidirmos voltar com MIRANDA neste ano, percebemos que precisaríamos rever MIRANDA, entender novamente se a fagulha inaugural que nos arrepiava ainda era capaz de nos seduzir. E é. Mas não vou falar disso. Vou tentar discorrer sobre a consistência, sobre a constituição das ações em MIRANDA. Sobre a dramaturgia, por assim dizer.
A dramaturgia deste espetáculo é cênica. Majoritariamente cênica. Ela depende do corpo das atrizes. De suas vozes (várias em cada uma) e dos estados, dos calores, ou seja, não é dramaturgia que possa ser lida. Qualquer tentativa nesse sentido - a saber, o de palavras postas num papel - é pouco. É insuficiente. Nada novo, talvez. É assim com as encenações teatrais, eles sempre se materializam para além de palavras. Acontece que a dramaturgia textual de MIRANDA deveria conseguir domar o acontecimento, o arrepio, a instabilidade.
Sendo assim, como escrever o tremor? Como escrever terror, dificuldade e desorientação (para citar Bogart)? Como ser escrita-liquidificador?
Não se escreve. Não tem como. Assim, no ensaio de hoje, entreguei ao elenco e a mim mesmo a primeira cena, a nossa primeira tentativa, intitulada ESTAMOS ENTERRANDO GODOT. Nesta cena - ou tentativa - tentei escrever uma espécie de dramaturgia-roteiro, pela qual as atrizes possam passar seus corpos e atravessar o sentido ali em palavras concentrado.
Quero dizer: nossa dramaturgia acontece em movimento (não no papel). Quero dizer: nossa dramaturgia é escaleta de acontecimentos que precisam ser performados, que precisam de tentativa, lapidação e suor. Quero dizer: sendo assim, nada em nosso dramaturgia é tão certo, nada é tão fechado.
Nesta dramaturgia que aqui chamo do acontecimento, interessa-me sobretudo plantar problemas que possam vir a ser desdobrados via ação e afeto. A escritura acontece pelos corpos das atrizes e também pelo meu. No papel, apenas um fio a seguir.
O uso de rubricas pontua as mudanças de blocos, digamos assim. Quer dizer que em uma tentativa, há pequenos pedaços que formam o todo. Nestes pedaços, ouso sugerir escalonamentos, ou seja, cada bloco pode ser feito por uma atriz, ou dupla de atrizes. Em outros blocos todos estão em diálogo.
O mais interessante que conversamos no ensaio de hoje foi que toda a cena - toda a tentativa (mesmo quando “eu” não estou “em ação”) - pode me alimentar a explodir minhas ações físicas e textuais. Contracenação. Alimentamo-nos uns dos outros. Como dar corpo ao meu personagem?
Na postagem seguinte, disponibilizarei a descrição das personagens que alimentam o roteiro da peça e nosso imaginário. Por hoje é isso.
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