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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
MIRANDA para fechar o ano
Houve um último encontro INOMINAVEL do ano no dia doze de dezembro de 2011, na nossa sede, em Vila Isabel, na também casa do Diogo. Ele não acabou nunca, até agora, porque leio o meu presente e encontro MIRANDA bem aqui dentro onde menos (ou mais) podia imaginar.
Para transcrever esta passagem para o universo do espetáculo, substituo "livro" e todos os "verbos e artigos direcionados para a literatura" e, com a licença da autora, ficamos assim:
Se esta peça vier jamais a sair, que dela se afastem os profanos. Pois encenar é coisa sagrada onde os fiéis não tem entrada. Estar fazendo de propósito uma peça bem ruim para afastar os profanos que querem 'gostar'. Mas um pequeno grupo verá que esse 'gostar' é superficial e entrarão adentro do que verdadeiramente MIRANDA é, que não é 'ruim' nem é 'bom'.
(LISPECTOR, Clarice. Um sopro de vida. Presente de amigo-oculto de Natassia para Adassa. Rio de Janeiro, 2011)
Na Mostra de Teatro da UFRJ desse ano, encontrei um amigo de tempos, que me disse nossa, esses dias eu tava com uns amigos falando de como é incrível aquela peça de vocês, eu interrompi pois tínhamos acabado de estrear Sinfonia Sonho e disse Sinfonia! e ele não, a... vazio.
MIRANDA de fato nos trouxe um 'vazio' danado nesse ano, e eu agradeço a cada um que tanto a fez presente durante esse tempo em que não fizemos nem uma apresentação sequer. Eu nunca vi uma peça que sem aparecer ainda aparece na boca de pessoas imprevisíveis, inesperadas, inesgotáveis. Isso foi importante pra que ela (re)surja em 2012, com mais poder ainda para nos desesperar.
MIRANDA, você está muito bem aqui, no fim de um 2011 que precisou fazer jus ao vazio do seu nome, para acolher um novo ano em que você é o que não falta,
Com um amor que nem sei, inominável.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Poéticas Negativas
Estou começando uma Pesquisa dentro da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob orientação da professora Livia Flores (também orientadora deste espetáculo) e eis que o objeto de estudo será justamente VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA.
A pesquisa, a partir do nome “Poéticas Negativas” visa investigar a criação de uma cena (obra, texto, discurso, ação…) que vise seu próprio esfacelamento. De alguma forma, em linhas muito mal escritas, é assim como eu vejo o projeto. Mas, sem dúvida alguma, é mais que isso, é mais intrigante e também muito mais interessante.
Vou atualizar o blog escrevendo sobre o que estou desbravando junto a Livia. Por agora, apenas estas palavras. Parte delas. Mais uma vez.
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sábado, 17 de setembro de 2011
terça-feira, 28 de junho de 2011
quarta-feira, 22 de junho de 2011
domingo, 19 de junho de 2011
Saudosa Miranda,
Paramos de medir o tempo, pois a sua ausência aflora a cada segundo. Ou, assim temos percebido, a sua presença – travestida de adeus – persiste no correr dos dias, tornando a sua falta uma coisa tão precisa. Não há jeito. Acostumamos, por conta sua, a desconfiar de todo e qualquer pré-texto, e então, restamos agora ansiosos pelo jogo nosso com as coisas deste mundo. Ansiosos pelo jogo das coisas com nós mesmos que aqui estamos. O sentido, no final das contas, virou algo capaz de ser apenas quando em pele. E para isso é preciso o toque. Sem ele, não cessaremos o duvidar.
Nossa dúvida porém é toda cheia de cuidado e amor, viu? Não se desespere. Não é simplesmente invenção, a nossa dúvida é ardor, agitação do corpo para dar conta de. Não importa dizer. Tenho falado tanto de ti, aos outros, a mim mesmo, quase sempre eu lembro de tudo aquilo que vivemos juntos e, enfim, as palavras agora me fogem e eu resto impreciso especulando o que o corpo carrega adiante.
Você mudou muita coisa em minha vida, Miranda. Conferiu muito sentido quando todo o redor esteve cambaleante. Você fez a poesia nascer de onde nem sequer nasce uma lágrima. Você inverteu as possibilidades do certo e do errado, do bonito e do feio. Você me permitiu, querida Miranda, saber ser ser ao meio.
E eu agradeço. E eu escrevo-lhe essas palavras como formar de deixar aqui registrado: você não está distante, você não se foi, você está aqui e ao redor, você em nós existe como ser multiplicado. Sabe?
Nem precisa dizer. Sua ação me envolve e me faz crer. No quê? Não importa dizer. Dizer estraga (quase) tudo.
Do seu,
Diogo Liberano
Diogo Liberano
sábado, 18 de junho de 2011
terça-feira, 14 de junho de 2011
quinta-feira, 2 de junho de 2011
domingo, 29 de maio de 2011
é realmente uma tentativa...
PRIMEIRA TENTATIVA \\
Estamos Enterrando Godot
Estamos Enterrando Godot
Escuridão total. Perfurada por lampejos de uma luz fria e laboratorial que acende e revela quatro atrizes ao redor de uma mesa. A Atriz 2 ergue a cabeça, pega um livro sob sua cadeira e se dirige aos espectadores. Ela mostra o livro ESPERANDO GODOT de Samuel Beckett ao público. A Atriz 3 se ergue de sua cadeira, pega a cadeira da Atriz 2 e a posiciona atrás desta, que se senta, paciente. A Atriz 3 retorna a sua cadeira e retira de dentro dela uma máscara de cachorro. Ela coloca a máscara e se aproxima da Atriz 2, latindo.
ATRIZ 2 – (recolhendo o livro sobre o colo para folheá-lo e protegê-lo do cão) Xi! Xi! Um cão foi à cozinha roubar pão e chouriço. O chefe e um colherão deram-lhe fim e sumiço. Outros cães, tudo assistindo, o companheiro enterraram...
Ao ouvir a Atriz 2, a Atriz 3 ou o cachorro se enfeza e avança sobre o livro. A Atriz 2, para silenciar o cão, lança o livro ao chão sobre o qual o canino rosna violentamente.
As duas atrizes ainda ao redor da mesa se erguem de súbito e se assaltam, uma a outra.
ATRIZES 1 E 4 – Você, aqui, que bom que voltou. Pensei que tivesse partido para sempre.
ATRIZ 1 – Você, aqui...
ATRIZ 4 – Que bom que voltou.
ATRIZ 1 – Pensei que tivesse partido para sempre.
ATRIZ 4 – Estou contente.
ATRIZ 1 – Eu também.
ATRIZ 4 – Estamos contentes.
ATRIZ 1 – Estamos contentes. O que vamos fazer agora por estarmos contentes?
ATRIZ 2 – Enterrar Godot.
A Atriz 2 e o cachorro, ou Atriz 3, assumem luto pela morte de Godot, seja ele quem for. As outras duas fazem o mesmo e seguem à cadeira da Atriz 3, retirando dela algo que se passe por um animal de estimação: a Atriz 4 pega um gato de pelúcia e a Atriz 1, pega um porco de barro.
ATRIZ 1 – (acariciando o porco) Pode-se saber onde a senhora passou a noite?
ATRIZ 4 – (acariciando o gato) Logo ali.
ATRIZ 1 – Senti sua falta...
ATRIZ 4 – Eu também... E ao mesmo tempo estava contente. Não é engraçado?
ATRIZ 1 – Está vendo? Se sente pior quando estou aqui. Eu também, me sinto melhor sozinha.
ATRIZ 4 – Então por que sempre volta?
Sabe-se lá porquê, mas nesse instante a Atriz 1 esquece o texto. Sua memória falha e ela não consegue responder à Atriz 4. Constrangimento entre as atrizes e o cão. A Atriz 2, depois de certa indiferença, lembra a fala esquecida.
ATRIZ 2 – Tirando você, ninguém sofre. Eu não conto. Queria ver se estivesse no meu lugar, o que você diria.
Juntas, tentam dar uma melhor intenção à fala,
ATRIZ 1 e ATRIZ 2 - Tirando você, ninguém sofre. Eu não conto. Queria ver se estivesse no meu lugar, o que você diria.
...mas brigam, levando o cão ao desespero, que avança sobre a Atriz 1 e retira dela seu porco de estimação, que morre espatifado contra uma parede ao fundo do palco.
O diretor, que até então encontrava-se sentado num canto do palco, ergue-se agilmente e sai do palco, voltando logo em seguida com uma vassoura, com a qual varre os restos do suíno.
Silêncio pós-morte entre as atrizes. Não foi só o porco que morreu; a cena também. Elas se sentam novamente ao redor da mesa.
ATRIZ 3 – Estou contente.
ATRIZ 1 – Eu também.
ATRIZ 4 – Eu também.
ATRIZ 2 – Eu não. Que é que vamos fazer agora que enterramos Godot?
ATRIZ 1 – Esperar... Miranda.
ATRIZ 2 – Miranda?!...
ATRIZ 1 – Miranda!...
ATRIZ 4 – Miranda?...
ATRIZ 3 – Miranda: (ela abre o dicionário e lê, aleatoriamente, um verbete que possa significar “Miranda”).
ATRIZES – (forçando interesse ou não) Humm...
domingo, 24 de abril de 2011
Eu gostei do cachorro,
Ontem minha mãe e minha irmã, que assistiram MIRANDA no final do ano passado, estavam aqui dentro de casa rindo da peça. Elas estavam ligeiramente em dúvida se deveriam compartilhar comigo suas opiniões sobre a peça. Fiz com que ficassem à vontade para dizer tudo o que quisessem falar e foi assim que elas começaram a discorrer sobre o que sentiram. Para começar o nome, disse minha mãe, como é?, ATÉ TU, MIRANDA?. E eu disse, não mãe, o nome é mesmo difícil. E então ela seguiu falando que até hoje não sabe se aquilo que quebra e que me faz correr atrás de uma vassoura faz sentido, porque ela não sabe bem se aconteceu sem querer ou se era ensaiado. Ela não gostou, ela levou um susto. Ela disse que amou o cachorro e que ele é muito bem interpretado.
Vejam vocês. O sentido de fato não está conosco. MIRANDA permanece inerte brilhando dentro de uma constelação perdida. Eu quero tocar nela! Eu quero tocar novamente!
Eu acho que gostaria de assistir a um espetáculo que me fizesse sentir burro. Não burro por não saber, mas burro justamente por saber que nem tudo é preciso ser sabido. Certas coisas, são só susto, só arrepio. Só baba de cachorro sem nome que cai sobre a pele e ali fica, porque ali pode ficar. Feito mistério.
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Diogo Liberano
sexta-feira, 15 de abril de 2011
"Não entendo porque montar Esperando Godot na íntegra"
Mais material produzido em improvisações faladas, como costumamos dizer.
Justamente. Há uma pretensão do fazer teatral contemporâneo que é querer impor sobre uma dada obra uma nova leitura, como se a obra já não tivesse nela mesma uma visão de mundo. Nós, pelo contrário, nos permitimos assinar junto ao Beckett.
O importante para nós foi ressaltar o quanto o ser humano está fadado ao sofrimento. E o texto de Beckett nos fala disso, do homem enquanto mendigo, vagabundo, escravo de sua própria existência.
Angústia, crise existencial, sofrimento, solidão, dor, esfacelamento, vazio, vazio, vazio... Ainda é importante para vocês falar de tudo isso? Vocês ainda acham que tais assuntos sejam questões na contemporaneidade?
O texto original de Beckett é uma obra do pós-guerra, época em que a Europa – e o mundo – estavam destruídos. Como é que a encenação de vocês lida com esse referencial? Como vocês dão conta dessa questão histórica e extremamente fundadora da nossa civilização?
Fico comovido com a ousadia de se resgatar um teatro tão marcado historicamente, mas o fato é que o espetáculo de vocês não nos acrescente nada de novo. Ele se estagna de tal forma que se torna incoerente com o universo que a gente vive. Então, eu me pergunto: por que se estacionar em um tempo que não nos diz mais nada?
Vocês falam como se realmente o teatro tivesse essa função de resgatar memória, uma função de entregar preciosidades ao público de uma nova geração. Eu queria saber se vocês acham que é bom para quem assiste, receber um espetáculo que não diz absolutamente nada da nossa realidade. Eu digo, os tempos mudaram, estamos no início do século XXI, com outras questões, outros vislumbramentos...
A nossa montagem não se estaciona no tempo. Esperando Godot possui uma dramaturgia tão rica que é digna de prêmio Nobel e que fortifica e torna visível temas que ainda hoje são muito contemporâneos através de uma metáfora da condição humana. Dizer que a nossa montagem é ultrapassada é negar a vida de hoje da forma como ela se manifesta.
Não entendo porque montar Esperando Godot na íntegra. Com duas horas de duração em torno de uma coisa que todos nós sabemos que não vai levar a lugar algum... Vocês continuam esperando Godot?
terça-feira, 5 de abril de 2011
"eu me desagradei imensamente com o trabalho de vocês"
Seguindo o resgate de alguma produção dramatúrgica feita em ensaio, abaixo disponibilizamos mais material produzido num desses ensaios em que a improvisação é falada, ou seja, onde as atrizes, diretor e assistente ficam sentados e se perguntando, criando respostas, situações, abrindo temas e especulando a dramaturgia de Beckett, a nossa capacidade autoral e, sobretudo, a metalinguagem.
No programa de hoje estamos recebendo o elenco e o diretor do espetáculo Esperando Godot, obra máxima do dramaturgo irlandês Samuel Beckett. E eu não posso esconder por muito tempo porque que eu os convidei para estarem aqui. Veja bem, não é porque o espetáculo não me agradou que eu não vou trazê-los até aqui para conversar, para tentar entender... Eu acho que vocês esperavam ou já sabiam que eu me desagradei imensamente com o trabalho de vocês. Para começar, eu queria que um de vocês desse um rápido entendimento do que é esse espetáculo.
Esse espetáculo apresenta quatro personagens (Pozzo, Lucky, Vladimir e Estragon). Começa com Vladimir e Estragon esperando por Godot. São dois vagabundos, dois mendigos que estão na sarjeta, que são amigos, mas que por vezes se batem, se espancam, mas depois chegam os outros dois personagens, Pozzo e Lucky, um autoritário e o outro submisso. Eles interagem, conversam e acaba assim o primeiro ato e o segundo ato é a mesma coisa.
Bom, eu preciso pontuar que há um esforço em transformar essas quatro atrizes em quatro homens. Como foi isso?
Essa é uma parte do nosso processo que eu sou tremendamente encantada. Houve muita pesquisa sobre o comportamento masculino, são coisas que são próximas, o feminino e o masculino são a essência do nosso mundo. Nós temos caracterizadores extremamente competentes e que nos trazem uma composição que completaram a nossa pesquisa corporal. Os nossos traços femininos são completamente anulados. O nosso maquiador fez uma pesquisa em Bangkok e trouxe um material de lá que é uma massa que preenche algumas partes do nosso rosto e isso é completamente transformador para o espectador. A minha família, por exemplo, quando veio nos parabenizar pelo espetáculo, me confundiu com a outra atriz...
Quando eu digo que eu não gosto do espetáculo o que me parece é que vocês estão em 2010 executando de uma maneira impecável que é de outro tempo. É como se o espetáculo de vocês estivesse preso na década de 50, quando ele apareceu pela primeira vez...
Desculpa, eu queria ressaltar, antes do diretor pegar a palavra, que o seu posicionamento em não gostar do espetáculo reitera uma camada da nossa sociedade que não está apta a receber um espetáculo que é clássico, que é um ícone da história do nosso trabalho. É um espetáculo que resgata o que passou, resgata o que Beckett escreveu, eu sinto muito, mas acho muito deprimente essa sua postura...
Eu realmente não gosto. Tudo bem, é importante falar desse trabalho que já foi feito. Mas eu pergunto: quem vai falar do agora? Qual é o papel do artista se não dialogar com seu tempo? O texto de Beckett que vocês estão louvando foi uma obra escrita no fervor de uma época, eu queria saber, onde está o fervor de vocês? Não é no agora?
A gente tá em busca da ancestralidade de tudo isso. Na verdade, nós nos debruçamos sobre o texto a fim de fazer uma espécie de escavação arqueológica do teatro muito em função de um experimentalismo vazio, barato, superficial, onde tudo pode ser, onde tudo é comunicação... E neste projeto, há uma proposta de retorno...
É, me desculpa, mas isso não faz de vocês um teatro que não seja contemporâneo. Vocês fazem um teatro que é contemporâneo, mas ultrapassado.
Não é ultrapassado. Primeiro: estamos fazendo uma dramaturgia digna de prêmio Nobel. Isso é fundamental. As dramaturgias de hoje são muito chulas. E eu acho que nós temos que resgatar essas potências...
A palavra hoje em dia está sendo desrespeitada...
Todo mundo fala ao mesmo tempo...
Com certeza, como você vai?...
Eu sou o diretor, deixa eu continuar...
Joga fora a palavra...
Por favor, Helena!
Desculpa...
A metáfora dessa obra é extremamente fundamental para os dias de hoje. As pessoas precisam disso porque hoje tudo é artificial. E eu acho que um espetáculo que resgata e ainda faz valer questões de hoje com uma potência, as pessoas precisam conhecê-lo...
Eu compreendo, mas é porque eu não acho que o espetáculo de vocês resgata alguma coisa. É nítido que o trabalho é rico, mas é também nítido como o trabalho de vocês não me diz absolutamente nada, é um trabalho preso numa época que eu não sei qual é, algo que não comunica, que não chega, que não bate...
Não, desculpa. Eu acho que você está completamente presa aos dias de hoje. Você está presa a essa vivência agora, nesse momento. A gente não pode viver apenas o hoje. Temos que viver o ontem. Passado é memória é vida é história.
O teatro é feito do quê? De um texto dramatúrgico, dos atores que interpretam personagens que foram escritos pelo dramaturgo e de um diretor que orienta na construção da montagem. Então assim, eu não entendo quando você fala que um espetáculo não chega porque tudo o que o teatro é nós estamos oferecendo: texto, ator e diretor. Ele é isso há muito tempo.
Hoje em dia é muito fácil pegar um texto clássico e destruir ele todo.
É muito fácil.
Muito fácil.
Enfim... Eu agradeço que vocês tenham vindo.
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quinta-feira, 31 de março de 2011
"as condições propícias para uma mudança de posição na sociedade"
Estas postagens reproduzem improvisações feitas com elenco, diretor e assistente de direção. São tentativas que acabaram, em seguida, editadas e viraram uma cena do espetáculo. Abaixo, mais algumas experimentações.
Nós temos aqui o diretor e as atrizes, do espetáculo Esperando Godot. Eu gostaria de começar por uma pergunta: como é esse seu personagem, o Estragon?
O Estragon é muito querido, mas que infelizmente não possui as condições propícias para uma mudança de posição na sociedade.
Como é que você lida com essa relação diretor/atriz com uma atriz que não está satisfeita com o personagem que lhe foi dado?
Bom. Na verdade, trabalhar com esse elenco de atrizes é uma surpresa a cada dia. Elas passam por momentos em que estão contentes e outros em que estão muito satisfeitas. O que a gente encontrou para pudesse guiá-las é um personagem. Então, eu não me relaciono com as atrizes. Eu me relaciono com os personagens. Nesse sentido, eu me dou muito bem com o Vladimir e o Estragon. E os outros personagens aparecem pouco, é tranqüilo, porque o relacionamento com eles é dosado. Com Vladimir e Estragon é um pouco difícil, às vezes, porque eles têm uma vida muito sofrida. E o nosso espetáculo está aqui para mostrar isso mesmo, essa vida como ela é.
Eu queria dizer que eu não estou insatisfeita com meu personagem.
Existem dois personagens que são secundários e nós somos muito bem resolvidos. Eu não tenho nenhum ressentimento em relação a isso, porque o meu trabalho foi muito incrível. O Pozzo, meu personagem, é um ditador. Quando eu preciso entrar fundo nele, eu acabo muito mexida, é pesado, é uma coisa que a gente não tem muito contato todos os dias. Graças a Deus eu entro nele só de vez em quando.
E sobre a outra atriz, a que interpreta o Lucky, porque ela não veio?
...
A gente precisa de um acompanhamento psicológico, porque realmente a relação entre esses personagens é muito dura, é muito pesada e é uma coisa que nos tira do nosso lugar.
E você, diretor? Fala um pouco mais dessa relação muito autoritária da sua parte já que nós sabemos que você veio de uma escola que te treinou para isso.
Bom, eu tive uma educação espartana nesse sentido. Eu estudei numa escola que me formou como diretor teatral e não como recreador de elenco ou animador de festa. E sendo diretor, eu tenho que coordenar tudo isso e dar ordem, porque eu realmente tô no topo dessa hierarquia, então por vezes eu tenho que usar de força para isso. A relação que eu tenho com o elenco é nesse lugar, elas têm respeito por mim e eu por elas, mas por vezes eu preciso intervir para que o barco não afunde. Eu costumo dizer isso, é uma metáfora muito boa de uma peça de teatro, porque nós estamos em alto-mar, num lugar muito instável, e não se pode ceder, porque se uma cede o peso se balanceia e o barco afunda. De qualquer forma está sendo uma experiência muito incrível, sobretudo porque as atrizes se permitiram ser esses personagens e não interpretarem.
A visceralidade em Beckett é muito importante, porque sem ela esses personagens soam supérfluos, vazios, e eles não são isso. Eles são um extrato da condição humana de uma forma que poucos escritores e dramaturgos conseguiram alcançar. De fato, as atrizes ficaram um dia inteiro, pegando sol e chuva, paradas em pontos espalhados pelo Rio de Janeiro, à espera de Godot. Beckett escreve personagens desprovidos de razão, perdidos, eles são quase animais. Por isso fizemos residências com cachorros, gatos, pombos, porcos, cachorros e pombos, tudo para buscar uma corporeidade animalesca aos personagens.
Eu gostaria de retificar uma coisa. Eu como atriz me sinto muito revoltada quando falam que o nosso espetáculo é absurdo, mas não é, é realidade! Se a realidade é um absurdo, tudo bem... Mas tratar a gente como absurdo eu já não gosto, eu me sinto revoltada.
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quarta-feira, 30 de março de 2011
Improvisação Falada
Palavras escritas em ensaios passados. Não levem nada tão a sério.
Como é montar Esperando Godot nos dias de hoje? Já que tratar da espera, dessa incerteza de lugar, desses personagens que, desses vagabundos, desses miseráveis, o que vocês acham que move essa espera de Godot?
Os personagens se revoltaram contra o sistema capitalista e não entraram na máquina. Então, para mim, hoje, fazer Esperando Godot é me colocar fora desse sistema e tentar descobrir o que é que organicamente isso me traz.
Lucky e Pozzo. Como se avalia uma relação de escravo e senhor nos dias de hoje?
Eu acho que não existe uma distinção entre os dias de ontem e o de hoje. Essa peça, Esperando Godot, continua a mesma. A gente tem que ter muito respeito a essa obra pela forma como ela foi feita. A nossa montagem é clássica e a relação Pozzo/Lucky é a relação que Beckett coloca em Esperando Godot.
A gente fez uma pesquisa, né? Lemos outras obras de Beckett. E eu acho que reproduzir uma obra de 1949 em 2010, ela é muito atual. Hoje em dia a gente vê essa relação de mandante e mandado. A gente se identifica muito e entramos numa pesquisa profunda sobre as relações entre as personagens assim como Beckett escreve.
Assim, pensando que os personagens, os vagabundos, estão fora de um sistema capitalista que começa a aquecer as turbinas após a segunda guerra. A gente chegou a essa conclusão, a de que Pozzo e Lucky estão tentando entrar nesse sistema, tentando se adequar a ele.
Como você acha que é para o público, já que se trata de um espetáculo grande, com dois atos, cerca de duas horas de duração?
Sem dúvida é um pouco estafante duas horas de espetáculo. Mas nós procuramos encontrar aquilo que a gente chama de alívio cômico, que são alguns jogos entre os personagens, algumas brincadeiras que o próprio Beckett propõe, números de palhaço, gags que ele propõe, que entram no decorrer do espetáculo e causam um certo alívio no drama que esses personagens estão vivendo. Porque eles estão vivendo um drama, eles estão ali esperando uma coisa que eles sabem que não vem... É uma espera que está meio viciada. É muito atual, porque ainda estamos esperando, desde a época em que a obra foi escrita... A duração do espetáculo existe nesse tamanho para nos dar a dimensão dessa espera, enquanto os números cômicos proporcionam certa fruição ao espectador.
Como que vocês articularam a decrepitude que passa a tomar os personagens a partir do segundo ato? Um fica cego, outro mudo, de que forma vocês lidam com isso?
É. Da forma como Beckett escreve na peça dele, Esperando Godot. A gente lida da forma como ele colocou.
A gente fez um laboratório no Instituto Benjamin Constant e também no Instituto de Surdos e Mudos de Laranjeiras.
É, porque eu acho fundamental a gente resgatar o que há de fato humano, né? O ser humano passa por isso, fica cego, fica mudo e a gente teve a oportunidade de ter esse contato. Eu fico realmente feliz, porque a minha experiência foi encantadora. É realmente um resgate da humanidade, o meu personagem está cego, de fato. Que é uma coisa que a gente nem vê tanto hoje em dia nos espetáculos que estão por ai.
Beckett escreveu esse espetáculo para quatro homens e nós somos quatro mulheres. Vocês podem achar isso estranho, mas o diretor teve o cuidado de chamar quatro mulheres homossexuais. Isso foi muito importante. Nós temos a nossa parte masculina muito aflorada.
É interessante a gente conseguir colocar em cena realmente a nossa masculinidade castrada.
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domingo, 27 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Recado Encontrado
Achei essa confissão ao filho dono deste espaço:
Dos filhos é o mais ousado
o que dá mais trabalho
o que me impede de dormir
De todos eles é o que dá mais trabalho
sempre tudo é pouco
sempre muito é quase nada
Por isso, hoje, filho meu
eu te abro ao mundo
te corto e revelo sua cara
para que não me consuma tanto assim
e se entretenha
com os outros
que mirarem seu rosto
e rirem da sua cara.
Conseguirás aguentar?
O desafio é todo seu.
Mas saiba:
te amo,
caso isso ajude em alguma coisa, saiba:
te amo com a força
ainda sequer inventada.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Para os nossos dois caras,
Depois que vi esse clipe, não consegui parar de pensar em Flávia e Helena. Divirtam-se!
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