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terça-feira, 6 de abril de 2010

Parte 1 - Introdução

Fiquei responsável de escrever sobre as proporcionalidades que adentram na obra “Esperando Godot” de Beckett. No aspecto superficial existe uma estrutura circular bastante rígida marcada por um tipo de clausura espaço-temporal. Os protagonistas têm uma estrada à frente, mas são incapazes de segui-la permanecendo imóveis pelo caminho. E é esse o ponto de partida da minha escrita: os personagens são os grandes responsáveis pela repetição, pois são incapazes de se localizarem dentro de uma linha temporal coerente. Eles repetem as situações, as discussões passadas, cometem os mesmos equívocos, fazem e respondem as mesmas perguntas, pois há a necessidade de reafirmação o tempo todo.
Esta disposição faz com que os personagens sejam compostos em pares, pois há uma forte relação de dependência entre eles até porque seus temperamentos são complementares. No caso de Lucky e Pozzo, o fator “posição social” é bastante determinante. Os personagens ameaçam separar-se constantemente, mas acabam ficando juntos. Estragon compõe Vladimir e vice versa, a mesma coisa acontece com Pozzo e Lucky. Estas duas duplas possuem o mesmo número de letras no nome, sustentando a necessidade, mais uma vez, de reafirmar. Essa estrutura permeia a dramaturgia beckettiana.
Tanto Vladimir e Estragon, como Hamm e Clov (de “Fim de Jogo”) e Willie e Winne (de “Dias Felizes”) vivem numa espera interminável, seja por Godot, pelo fim ou por um simples tocar de sino. “Nada a fazer”, “Está acabado”, “Outro dia divino” conduzem seus personagens a uma espera absurda em uma situação-limite. Eles estão presos ao palco.
Os personagens vão se fragmentando e se multiplicando durante a espera. Vladimir, Estragon, Lucky e Pozzo vão diluindo-se e potencializando-se em cada cena, revogando a estrutura aparente até então estabelecida. O dia altera a noite, o primeiro ato desdobra-se com o segundo e os personagens tornam-se multidimensionais.
Começo então a minha pesquisa sobre as proporcionalidades.